Forró, frevo e Lucy Alves

Ela já esteve no meio da nuvem de mais de 400 mil muriçocas que sarapinta a avenida Epitácio Pessoa anualmente, nas prévias carnavalescas do segundo maior bloco de arrasto do mundo. Hoje, vai voar mais alto e parar no alto do trio elétrico: a cantora e compositora Lucy Alves, prestes a lançar nacionalmente seu primeiro disco solo, anima nesta quarta-feira de fogo as 'Muriçocas do Miramar'. A concentração para o desfile, que terá a participação do mentor de Lucy no The Voice, Carlinhos Brown, será a partir das 19h na Praça das Muriçocas, em João Pessoa.

Para a maratona de cerca de quatro horas em cima do trio, a jovem de 27 anos está vivendo uma rotina de atleta: desde a participação no programa da Rede Globo, no ano passado, quando surpreendeu os jurados largando a sanfona e dançando ao som de 'Festa do Interior', Lucy faz aulas semanais de frevo com Ana Valéria Vicente, professora do curso de dança da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Foi ao final de uma destas aulas puxadas que ela conversou com o JORNAL DA PARAÍBA sobre a oportunidade inédita na sua trajetória.

“Comandar um trio elétrico é uma experiência nova em minha carreira que pude ter uma ideia do que seria há 2 anos, quando fiz uma participação no Galo da Madrugada”, conta Lucy, que chegou a ser cotada para puxar o bloco pernambucano este ano, convite que declinou em razão da apresentação que faz no próximo sábado no Carnaval em Cajazeiras.

“Tinha visto como é a dinâmica de estar em um trio e descobri que tanta gente acompanhando demanda muito mais energia. Você não para e tem que estar se doando em tempo integral. Tem que ter um preparo físico bacana. Já vi pessoas bem preparadas, tanto fisicamente quanto musicalmente, sofrerem bastante.”

Além das aulas de frevo, Lucy faz pilates há 2 anos para adequar a postura a um instrumento que praticamente virou extensão de seu corpo: a sanfona (alguns modelos ultrapassam os 10 quilos). “O pilates me ajudou bastante com a questão da coluna, principalmente com a parte lombar, que é uma região muito exigida do meu corpo por causa da sanfona. A modalidade trabalha o fortalecimento da musculatura com alongamentos intensos, e eu me dei super bem.”

O papo de academia ela troca com os quatro bailarinos pernambucanos, cujo pique a cantora vai ser obrigada a acompanhar durante todo o percurso. Mas o verdadeiro foco de dedicação da intérprete continua sendo a parte musical: no trio das Muriçocas, ela promete tocar o inusitado "pau-elétrico" (o protótipo da guitarra baiana de Dodô e Osmar) e levar um naipe de metais que vai ajudá-la no que ela chama de "frevo sanfonado", pegando emprestado o título da canção do ídolo Sivuca.

"Já vinha meio que confabulando com as Muriçocas desde o ano passado, muito antes desse rebuliço do The Voice", diz ela, lembrando o momento "feliz", em suas palavras, em que escolheu o frevo de Abel Silva e Morais Moreira para a semifinal do programa. "Sempre quis atuar neste nicho do Carnaval porque o frevo sempre fez parte da minha vida. Cresci ouvindo Sivuca, Dominguinhos, Elba e Alceu tocando. Depois que passei a tocar com ele (Alceu) e a respirar um pouco mais de frevo, me encantei ainda mais. Sempre fui foliã e esse lado, de repente, ficou mais aflorado."

Não foi à toa que ela encabeçou a equipe de Carlinhos Brown, que já confirmou que vai dar um pulo do seu trio para o de Lucy, onde os dois dão uma palhinha da parceria. "Espero que dê tudo certo para que a gente cante alguma coisa junto", torce a paraibana, que esteve na Bahia em dezembro, no Sarau do Brown, e volta à terra do Feiticeiro neste Carnaval, para retribuir a canja no bloco de Carlinhos, na próxima segunda-feira.

"Carlinhos gosta do improviso. Ele é mestre nisso. Eu estou tranquila, mas também ansiosa. Só me preocupo em atender as expectativas e me preparar pra aguentar o pique. Porque a dinâmica é totalmente diferente".

LANÇAMENTO DO CD

A parceria com Brown se estende para o disco, que Lucy garantiu que sai com seu nome no dia 25 de março pela Universal Music. "Será um disco homônimo e o lançamento será triplo, na verdade, já que sai junto com os discos do Sam Alves e do Paulinho Lima", antecipa, citando o nome de dois outros concorrentes seus do The Voice, também contratados pela gravadora. "A metade do repertório será com as músicas do programa e, entre as outras, terá uma minha e uma inédita do Carlinhos e da Marisa Monte."

Para a intérprete, que continua em turnê com os colegas do programa neste semestre (o próximo show, no Ceará, está previsto para abril), o disco de estreia é uma "semente" para o que ela irá colher na carreira mais adiante. "Ficou bacana, um trabalho de super bom gosto e muito bem gravado. É uma continuação do The Voice e uma semente que está sendo plantada. Estou muito feliz com este cartão que agora vou poder apresentar para as pessoas", ressalta, impondo também suas ambições futuras como artista: "No segundo disco eu pretendo imprimir um pouco mais do que eu quero. E quero trazer mais coisas novas e canções autorais, em sua maioria."