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CULTURA

'Dom Quixote' italiano ganha tradução direta

'Os Noivos', de Alessandro Manzoni, sai pela Nova Alexandria.

Publicado em 23/09/2012 às 16:00

Até este ano, quem quisesse conhecer Os Noivos (1840), romance que inaugurou a tradição do romance moderno na Itália, tinha uma alternativa pouco tentadora: brigar com os ácaros dos sebos pela tradução de Marina Guaspari para a sua edição mais popular no Brasil, publicada em uma daquelas coleções de clássicos da Abril em meados do século passado.

Os prospectos para os leitores eram os piores possíveis: Luígi Castagnola, da Universidade Federal do Paraná, narrando o seu contato com esta tradução para um estudo sobre publicações do autor Alessandro Manzoni no Brasil, descreve-a, citando Giovanni Papini, como "um espetáculo tal de arrancar lágrimas de um olho de porcelana".

A agonia finalmente acabou: a Nova Alexandria, que está se especializando na edição de clássicos dentro do calendário do Momento Itália-Brasil 2011/2012, acaba de lançar a tradução integral do texto de Manzoni, diretamente do italiano, por Francisco Degani, mestre em Letras e Literatura Italiana pela Universidade de São Paulo. Como delicioso sobejo, o pequeno tijolo rubro traz ainda a tradução de A História da Coluna Infame, publicada em 1832.

A aguardada tradução põe termo a uma história antiga, que remonta o período do Ministro Jarbas Passarinho como Ministro da Educação (à época, Educação e Cultura). Assinada em 5 de outubro de 1972, uma portaria manifestava o apreço de Passarinho pela literatura de Manzoni e oficializava, no primeiro centenário da morte do romancista, a criação de uma comissão encarregada de produzir uma edição bilíngue do livro e um volume de ensaios.

Os ensaios chegaram às estantes, o livro, entretanto, nunca foi levado a cabo. Segundo Castagnola, até Dom Pedro II foi um eventual tradutor de Manzoni, nacionalizando a famosa ode 'Il Cinque Maggio' ('Cinco de Maio'), do também poeta milanês.

Os Noivos se passa no norte da Itália entre os anos de 1628 e 1630, quando a região estava sob o jugo espanhol e sofria as agruras da peste bubônica. Pela temática, aproxima-se de outro romance de igual repercussão histórica: o Decamerão (1348-1353), de Boccaccio.

Alessandro Manzoni, que após a publicação da obra foi nomeado senador e presidiu a Comissão para a Unificação da Língua Italiana, é considerado o segundo reformista do idioma, precedido por Dante Aliguieri que oficializou o dialeto toscano como língua padrão com a sua Divina Comédia (século 14).

A atual capa reproduz parte da original, curada pelo próprio autor, e as belas ilustrações do miolo são do pintor italiano Francesco Gonin. Uma obra que vai demorar a se esgotar por sua inegável importância histórica.

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Jornal da Paraíba

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