Filmes paraibanos são destaque de sessão de cineclube nesta quarta

Marina Magalhães
Do Jornal da Paraíba

Desde que Vinícius de Moraes e Baden Powell lançaram Os Afros-sambas (1966), disco inspirado nas sonoridades africanas, o candomblé e a umbanda saíram dos limites dos terreiros para adquirirem o status que merecem na cultura brasileira. Mas é hoje à noite que esse reconhecimento começará a ser celebrado, agora no cinema, em terras paraibanas.

O culto, o primeiro promovido pela ‘Assacine’ deste ano, será na Usina Cultural Energisa, às 20h30, com o lançamento de dois curtas que incorporam essa temática: Uma Ciência Encantada, de Chico Sales, e Oferenda, de Ana Bárbara Ramos. Em março será a vez do Diário de Márcia, de Bertrand Lira, em fase de pós-produção, continuar essa saga. Ingressos: R$ 1,00 (meia e para os associados da ABD) e R$ 2,00.

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A partir de narrativas orais exibidas ao longo de 20 minutos de documentário, Chico Sales tenta resgatar impressões, percepções e histórias da antiga Tambaba – hoje praia de naturismo do Conde famosa nacionalmente. Baseado em leituras sobre a Jurema Sagrada (árvore utilizada em rituais, cujas raízes têm significados místicos relacionados a entidades, a poderes de proteção e adivinhação), o diretor descobriu a praia paraibana entre as cidades nas quais ocorriam celebrações tempos atrás.

“Nesse momento comecei a perguntar para algumas pessoas que conhecia, como mães e pais-de-santo ligados à jurema, e segui o rastro dessa história, vendo que tinha fundamento”, explica Sales, que também já dirigiu Renovatório (2007), 1.500 Circular (2008) e N.E.G.O (2008), com Myk Nascimento. “As pessoas frequentavam a praia para levar oferendas e fazer trabalhos espirituais até a década de 1980. Então a proposta é apresentar esse aspecto de Tambaba que pouca gente conhecia, o espaço mágico daquilo, uma ciência encantada naquela praia”.

Oferenda, primeiro curta produzido pela cooperativa Filmes a Granel, é uma mistura de documentário etnográfico com filme-ensaio que tem como tema o ato de fazer oferendas aos orixás, sobretudo à Iemanjá. “Não faço parte da religião, mas sempre me fascinei muito por Iemanjá, pelo fato de todas as pessoas, mesmo que não sejam da umbanda ou do candomblé, irem para lá fazer suas oferendas”, comenta Ana Bárbara.

Segundo a realizadora, que também assumiu a direção dos premiados Cabaceiras (2007) e Sweet Karolynne (2009), as cenas foram gravadas nos dias 8 de dezembro de 2009 e 2010 - data em que se comemora o dia de Iemanjá, na praia de Tambaú e no Templo religioso mãe Iansã, em Bayeux.

Diário de Márcia

A última obra da tetralogia de filmes sobre a sexualidade, dirigidos por Bertrand Lira, deve ser lançada em março. Assim como o a produção anterior, O Rebeliado (2009), Diário de Márcia traz uma personagem excêntrica (uma transexual que trabalha como cerimonialista na Câmara Municipal de João Pessoa) que busca refúgio e força na sua religiosidade.

“Ela é uma pessoa bem mística, que conta como a religião, nesse caso a afro-brasileira, salvou a sua vida do sofrimento e do preconceito”, adianta Lira, que também dirigiu Perequeté (1981) e Homens (2008). Ele agora promete trocar o sexo e a religião pelo tema da ficção.

Serviço

Tintin Cineclube
Sessão Assacine - Pergunte pro seu Orixá
Filmes em cartaz: “Uma Ciência Encantada” de Chico Sales e “Oferenda” de Ana Bárbara Ramos
Quando? Quarta-feira (26), às 20h30
Onde? Usina Cultural Energisa - Rua Juarez Távora, 243 – Torre (início da Epitácio Pessoa)
Quanto? R$ 2 (inteira) e R$ 1 (estudantes e associados à ABD-PB)