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CULTURA

Dia do Livro Infantil: 5 títulos para fugir dos clichês

Títulos apostam na diversidade e protagonismo de minorias representativas.

Publicado em 18/04/2022 às 16:25 | Atualizado em 18/04/2022 às 16:46


                                        
                                            Dia do Livro Infantil: 5 títulos para fugir dos clichês

Os clássicos infantis e os bestsellers são “figurinhas repetidas” em diversas listas que trazem livros infantojuvenis. Além disso, o padrão utilizado no ensino básico carece de diversidade, podando a escolha dos alunos.

No Dia do Livro Infantil, esta segunda-feira (18),  o JORNAL DA PARAÍBA selecionou cinco títulos infantojuvenis para fugir desses clichês. São livros que estão fora dos padrões tradicionalmente encontrados nas prateleiras das escolas e também apostam em protagonismo de grupos que são minorias representativas.


				
					Dia do Livro Infantil: 5 títulos para fugir dos clichês

1.‘Todos Devemos ser Feministas’ (versão infantil), por Chimamanda Ngozi Adichie

Para abrir a lista, o único título estrangeiro entre os cinco. Isso porque ‘Todos Devemos ser Feministas’, de Chimamanda Ngozi Adichie, aborda um assunto que precisa ser discutido constantemente. No livro, a escritora nigeriana convida os leitores a refletir sobre o significado de ser feminista no século 21.

‘Todos Devemos ser Feministas’ também começa a lista porque dá o tom dos títulos elencados aqui. Além disso, pisa de vez em um terreno que, infelizmente, é pantanoso nesta época de extremos e em que o conservadorismo vem se tornando cada vez mais forte. Nesse cenário, a autora é uma voz para as novas gerações e traz em suas discussões a importância dos direitos humanos e da igualdade de gênero.

O título tem origem em sua palestra ‘Todos Devemos Ser Feministas’, que virou livro em 2014. Recentemente, foi adaptado para uma edição ilustrada, direcionada ao público mais jovem, publicada em 2020.


				
					Dia do Livro Infantil: 5 títulos para fugir dos clichês

2.‘O Pequeno Príncipe Preto’, por Rodrigo França

Quando se trata de protagonismo negro, ‘O Pequeno Príncipe Preto’, de 2020, é excelente para aumentar o repertório de crianças e adolescentes. Uma referência evidente ao clássico de Antoine de Saint-Exupéry, o livro do brasileiro Rodrigo França reforça a identidade e a representatividade de pessoas negras.

‘ O Pequeno Príncipe Preto’ transforma o espetáculo de teatro homônimo em um livro de contos. A peça infantil foi dirigida por Rodrigo e ficou em cartaz por cerca de dois anos, levando mais de 60 mil espectadores em todo o país para os teatros. O livro conta a história do Pequeno Príncipe Preto, que vive em um minúsculo planeta.  Ele viaja por diferentes lugares, espalhando o amor e a empatia. 

>> Bisneta de Monteiro Lobato fala da exclusão de termos racistas da obra do escritor


				
					Dia do Livro Infantil: 5 títulos para fugir dos clichês

3.‘O Mistério no Galinheiro’, por Naldinho Braga

O paraibano da lista é Naldinho Braga, natural de Cajazeiras, que traz o livro infantil ‘O Mistério no Galinheiro’, publicado em 2019. O título conta a misteriosa história do desaparecimento de ovos de um galinheiro, em um sítio da zona rural de São José de Piranhas, no sertão da Paraíba. No começo, as suspeitas estão sobre o Camaleão, pois a Coruja de plantão viu um lagarto verde entrando e saindo do galinheiro. O bicho é expulso do sítio por causa da acusação. Mais tarde, no entanto, os ovos continuam a desaparecer dos ninhos das galinhas. O mistério está montado.

No título, Naldinho explica que quis “mostrar a importância do não pré-julgamento, a importância do respeito ao próximo, da convivência em grupo e a importância de reconhecer o erro, de pedir desculpa e de perdoar”.

Além disso, o escritor revela que a possibilidade de levar animais regionais para a literatura o motivou a escrever o livro. Ele explica que sempre questionou a ênfase que é dada a bichos que não fazem parte da nossa fauna, como os animais da savana africana. “As crianças muitas vezes ficam com essa referência e crescem sem saber o que é um peba, um emboá, um teiú, por exemplo”, explica.  

