CULTURA
Drama sobre o tempo e memória
Treze anos depois da sua morte, a numerosa herança deixada para a Paraíba estava fadada ao mofo, ferrugem e traças.
Publicado em 27/05/2012 às 8:00
“O cinema com base de celuloide é eterno”, chegou a declarar na sua última entrevista Machado Bittencourt (1942-1999), manuseando um rolo de filme do seu acervo. “Isso aqui não desaparece, não. Isso aqui você enterra, mas ele fica.”
Treze anos depois da sua morte, a numerosa herança deixada para a Paraíba, terra que o acolheu desde quando deixou o pequeno município piauiense de Pirancuruca, estava condicionada a entrar no mundo da entropia regido pelo mofo, ferrugem e as traças.
“O tempo destrói tudo”, julga a viúva Célia Bittencourt, que continuou a luta de preservar o material após a morte do marido.
“Mas agora estou acreditando, cheia de esperança. Machado merece isso.”
No final de dezembro do ano passado, na sede da Academia Paraibana de Cinema (APC), a professora Marlene Alves Luna, reitora da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), assinou um protocolo de intenção para aquisição do patrimônio do cineasta.
“A UEPB mandou fazer um levantamento de todo o acervo até o final do mês”, informa Chico Pereira, que representa a família de Machado em uma comissão formada pelo professor Rômulo Azevedo, representando a universidade, e o fotógrafo Gustavo Moura, representando a classe artística. “Uma equipe fará uma avaliação desse acervo a partir desse levantamento que estamos fazendo agora. Infelizmente, os trâmites ficaram parados devido à greve de funcionários da universidade, que já dura mais de dois meses.”
'COMPROMISSO MORAL'
“Entre super-8, 35mm e 16mm são mais de 500 itens”, contabiliza o amigo e produtor audiovisual Elinaldo Rodrigues, que está fazendo o novo levantamento. “São comerciais, filmes para campanha política, reportagens e as principais obras dele. Entre fotografias, negativos, slides e cromos são de 150 a 180 mil."
Em 2010, Rodrigues estava à frente de O Cinema de Machado Bittencourt, DVD duplo que contém clássicos do realizador como Maria Coragem (1977) e O Caso de Carlota (1981).
Para Elinaldo, quando concretizar a aquisição do patrimônio pela UEPB, será um "compromisso moral" da instituição a preservação e difusão desse material.
“Lutei muito e briguei com muita, muita gente”, enfatiza Célia. “Essa luta só acaba quando eu morrer. Enquanto viver, vou atrás porque é uma promessa que fiz pra ele, no seu leito de morte.
'Confio em você', Machado me disse.”
No término de sua vida, Bittencourt não viu o final deste filme, mas parece que agora haverá um ‘final feliz’ nesse drama sobre o tempo e a memória.
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