Entre shows e discos

A cadeia produtiva da música, na Paraíba, encerra o ano com saldo positivo. Ainda não chegamos lá, mas iniciativas como Varadouro Cultural e os projetos ‘Sabadinho Bom’ e ‘Corredor Cultural’ contribuíram para fomentar uma cena musical local, com público e artistas locais em harmonia.

O ano que termina foi o grande ano dos projetos de sábado da Funjope, consolidando o ‘Sabadinho Bom’ e o ‘Corredor Cultural’ como das mais importantes plataformas para música paraibana, sobretudo em ano sem os bons projetos de outrora – vide o saudoso ‘Seis e Meia’, ‘Som das Seis’ e até mesmo o ‘Música do Mundo’, da própria Funjope, que acabou não sendo realizado este mês.

‘Sabadinho’ e ‘Corredor’ abriram espaço para a (pouco valorizada) música instrumental paraibana e a música de raiz, sem desprezar outras vertentes modernas. Também levaram vida, arte e economia para o centro da capital, em pleno sábado, e movimentaram toda a área em torno da praça Rio Branco.

Nesse processo, o Ateliê Multicultural Elioenai Gomes, através de projetos como ‘Luz de Candeeiro’ e ‘Casa de Bamba’, e o resistente Coletivo Mundo, que passou a adotar o “quanto vale o show”, seguem com uma parcela importante de incentivo à cena local.

A cidade, assim como a Paraíba de modo geral, ainda carece de um selo fonográfico que possa arregimentar grandes produções.

O ano teve bons lançamentos – Bom Mesmo é a Gargalhada no Final (Milton Dornellas); Peso de Menino e Jeito de Homem (MeioFree) e Evento Horizonte (Ubella Preta), além de discos da AfroNordestinas, Paulo Vinícius, Madalena Moog e Tony Dumond, que também se destacaram -, mas ainda é pouco.

Iniciativas como o Microfonia, fanzine que passou atuar como selo, lançando discos como Aos Mortos, dos Comedores de Lixo, são importantes, mas uma andorinha só não faz verão. Sem apoio, os artistas acabam produzindo discos ‘demo’, com qualidade inferior ao que merecem seus trabalhos, e sem a chance de ver sua obra em circulação ampliada.

Outra via para conseguir tirar do papel o projeto do disco são os editais de patrocínio. Infelizmente, a Paraíba ainda não despertou para a força desses patrocínios, mas o Cabruêra se deu bem, conseguindo emplacar Visagens Nordestinas junto ao BNB de Cultura. O box reúne o CD Nordeste Oculto, mais o livro de fotografias Desvelado.

Já o nosso conterrâneo Zé Ramalho rompeu com as grandes gravadoras, lançou sue próprio selo (Avôhai Music) e um disco de inéditas (Sinais dos Tempos), um dos melhores de sua carreira. Ainda em âmbito nacional, Chico César também lançou um belo trabalho (Aos Vivos Agora) ao revisitar seu cultuado disco de estreia.

Mas 2012 foi mesmo de Socorro Lira e Fernando Ventura.

Paraibana de Brejo do Cruz, Socorro foi agraciada com o Prêmio da Música Brasileira, na categoria Melhor Cantora Regional, pelo disco Lua Bonita - Zé do Norte 100 Anos, lançado em 2011.

Já o baiano Fernando Ventura, radicado em Campina, estourou nacionalmente sob o nome de Grandphone Vancouver ao emplacar um dos melhores vídeos do ano, 'Miss me'.

Também de Campina Grande, Eloisa Olinto conseguiu seus 15 minutos de fama ao ser escalada por Carlinhos Brown para o The Voice Brasil, programa que bombou nas tardes de domingo da Globo.

Em âmbito estadual, Val Donato ganhou ainda mais o respeito dos fãs ao escancarar, nas redes sociais, o descaso dos produtores locais para com os artistas da terra. De quebra, ainda teve uma música gravada por Leoni.