‘O Mistério no Galinheiro’ tem ilustrações da também cajazeirense Ingrid Stephane de Oliveira. Em maio deste ano, Naldinho vai lançar o segundo livro infantil, intitulado ‘O Galo Que Queria Ser Cantor’. A história se passa no mesmo sítio de ‘O Mistério no Galinheiro’, chamado de Sítio Cacimbas. 


				
					Dia do Livro Infantil: 5 títulos para fugir dos clichês

4.‘Menina Nicinha’, por Evelyn Sacramento

‘Menina Nicinha’ é o livro de estreia da baiana Evelyn Sacramento. A história do livro começa no Recôncavo da Bahia, onde nasce a personagem principal, a pequena Nicinha. Na história, Nicinha se aventura para levar o samba para dentro de casa. Isso porque elase incomoda com o fato da reza de sua casa não terminar em samba, como era comum na vizinhança, e se junta à irmã para organizar uma surpresa para a sua mãe.

A protagonista já foge dos modelos de personagens que são padrões na literatura quando aparece, como descreve a autora, “negra, gordinha e com o cabelo crespo volumoso”. Além disso, Evelyn explica que quando começou a desenvolver a história, ela queria falar sobre uma menina empoderada. “Fugindo de clichês de histórias infantis, que ovacionam narrativas irreais de príncipes e princesas que precisam ser salvas, heróis e heroínas, ou histórias que se passam em grandes centros urbanos”, completa Evelyn.

A escritora também se preocupa em mostrar o regionalismo. Ela diz que o objetivo era contar uma história real, de pessoas próximas. Por isso, Evelyn explica que reúne em Nicinha “as características das meninas e mulheres que estão aqui ao meu redor, nas ruas de minha cidade, contando uma história que é minha e de minha família”.


				
					Dia do Livro Infantil: 5 títulos para fugir dos clichês

5.‘Conectadas’, por Clara Alves

‘Conectadas’ é um título que respira atualidade. Isso porque o livro conta a história de Raíssa e Ayla, personagens que estão imersas em um universo de cultura pop, que envolve cosplay e jogos eletrônicos, quando a internet é uma constante e os relacionamentos virtuais são um fato. E Clara representa isso com conhecimento de causa. Isso porque a escritora é uma internauta inveterada e acompanhou como a internet trouxe novas configurações para a vida dos jovens.

Clara escreveu seu primeiro livro aos 8 anos, mas começou a levar o sonho mais a sério aos 14, quando mergulhou nos fóruns de escrita do Orkut. Naturalmente, ‘Conectadas’ não poderia deixar de abordar as relações que nasceram no mundo digital. Da lista, ‘Conectadas’ é o livro mais voltado ao público adolescente e traz questões de gênero e sexualidade.

Na história, Raíssa e Ayla se conhecem no jogo virtual Feéricos. A partir disso, elas começam a desenvolver um relacionamento online. Ayla sente que finalmente pode ser ela mesma e Raíssa encontra na outra uma grande conexão. Só tem um detalhe: as duas nunca se viram pessoalmente e Raíssa joga com um avatar masculino, então Ayla não sabe que está conversando com uma menina.

“A literatura, para mim, sempre teve um papel de refúgio”, diz a autora. Clara explica que durante muitos momentos de sua adolescência, a literatura funcionou como um porto-seguro, por isso ela acredita que essa é uma das funções da literatura infantojuvenil. Ela explica que isso moldou a forma que ela escreve. E isso tem a ver com o motivo que ela tem para escrever para o público jovem

Isso porque quando era adolescente, sentiu falta de histórias com as quais ela se identificasse. Não havia muito protagonismo de pessoas que não se encaixavam no padrão heteronormativo. “Eu não tive essa oportunidade, quando era jovem, de encontrar esses personagens e lidar com essas questões antes. Principalmente, quando a gente fala de sexualidade monodissidentes — pessoas que gostam de mais de um gênero —, é muito difícil a gente se identificar quando uma ‘parte de nós’ ainda está dentro daquele padrão”, diz Clara.

Por isso, ela encontrou na escrita uma forma de levar essa discussão para adolescentes que precisam dessa representatividade. Clara Alves ainda lembra que não há idade para tratar de questões de gênero e sexualidade. “A gente vive numa sociedade muito conservadora. É claro que entram muitas questões relacionadas a pai e mãe, escola, professores e governo. Mas, quanto mais cedo a gente tratar desses assuntos, com mais naturalidade as pessoas vão tratar disso”, esclarece.

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Felipe Lima

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