CULTURA
Especial Vida & Arte: Quando a arte evoca a lembrança do pai
Em entrevista especial do Dia do Pais ao caderno VIda & Arte do Jornal da Paraíba, artistas paraibanos relataram as memórias artísticas dos momentos especiais compartilhados com seus pais.
Publicado em 08/08/2010 às 16:53
Da Redação com Jornal da Paraíba
Em entrevista especial do Dia do Pais ao caderno VIda & Arte do Jornal da Paraíba, artistas paraibanos relataram as memórias artísticas dos momentos especiais compartilhados com seus pais. Confira!
Myrna Maracajá (bailarina e coreógrafa): E.T. (1982, direção Steven Spielberg):
“Tem tantas coisas que evocam meu pai... o cheiro de mofo na biblioteca dele, o lilás das catleias que ele cultivava, Nelson Gonçalves cantando “Ave Maria no Morro”, uma coleção em CD com o belo repertório de Orlando Silva, a beleza do texto de Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas - ele dizia sempre que era o livro mais grandioso da Literatura Mundial! Eu poderia lembrar, aqui, inúmeras obras do cinema, da literatura e até da música. Mas, o que me marcou mesmo foi assistir, inúmeras vezes, ao filme E.T. com meu pai. Papai acreditava em extraterrestres! Gostava muito, muito mesmo de ufologia. Certa madrugada, após escrever sua crônica semanal, ele foi para o quintal olhar o céu. Cismou ter visto um OVNI, foi andando de costas, olhando para cima e acabou caindo na piscina. Foi muito divertido! Pois é, assistimos juntos e nos emocionamos muito com esse filme!”
Linaldo Guedes (poeta e jornalista): Marvin (Titãs, Titãs, 1984):
“É uma música que me marca muito, não só eu como minhas irmãs. Explodiu na mídia mais ou menos na época em que meu pai morreu. E seus versos remetem a muita coisa que acontecia ou aconteceu com a gente em relação a papai: ‘Meu pai não tinha educação, ainda me lembro era um grande coração, ganhava a vida com muito suor, mesmo assim não podia ser melhor, pouco dinheiro para poder gastar, todas as contas e despesas do lar...’. Tinham muito a ver com a gente. Até porque meu pai começou a trabalhar cedo (sete anos), estudou só o primeiro grau e era um homem de grande coração, honesto, íntegro e que valorizava a educação dos filhos. Até hoje, quando escutamos essa música, viajamos no tempo e lembramos de meu pai, ‘sorrindo à sombra da goiabeira’, numa rua qualquer de Jaguaribe. Saudades eternas ao som do rock do Titãs”.
Ana Bárbara (cineasta): Sangue (1989, diretor Pedro Costa)
“O filme mostra a relação de uma família sem mãe, cujo pai ausente anuncia o seu afastamento definitivo aos dois filhos, Vicente, de 17 anos, e Nino, de dez, que vivem numa cidade isolada, no interior de Portugal. O filme, todo em preto e branco, é do final dos anos 80 e dialoga de perto muito com o cinema de Tarkoviski e com um certo cinema asiático contemporâneo. Filme contemplativo, fotografia exuberante, atores 100% perdedores. O clima que percorre todo o filme é o de corações dilacerados, fuga, imensidão no vazio e busca afetiva de todos os lados. O pai some de vez. O irmão mais novo é sequestrado pelo tio e vai para Lisboa. O irmão mais velho vai a sua procura. As histórias se cruzam, mas eles não se encontram mais. O que Pedro Costa realiza com esse fiapo de história é que me faz crer estar diante de um grande cineasta”.
Vitória Lima (poeta): The Voice (1946, Frank Sinatra) e Música e Lágrimas (Glenn Miller):
“Sempre tivemos um bom toca-discos (eletrola, como chamávamos naquela época) e ouvíamos muito rádio também. Dos LPs que ele trouxe para casa, me lembro com saudade de dois: The Voice, com Frank Sinatra, e Música e Lágrimas, com Glenn Miller. Meu pai já anão está mais aqui conosco, mas suas lições, seu riso aberto, sua amorosidade estão presentes até hoje na minha vida. Tenho dois poemas dedicados a ele no meu livro Fúcsia. Era também amante do cinema e, toda semana, ele e minha mãe iam assistir filmes no Cine Capitólio ou no Cine Babilônia, hábito que nós, filhos, compartilhávamos quando eram compatíveis com nossa faixa etária. Quando me lembro do meu pai é sempre com carinho”.
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