CULTURA
Entre o banal e o onírico
Projeto 'Arte na Empresa' traz exposição do artista Carlos Djalma; mostra com dez pinturas fica em cartaz até o dia 28.
Publicado em 05/02/2014 às 6:00 | Atualizado em 20/06/2023 às 11:59
Carlos Djalma quer frear o mundo. "O que eu busco hoje em dia, independente de qualquer coisa, é ficar de fora deste tempo maluco que todo mundo está vivendo", declara o artista, nome da vez do projeto Arte na Empresa, no Hall de Exposições Energisa (na BR 230, em João Pessoa).
Em cartaz até o dia 28, a exposição individual traz dez pinturas em óleo sobre tela que são instantâneos de um cotidiano transformado por um pincel que transita por dois universos: o real e o onírico.
"Eu costumo dizer que o meu trabalho se situa em uma linha entre estas duas extremidades. Para mim, é um desafio me aproximar da realidade de forma a dar ao mesmo tempo uma impressão de minha época e uma dimensão pictórica fora do banal."
Trabalho que começou há mais de uma década, quando Djalma dedicou uma série de pinturas ao extinto Lixão do Róger. A incursão precedeu um marco em sua trajetória profissional: a viagem à Itália, no ano 2000, depois da parceria com Clóvis Jr. na exposição Dois Artistas, Dois Tempos, que estreou na cidade de Milão. "Eu me inscrevi na Academia de Belas Artes de Bolonha e dei continuidade à pesquisa do realismo, pintando cenas do lugar onde eu estava."
De volta à Paraíba, o artista que descobriu o talento depois que se mudou do bairro de Cruz das Armas para Tambaú (onde foi vizinho do colega Miguel dos Santos) consolidou seus quase 40 anos de carreira com uma arte que flerta com a fotografia, ainda que para se contrapor a ela. "Eu não sou fotógrafo nem nunca fiz fotografia. Eu quero justamente o contrário deste tipo de registro: captar aquilo que talvez o olho humano não consegue.
Não estou preocupado em repetir a fotografia, mas em trabalhá-la de forma pictórica."
As cores entram, segundo o artista, como uma forma de impor emoção e movimento aos instantes recortados pelo olhar.
"A pintura fala nas entrelinhas de todas as emoções. Eu busco como que um saudosismo ligado à pintura clássica, no auge de sua beleza, mas não só isso: busco também fazer uma reflexão dos momentos e situações que eu vivo."
Desde a infância, quando recebia reprimendas do pai por decorar as paredes de casa com nacos de carvão, Carlos Djalma se considera um observador. "Já estive em muitos lugares e já viajei bastante em minha vida. Sou uma pessoa que observo muito o mundo e é impossível não traduzir isso no meu trabalho. Sempre me deparo com algumas cenas urbanas e fico me questionando para onde está indo este planeta de sete bilhões de habitantes, em uma sociedade na qual o consumo está em primeiro plano e o valor da pessoa humana em segundo."
Recuperando-se de uma gripe desde a abertura da mostra, na segunda-feira, Djalma pretende, depois desta revisão de seu percurso recente, remar contra a maré do circuito de arte, cada vez mais afetado pela lógica de consumo que sua produção rechaça.
"Quero fazer o meu trabalho, mas manter um ritmo diferente deste que a gente está vendo", revela. "As pessoas não conseguem mais realizar as coisas sem grandes ansiedades nem pretensões. Nos enchemos de planos, às vezes não para satisfazer uma vontade íntima, mas para dar satisfações ao mundo. Isso não é legal nem construtivo. Tudo o que eu mais quero é ter saúde e paz para realizar minha arte."
Comentários