CULTURA
Épico nacional é revisitado no cinema
Todos os conflitos, aventuras e romances retratados por Érico Veríssimo vão se transformar em um filme, dirigido por Jayme Monjardim (de Olga).
Publicado em 29/04/2012 às 8:00
Há 63 anos, Érico Veríssimo lançava a primeira parte de sua extensa obra O Tempo e o Vento. Era O Continente, dividido em duas partes que, juntas, somam mais de 800 páginas. Um dos maiores nomes da nossa literatura, Veríssimo mescla elementos fictícios com momentos e personagens históricos ao contar a trajetória da família Terra Cambará.
A saga prossegue em outros dois livros, que foram lançados nos anos seguintes: O Retrato, de 1951, e O Arquipélago, de 1962. A obra completa (relançada em 2004 pela Cia. das Letras) relata a construção do estado gaúcho através de acontecimentos vividos pela família ao longo de 200 anos.
Todos os conflitos, aventuras e romances retratados por Érico Veríssimo vão se transformar em um filme, dirigido por Jayme Monjardim (de Olga). Ser adaptado para o cinema, tanto tempo depois de seu lançamento, já mostra a magnitude da obra.
Em entrevista ao JORNAL DA PARAÍBA, Monjardim adianta que o lançamento do filme só deve acontecer nos primeiros meses de 2013.
A produção vai ser uma livre adaptação focada apenas em O Continente. As filmagens, que começaram no mês passado, estão acontecendo nos arredores da cidade de Bagé (RS), onde foi construída a fictícia Santa Fé do livro.
A ideia de adaptar O Continente surgiu da vontade de marcar mais uma geração com a história de Veríssimo. "Esta será uma nova visão sobre o livro de Érico Veríssimo, que é um escritor universal e retratou não apenas a formação do povo gaúcho, mas os dramas do ser humano", resume o diretor.
Por se tratar de uma obra que conta uma parte de nossa história, o desafio está em colocar na telona todo o sentimento minuciosamente descrito pelo autor gaúcho.
“Imagina uma produção desse tamanho, com 130 atores, dois mil figurantes, uma cidade cenográfica construída e um espaço de tempo de 150 anos a ser contado em, no máximo, duas horas.
Os desafios estão por todos os lados, mas, se fosse simples, qualquer um fazia”, enfatiza Monjardim.
Para esta corrida contra o tempo, Monjardim teve que abrir mão de algumas passagens. A livre adaptação permite que o diretor possa fazer as omissões e recortes necessários para melhor retratar o livro. "Eu fiz escolhas. E a minha opção foi por contar essa história pela ótica da Bibiana (vivida por Fernanda Montenegro), aos 89 anos. É o amor dela pelo Capitão Rodrigo (interpretado por Thiago Lacerda) que conduz a história", explica o diretor.
A pressão, subentendida na pretensão de mexer em uma obra tão influente na literatura brasileira, é encarada com tranquilidade por Jaime, que vê nesse trabalho uma oportunidade de também enaltecer a cultura nacional. “Em O Continente, temos personagens, paisagens e sons que refletem o diálogo do ser humano com as perdas, com as transformações da vida, a identificação da cultura, da terra, das gerações que passam pelos mesmos desafios. Gosto de contar esse tipo de história e, melhor ainda, se ela ainda celebrar o que temos de melhor em termos de cultura nacional”, explicou o diretor.
MINISSÉRIE
Além do filme, a versão estendida da produção nacional vai virar minissérie, a ser exibida pela TV Globo, seis meses depois do filme sair de cartaz dos cinemas, em proposta semelhante a O Auto da Compadecida (2010) e O Bem Amado (2010).
Essa não é, no entanto, a primeira minissérie a mostrar as aventuras de O Continente. Em 1985, Glória Pires apareceu nas telas da Globo interpretando Ana Terra.
Hoje, a mesma personagem é interpretada por sua filha, Cléo Pires. Além da atriz, outros grandes atores da TV brasileira dão vida aos personagens da saga. Além de Fernanda Montenegro e Thiago Lacerda, o elenco conta com Marjorie Estiano e José de Abreu.
O paraibano Luiz Carlos Vasconcelos, que vai viver Maneco Terra, já concluiu suas gravações. “Já matei, já tive a barba branca e já morri. Meu personagem é um homem duro, seco e foi muito instigante fazê-lo”, declarou.
Para o ator, a obra de Veríssimo é, realmente, atemporal.
“Conclui a leitura do livro quase simultaneamente ao fim das minhas gravações e fiquei impressionado. A saga é monumental.
Os detalhes sobre a gênese do Rio Grande são maravilhosos”, dispara Vasconcelos.
Elenco e diretor estão com um desafio e tanto nas mãos: agradar aos que leram a obra e estão ansiosos para ver os emblemáticos personagens e os que nunca tiveram contato com o livro e precisam ser conquistados ainda nos primeiros minutos do filme.
Pelas fotos, percebemos que Jaime não está poupando esforços para cativar os dois grupos.
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