CULTURA
Forrozeiro underground
'Sou como os roqueiros. Meu trabalho é underground', diz o cantor Biliu de Campina, que grava DVD independente.
Publicado em 29/01/2014 às 6:00 | Atualizado em 10/01/2024 às 16:14
Não espere receber material publicitário de divulgação do próximo DVD de Biliu de Campina: "Eu não divulgo o meu trabalho. Não faço jabá. Me pego com a gente jovem. Sou como os roqueiros. Meu trabalho é underground", professa o forrozeiro, que se prepara para gravar Retardando o Fim do Mundo, registro ao vivo que vai suceder Antes que o Mundo se Acabe (2011).
O DVD, que vai ser gravado em março com músicas inéditas e releituras, deve sair de forma independente e circular de mão em mão, que é como a obra de Biliu vem se perpetuando em tempos em que certos artistas, como ele mesmo se refere, se transformaram em "movimenteiros culturais".
"Não ando buscando o sucesso. Eu não sou negociante e me recuso a ser mendigo. Nunca aceitei esse tipo de coisa", diz ele, sobre a relação com o mercado fonográfico. "Não boto meus discos em loja. Se o lojista coloca, o problema é dele. Eu não estou preocupado. Meus discos são totalmente indisponíveis em loja."
Segundo Biliu, o novo projeto segue a linha do primeiro, que foi inspirado em uma pregação que ele ouviu na rua de um pastor evangélico. Para 'esquentar o pandeiro' para a apresentação, que ainda não tem data nem local definidos, ele participa no próximo mês da gravação do DVD do colega Adauto Ferreira.
'Beleza natural', parceria dos dois, é uma das canções que provavelmente vão integrar o repertório de Retardando o Fim do Mundo. "O que não entrou no primeiro DVD eu vou tentar botar no segundo", explica Biliu. "Meu trabalho é mais improvisado do que preparado. Ele não tem pauta. Eu vou emburacando. Costumo dizer que eu não ensaio, eu treino."
No melhor estilo 'Tim Maia', Biliu relata que o tom de improviso já causou alguns problemas nos bastidores, com produtores, e no palco, com os músicos: "Eu gravo direto no palco e do jeito que ficar. O trabalho é meu e quem manda sou eu. Se tem algo para corrigir eu gosto de corrigir no palco. Se eu peço 'Forró em Campina' e o músico entra com a introdução de 'Forró furrum fuá', eu grito: 'Eu pedi outra, filho de uma égua'. O povo gosta e fica na gravação."
O convidado que vai encarar o temperamento espontâneo de Biliu de Campina desta vez é o conterrâneo Luizinho Calixto, virtuose do fole de oito baixos. "Luizinho Calixto tá aí bombando", elogia o colega. "Andam dizendo que o fole de oito baixos está em extinção, mas o negócio é que ele é difícil de tocar. Tem que ser muito bom e o Luizinho Calixto é."
Biliu de Campina aproveita o ensejo da matéria para desmentir o boato de que ele estaria morando no Recife (PE): "Um desocupado veio dizer na internet que eu estava morando lá", revela. "É por isso que não gosto da internet. Tem uma página minha no Facebook, mas quem cuida é meu filho."
Para Biliu, porém, Recife continua sendo seu "domicílio de trabalho": "É que eu trabalho muito mais lá do que aqui. Tenho muita repercussão em Pernambuco. Mas não gosto de puxar a sardinha para eles. A patota do frevo, por exemplo, gosta de dizer que o frevo é genuinamente pernambucano e esquece que quem botou um acelerador nele foi Jackson do Pandeiro; que quem decora o Galo é Ary Nóbrega; e que Capiba começou a carreira em Campina Grande", polemiza.
Comentários