Estreando em 3D na Capital, Alice cresce e volta ao País das Maravilhas

Renato Félix
Do Jornal da Paraíba

Antes de mais nada, é preciso esclarecer: apesar do título e de usar os mesmos personagens, Alice no País das Maravilhas (Alice in Wonderland, Estados Unidos, 2010, estreia hoje em em JP e CG) não é uma adaptação de As Aventuras de Alice no País das Maravilhas ou de Através do Espelho e o que Alice Encontrou por Lá.

O filme de Tim Burton para a Disney - que em JP terá exibições dubladas e legendadas, ambas em 2D e 3D, e em CG apenas dublada e em 2D - é na verdade uma espécie de continuação das obras originais de Lewis Carroll: agora Alice tem 19 anos, recebe um pedido de casamento, mas reencontra o País das Maravilhas, que ela achava ter sido apenas um pesadelo de criança. E descobre também que o Wonderland do título original foi mal compreendido por ela da primeira vez e, na verdade, é “underland” (ou “mundo subterrâneo”).

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É uma das releituras do roteiro de Linda Woolverton (das animações A Bela e a Fera, 1991, e O Rei Leão, 1994), que mistura personagens dos dois livros (como várias adaptações fazem, incluindo o longa animado da Disney, de 1951). As rainhas Branca e Vermelha, por exemplo, não são de País das Maravilhas, mas do jogo de xadrez de Através do Espelho. No entanto, no novo filme, a Rainha Vermelha é, no fundo, a Rainha de Copas do primeiro livro.

As personagens são interpretadas por Anne Hathaway e Helena Bonham-Carter, integrantes de um grande elenco. Helena, grande atriz, é esposa do diretor e participou de seus últimos cinco filmes antes de Alice. Johnny Depp, claro, está lá, como o Chapeleiro Louco. Há ainda as vozes de Stephen Fry, Michael Sheen, Timothy Spall, Imelda Staunton e Christopher Lee. Alice é interpretada pela australiana Mia Wasikowska, de 21 anos, e que apareceu em filmes como Um Ato de Liberdade (2008) e Amelia (2009, inédito nos cinemas locais), e no seriado In Treatment.

A associação do talento visual de Tim Burton com os delírios já existentes dos livros de Carrol parece óbvia - e que é até surpreendente que não tenha acontecido antes. Tendo em vista, inclusive, que visuais delirantes também são usados pelo diretor para representar personagens que não se adequam ao mundo - desde Batman (1989) e Edward, Mãos de Tesoura (1990) até A Fantástica Fábrica de Chocolates (2005) e Sweeney Todd - O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet (2009).

As muitas histórias vividas por Alice nos dois livros formam uma das obras mais importantes da literatura ocidental. Carroll - nome de fantasia do reverendo inglês Charles Dodgson - inspirou-se na pequena Alice Liddell por quem teria vivido, inclusive, uma paixão platônica. Das histórias inventadas para contar à menina, ele escreveu o primeiro livro.

Nos anos que se seguiram, inúmeras versões nos mais diferentes formatos surgiram - cinema, TV, teatro, rádio, música, artes visuais. A maioria, certamente, sem conseguir absorver os jogos de palavras entre provocações e argumentos, sutilezas psicológicas e muitas referências.

Filmado em 2D tradicional e convertido para 3D para aproveitar a onda de Avatar (2009), o Alice de Tim Burton aproveita tudo o que pode dos efeitos visuais. Esperemos só que não tenha exagerado.