CULTURA
Entre o jazz e a bossa nova
Cantora americana Stacey Kent diz ao Jornal da Paraíba como o Brasil influenciou o seu CD.
Publicado em 24/05/2014 às 8:00 | Atualizado em 29/01/2024 às 15:06
Stacey Kent nasceu em Nova York, nos Estados Unidos, e durante a universidade se mudou para o Reino Unido. Lá, deu início a uma carreira que a levaria ao Olimpo das cantoras de jazz. De voz delicada, extremamente cristalina e bem colocada, ela vem lançando discos elogiadíssimos.
Na Middlebury College, conceituada escola de línguas, ela também descobriria o português. “Naquela época, o português não era tão popular quanto é agora. Comecei a fazer o curso e fiquei viciada. Fiz um ano, depois outro, outro, e assim por diante”, explica a própria Stacey Kant, por telefone, em português afiado.
Essa semana, ela aproveitou sua passagem pelo Brasil para atender alguns jornalistas e falar sobre seu novo disco, The Changing Lights (Warner Music, R$ 30,00). “Lá em casa, a gente ouve Luiz Gonzaga com frequência. Hoje mesmo, meu marido estava tocando um baião”, comenta a cantora ao saber que estava falando com um jornal do Nordeste.
Mas a grande paixão dela é mesmo a bossa nova, que descobriu ainda na adolescência ouvindo Orfeu Negro, a trilha sonora do filme homônimo de 1959. “Eu me apaixonei (pelo Brasil) escutando música brasileira, que o faço desde a juventude”, conta Kent, que acaba de fazer 49 anos. “Adorei a batida, a melodia, a poesia da língua portuguesa, mesmo sem compreender uma palavra”, recorda.
Entretanto, The Changing Lights não é um disco somente de regravações do gênero que exportou a música brasileira com elegância e sofisticação, mas sua presença é forte em cada uma das 13 faixas do CD. “Esse disco é muito pessoal, fala da minha possibilidade, da minha alma, que tem uma relação com o seu país. Não é um disco brasileiro, mas é um disco que fala da condição humana, das coisas que vocês têm aqui (no Brasil)”, conceitua.
Na companhia do marido, o saxofonista Jim Tomlinson, que deixa transparecer uma forte influência de Stan Getz, americano que fez o célebre Getz/Gilberto (1963), Stacey Kent desfila um repertório que une canções inéditas a versões de alguns clássicos verde-amarelos arranjados por Tomlinson.
O repertório abre com a belíssima ‘Estrada branca’, de Tom e Vinicius, em sua versão em inglês, ‘This happy madness’, já gravada por Frank Sinatra. Segue com Jobim por ‘One note samba’ (‘Samba de uma nota só’) e chega a ‘Mais uma vez’, a primeira das três faixas que ela gravou em português. A música é do poeta lusitano Antônio Ladeira com arranjo de Tomlinson, parceria que se repete em ‘A tarde’.
O passeio em português continua com ‘O barquinho’, de Ronaldo Bôscoli e Roberto Menescal. Volta a Jobim com ‘How insensitive’ (‘Insensatez’) até desembarcar em ‘Like a lover’, versão em inglês para ‘O cantador’, de Nelson Motta e Dori Caymmi, e une o Brasil com a Inglaterra ao utilizar o tema de ‘O bêbado e a equilibrista’ como introdução para a belíssima ‘Smile’, de Chaplin.
Costurando as versões estão três músicas inéditas do escritor japonês Kazuo Shiguro, que se tornou um compositor frequente nos discos da cantora. Ele assina ‘The summer we crossed Europe in the rain’, a faixa-título e a ótima ‘Waiter, oh waiter’. “A gente tentou incorporar a batida de João Donato nessa música”, entrega. “Kazuo me compreende bem, escreve bem para mim. Ele compreende minha personalidade e toda vez que ele faz uma canção, eu fico bem nela".
MARCOS VALLE
Stacey Kent nega que o novo trabalho tenha sido diretamente influenciado pelo seu recente encontro com Marcos Valle, que deu origem ao CD Marcos Valle & Stacey Kent, lançado no ano passado pela Biscoito Fino. “O disco (The Changing Lights) já estava sendo feito antes de eu participar do disco do Marcos”, esclarece, admitindo que ele, ao lado de João Gilberto, Tom Jobim, Edu Lobo e Roberto Menescal, entre outros, integram o cotidiano dela faz tempo.
Menescal é convidado de honra. Ele toca violão em duas faixas: as citadas ‘O barquinho’ e ‘A tarde’, sendo que além de tocar, na primeira ele também assina os arranjos. “Ele tem uma alma bem aberta”, diz, a respeito do brasileiro. “Um homem incrivelmente generoso que compartilhou as histórias daquela época. Foi muito bom ele ter compartilhado isso".
Comentários