CULTURA
DVD se curva ao Sade sound
Gravado no Canadá, DVD 'Bring Me Home' é o terceiro registro oficial de show da cantora nigeriana Sade.
Publicado em 10/07/2012 às 6:00
Com quase 30 anos de carreira, Sade lança o seu terceiro registro oficial de show, o DVD Bring Me Home - Live 2011 (Sony Music, R$ 50,00, em média). Gravado no Canadá, durante a turnê de divulgação de seu mais recente disco de estúdio, Soldier of Love (2010), o grupo repassa em 22 faixas sua bem sucedida trajetória, iniciada em 1984. Nas imagens captadas em alta definição, Sade - nome da intérprete e compositora nigeriana, assim como do coletivo musical - esbanja com o charme habitual a sua finesse artística.
Quem conhece o "Sade sound" não vai se decepcionar: estão lá as delicadas baladas soul, de acento jazzístico aqui e toque latino ali, cantadas em tom confessional. Quase sempre, elas falam sobre as fofuras do amor ou de suas bordas cortantes e pontiagudas (a palavra "love" está, de cara, em seis títulos de canções). O público do show, e do resto do planeta, se identifica sem esforço com as personagens incorporadas por Sade e a memória afetiva de suas canções.
No DVD anterior, Lovers Live (2002), os gêmeos Mark e Michael Polish, que dirigiram as gravações, exploraram sem pudor as reações do plateia. Cada música vinha acompanhada de casais eufóricos que se abraçavam ou closes em rostos vincados por lágrimas.
No DVD atual, a inglesa Sophie Muller, que dirigiu a gravação e a concepção do espetáculo, deixou essa interação de lado e optou por uma abordagem mais teatral, ancorada no uso dramático da luz e em gigantescas projeções em telas.
O efeito resulta em maior impacto cênico e ajuda a imersão do espectador no clima predominantemente romântico e nostálgico das canções. Num palco sem adornos, Sade reina com sua voz sexy e aveludada; domina cada nota, demarca cada movimento e nuance interpretativa. Usa o figurino para valorizar o seu corpo bem torneado e para explorar a dicotomia frágil/forte de sua feminilidade.
A banda de oito componentes se garante na cama sonora do trio inaugural, Stuart Matthewman (guitarra e sax), Andrew Hale (teclados) e Paul Denman (baixo). Precisos, eles mantêm ao vivo o frescor da instrumentação refinada, ora esparsa ora mais densamente harmônica, já bem conhecida nos CDs.
Sabiamente, alternando antigos sucessos - como ‘Smooth operator’, ‘Cherish the day’ e ‘No ordinary love’ - com a safra mais recente, puxada por ‘Soldier of love’ e ‘The moon and the sky’ - Sade em nenhum momento deixa o show perder interesse,mesmo quando entra em canções mais sombrias como a tocante ‘Pearls’.
Nessa faixa, que fala de uma mãe que cata grãos de arroz no chão (as "pérolas" do título) para alimentar a filha faminta sob o sol da Somália, a diretora dá um show de sutileza ao manter durante todo o tempo o enquadramento distante do palco. Com a cantora diminuta ao centro, o telão atrás dela expõe um imenso sol que se metamorfoseia até acabar numa explosão.
Do visual europeu clássico no início do show, com cabelos presos, saltos e roupa preta colada ao corpo, ao final "latino" de pés descalços, penteado solto e relevos mais à mostra, a filha de pai nigeriano com mãe inglesa segue fazendo um som que tem no balanço sutil do "rigor" com o "calor" sua assinatura musical mais notória.
Os extras também trazem interesse: uma colagem de cenas que revelam os bastidores dos shows, o ritual de preparação da cantora e a camaradagem entre os membros da trupe. Destaque para a sequência em que três auxiliares de palco improvisam situações hilárias a cada show para evitar que Sade bata no corrimão de uma escada de acesso.
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