icon search
icon search
home icon Home > cultura
compartilhar no whatsapp compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin copiar link deste artigo
Compartilhe o artigo
compartilhar no whatsapp compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin copiar link deste artigo
compartilhar artigo

CULTURA

Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios

Cheia de expectativas, a atriz Camila Pitanga fala em entrevista ao Jornal da Paraíba sobre a importância do filme para a sua carreira.

Publicado em 27/11/2011 às 6:30

"Este filme finalmente me põe na família", diz por telefone uma Camila Pitanga que admite o peso da "ancestralidade" do pai, o ator Antônio Pitanga.

Em pleno entusiasmo pela repercussão de Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios nos festivais de que participou, a atriz fala com a reportagem sobre a sua personagem Lavínia e pela relação que estabeleceu com o diretor Beto Brant e os atores Gustavo Machado, Zé Carlos Machado e Gero Camilo.

Por fim, revela o desejo que os dois meses filmando em Santarém (PA) provocou nela: que a emoção e a violência do drama que protagoniza também atinja o público com o seu 'desmantelamento'.


- Como se deu o convite para integrar o elenco do filme?

- Conheci o Brant no Festival de Brasília, depois de uma exibição de Crime Delicado (2005). Ele fez um discurso que me emocionou tanto que após a sessão tive que procurá-lo para dizer o quanto admirava seu trabalho, que eu acompanhava de longe. Sempre fui fascinada pela sua intensidade e pelo seu radicalismo. Pela forma como ele expõe o ator a situações críticas, algo que me interessava também como espectadora. O convite foi feito por telefone, só depois tivemos o primeiro contato que despertou uma relação de extrema confiança. Esta relação foi se solidificando ao longo do processo de investigação do filme, que foi coletivo e fortaleceu a nossa cumplicidade. O Brant é um diretor que não só tem um olhar muito profissional do ator como também um olhar humano muito poderoso. O filme foi uma verdadeira experiência de entrega.

- O elenco tomou conhecimento do enredo através do livro ou do roteiro?

- Conheci a história primeiro pelo livro, só depois veio o roteiro. Li o romance logo após aquela conversa por telefone com o Brant.

- O livro é narrado pelo personagem Cauby. Como você fez para não se deixar cair nas 'armadilhas' do narrador e compor uma Lavínia menos parcial?

- De fato, eu acho que o Cauby tem muitas dúvidas a respeito da Lavínia. A estrutura do romance é toda montada a partir de pistas deste narrador, de tudo aquilo que ele já viveu. E ele tem um olhar muito pesado, de ceticismo, ironia e desconfiança. Mas eu acho que é aí que reside a inteligência da transposição do Brant e do Ciasca para a tela: eles mostram antes um Cauby mais suave, que não passou por aquela odisseia de martírio. Porque a voz do Cauby, no livro, é de alguém que já tinha vivido a experiência trágica. Quanto à Lavínia, percebi nas entrelinhas que ela sofria de muitas alterações de humor. Que ela era fugaz e estranha. O cinema tem outro tempo, e era impossível que tudo que acontecesse no livro acontecesse também no filme. Então eu tomei meu partido. Se a Lavínia me parecia louca, lá ia eu estudar a loucura. Mas cada golpe que eu levava me convencia a não ficar presa na psicologia da personagem, porque ela não apresenta uma psicologia linear. O ofício do ator requer a técnica, o ABC da coisa, mas a percepção também conta. Por isso costumo dizer que tive muita sorte em estar na companhia das pessoas certas neste filme.

- Pensando nisso, quais foram os resultados obtidos a partir do encontro de atores como você e o Zé Carlos Machado, com forte pegada televisiva, e Gustavo Machado e Gero Camilo, de bagagem mais teatral?

- Este foi o verdadeiro 'pulo do gato' do filme. Fizemos uma troca muito profunda, cada um colaborando e transmitindo para o outro a sua experiência e o seu repertório. Neste sentido nosso processo de criação foi muito teatral, com exercícios de contato e improvisação, de intimidade, de toque. Enfrentamos vários ensaios, pesquisas, nos aventuramos por outras artes. O Gero, quando chegou a Santarém (PA) começou a escrever literatura, a fazer videoarte. O Zé Carlos também se revelou um prodígio na composição do pastor evangélico, mergulhando neste universo do cristianismo. Ninguém era mais do que ninguém ali.

- Você mencionou um Gustavo Machado interpretando um personagem 'suave'. Isso não contrasta com o estilo dele, sempre às voltas com papéis mais violentos, sobretudo no teatro?

- Aposto que quem acompanha a carreira do Gustavo vai se surpreender com a versão que ele deu para o Cauby. Ele construiu um personagem com um certo frescor, uma ternura e uma delicadeza que vão se embrutecendo no decorrer da trama. Mas todos nós nos surpreendemos com o rumo que os personagens foram tomando. A própria Lavínia, por exemplo: eu tinha uma expectativa muito mais sombria dela. Só depois pude vê-la como uma perdida e pude recuperar este ponto de vista. Voltando ao ponto de vista que o Gustavo escolheu para o personagem dele, o Cauby revelou-se um sujeito meio hippie, poeta, divertido, que vai se apaixonando e se degradando por aquela mulher.

- Renato Ciasca e Beto Brant são conhecidos, nos bastidores das produções, pelo rigor a que submetem os atores a fim de estabelecer uma conexão entre eles e o ambiente da cena. Como vocês conseguiram esta conexão com o Pará, que abrigou as locações do filme?

- Moramos em Santarém por alguns meses. O Gustavo chegou antes de mim, e ficou três meses lá. Eu fiquei pouco mais de dois meses. A temporada foi bastante positiva para nós, porque só vivendo lá é que se pode falar com propriedade da cultura daquela terra, que é praticamente um outro país dentro do nosso país. O Norte tem uma cultura musical e gastronômica muito ricas. É uma cultura pujante, autossuficiente. Eles têm uma personalidade peculiar, uma maneira de viver muito própria. E é óbvio que o filme tem este triângulo amoroso como primeiro plano, esta poeticidade do Brant. Mas também reflete sobre questões da região, como a situação dos indígenas, que direitos eles têm, o que certamente também é uma preocupação do Brant como diretor.

- Conforme foi dito, você tem uma pegada televisiva muito forte, mas sua carreira em filmes até antecede a das novelas, e acaba de ser consagrada com o prêmio de melhor atriz no Festival do Rio. É uma coroação de sua trajetória?

- Sem dúvida. Este filme é um divisor de águas na minha carreira. Nunca vi com maus olhos minhas passagens pela televisão, sobretudo pela possibilidade de diálogo que elas me abriram com o público. Tenho o maior orgulho e felicidade, quanto a isso. Mas é indiscutível que tenho uma ancestralidade no cinema. Meu sobrenome forjou sua identidade no cinema. Este filme finalmente me põe na família. Me torna digna de pactuar com meu pai, com a sua experiência desde o Cinema Novo. Desejo fortemente que no filme eu também me comunique com o público, tanto quanto me comunico nas novelas. Que ele faça as pessoas pensarem criticamente, porque o cinema brasileiro sempre teve esta veia e há grandes diretores hoje fazendo a diferença. Queria que o público se emocionasse como me emocionei com a sua violência, o seu 'desmantelamento'.

Imagem

Jornal da Paraíba

Tags

Comentários

Leia Também

  • compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp
    compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp