CULTURA
'Dunkirk': Nolan tenta reinventar gênero com filme sobre 2ª Guerra Mundial
Longa revela ambição de escapar de clichês e elementos comuns aos filmes de guerra.
Publicado em 26/02/2018 às 7:00 | Atualizado em 07/03/2018 às 17:31
DUNKIRK (EUA, Reino Unido, França, Holanda, 2017, 106 min.)
Direção: Christopher Nolan
Elenco: Fionn Whitehead, Tom Glynn-Carney, Jack Lowden, Harry Styles, Tom Hardy, Kenneth Branagh
★★★★☆
Filmes de guerra são pontuados por clichês já esperados pelo público: explosões, sangue, um herói que (literalmente) salva a pátria no último minuto, cenas frenéticas e ação quase constante. Dunkirk (Dunkirk, 2017), escrito e dirigido por Christopher Nolan (Interestelar, A origem), concorre ao prêmio de Melhor Filme no Oscar 2018 e é uma tentativa de se destacar em meio a centenas de filmes do gênero, procurando escapar de marcas exaustivamente exploradas em obras como Platoon (1986), O resgate do soldado Ryan (1998) e Pearl Harbor (2001).
A narrativa se passa durante a evacuação - historicamente conhecida como Operação Dínamo - das tropas Aliadas na litorânea cidade francesa de Dunquerque durante a Segunda Guerra Mundial. Encurralados entre o exército alemão e o mar, mais de 400.000 soldados britânicos e franceses aguardam ajuda militar e civil para escapar da cidade. O longa retrata os esforços da operação em terra, no ar e no oceano.
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Ao invés de escolher um único herói para ser o objeto da empatia imediata do espectador, Nolan decide contar sua história principalmente (mas não apenas) pelo ponto de vista de três personagens distintos: Tommy (Fionn Whitehead), um soldado britânico; Peter (Tom Glynn-Carney), filho de um civil que atendeu ao pedido do governo britânico para ajudar no resgate em Dunquerque; e Farrier (Tom Hardy), piloto da Força Aérea Real.
As narrativas de cada um vão lentamente convergindo para um único ponto, e o diretor faz uso da montagem paralela - acontecimentos relacionados e mais ou menos simultâneos que são exibidos de forma intercalada - para provocar tensão e envolver o espectador. Em certo ponto, é necessário juntar as peças do filme e reorganizar a sucessão de eventos, o que é bem-vindo em um gênero habitualmente relacionado a histórias simples, sem grandes desvios narrativos e que apelam ao aspecto emocional do público.
Os personagens e eventos são retratados em planos abertos, longos e quase tranquilizantes que evidenciam a vastidão, a solidão e o desolamento da guerra e vão de encontro ao caos, ao exagero de efeitos visuais e ao ritmo alucinatório comuns aos filmes de guerra produzidos por Hollywood. O efeito de distanciamento é reforçado pela bela e contida trilha sonora composta por Hans Zimmer.
Tais escolhas evidenciam a ambição de Nolan de, se não reinventar, ao menos abordar o gênero sob uma ótica distinta: não há, no filme, membros amputados, gritos, mães e esposas desesperadas, lágrimas incontidas, banhos de sangue ou cenas grandiosas envolvendo exércitos intermináveis. É quase como se o diretor desse deliberadamente "um passo atrás" para contar sua história de forma menos passional e mais distanciada e contemplativa.
Essa abordagem poderia, se não conduzida corretamente, resultar em uma obra apática e esquecível. Mas o sucesso de Dunkirk reside justamente em lançar um novo olhar sobre um gênero tão cristalizado (e, por muitas vezes, emocionalmente apelativo) ao mesmo tempo em que mantém a capacidade de criar empatia no espectador e fazê-lo importar-se com o destino de suas personagens. Apesar de não ser exatamente um divisor de águas, o longa é uma releitura necessária e um sopro de vida em tempos de uma Hollywood povoada por remakes, franquias e blockbusters.
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