CULTURA
Francis Hime lança disco comemorativo aos 50 anos de carreira
Francis Hime fala ao Jornal da Paraíba sobre 'Navega Ilumina', disco comemorativo que reúne diversas facetas do músico.
Publicado em 30/01/2015 às 9:09 | Atualizado em 27/02/2024 às 17:50
Pela primeira vez, Francis Hime assina um disco com seu nome completo: Francis Victor Walter Hime. A assinatura tem sua razão de ser. Navega Ilumina (Selo Sesc, R$ 20,00, à venda no site do Sesc), novo álbum do músico carioca é, segundo ele, um completo retrato do cantor, compositor, arranjador e letrista. Portanto, nada mais coerente que ter seu nome completo em um disco que exibe o artista em sua completude.
“Eu quase chamei esse disco de Francis Victor Walter Hime”, confidencia o próprio Francis ao JORNAL DA PARAÍBA, por telefone, referindo-se ao disco que celebra seus 50 anos de carreira, lançado no final de 2014. Composto inteiramente por músicas inéditas, Navega Ilumina é, de acordo com seu autor, um álbum que procura traçar um painel bastante amplo do músico cuja carreira se equilibra entre o erudito e o popular.
“São músicas que eu poderia ter feito há décadas, mas a esmagadora maioria foi feita mesmo nos últimos dois anos”, comenta, sobre o repertório de 12 faixas, o ativo Francis Hime, que aos 75 anos não se cansa de compor. “Semana passada fiz um samba. Tava na sauna e, de repente, me veio a ideia”, comemora, orgulhoso de sua capacidade de conseguir compor na mente, sem o auxilio de um instrumento.
O tarimbado Zuza Homem de Melo diz que Francis Hime é um compositor harmônico, desses que assobiam uma nova melodia ao mesmo tempo em que consegue imaginar sua harmonia, exercendo o que o maestro Villa-Lobos chamava de “ouvido interno”.
Os rascunhos para esse novo repertório começaram a ser pensados em 2012, mas ganharam fôlego mesmo quando o Serviço Social do Comécio (Sesc) de São Paulo se ofereceu para produzir e lançar o álbum.
“Isso permitiu uma produção mais ambiciosa”, comenta Hime, referindo-se a orquestra que conseguiu incorporar ao trabalho, levando-o a gravar obras sinfônicas, como as fantasias para harpa e para violino que levaram o nome das suas netas, ‘Cecilia’ e ‘Isabel’, respectivamente.
Gravado entre junho e julho, em meio aos jogos da Copa de 2014, o disco mostra a boa forma de Hime para música de concerto e para sambas, choros e outros gêneros. De quebra, trouxe de volta o letrista Francis Hime, que compôs integralmente 'Ilusão' e 'Mistério'.
“Quando eu mando uma música pro parceiro, eu geralmente não tenho ideia como virá a letra. Mas desta vez, nesses dois sambas, eu fiquei com vontade de dizer algumas coisas com eles e acabei escrevendo a letra”.
Mas os parceiros estão lá. Alguns jovens, como Thiago Amud (com que fez a jobiniana ‘Breu e graal’); outros calejados, a exemplo de Geraldo Carneiro (autor da letra do samba que dá nome ao disco) e a eterna Olivia Hime, com quem é casado na vida e na carreira.
Ela, que gosta de burilar as letras entre as melodias do marido, assina com ele ‘Amorosa’, ‘Canção noturna’ e ‘Canção apaixonada’. Ainda em família, Francis compôs o samba ‘Sessão da tarde’ com a filha, Joana Hime.
Até Vinicius de Moraes está no disco, e com uma música inédita: ‘Maria da luz’. O Poetinha, que apontou ao mundo o talento precoce do jovem Francis Hime ainda nos anos 1950, inauguraria a carreira do carioca ao dar letra à música ‘Sem mais adeus’, gravada por Wanda de Sá em 1964.
Foi buscando os manuscritos de uma antiga partitura, pouco antes de entrar em estúdio, que o carioca se deparou com um papel velho e amarelado pelo tempo, com uma letra rabiscada em caligrafia impecável que formava um recado: “Para Francis fazer a música”.
“Eu não tinha ideia que tinha esse papel em casa”, confessa Francis, a respeito de ‘Maria da luz’, música que fora encomendada nos anos 1970 pelo cineasta francês Gabriel Albiccoco para um balé que nunca viu a luz do dia. “Sentei ao piano e, em meia-hora, a música tava pronta. Parecia que o Vinicius estava soprando a melodia”.
ERUDITO E POPULAR
Vinicius portanto, marca os extremos desse período de 50 anos de carreira. Entre um ponto e outro, o músico que foi levado pelos pais a estudar piano aos seis anos, mas abandonou a música para se dedicar à engenharia, voltou para ajudar a fincar as bases da MPB moderna, ao lado de Chico Buarque – com quem fez clássicos como 'Meu caro amigo', 'Vai passar', 'Atrás da porta', 'Passaredo' etc -, Marcos Valle e Edu Lobo, entre outros.
Hoje em dia – confidencia à reportagem – ele não faz muita distinção entre o compositor erudito e o popular. Embora tenha estudado música clássica nos Estados Unidos e feito discos rebuscados, com arranjos de orquestra, nos anos 1970, Francis Hime passou para o seleto grupo de autores eruditos somente em meados dos anos 1980, a convite do maestro Benito Juarez.
“A partir daí, eu comecei a navegar nessas duas áreas”, pontua. “A música, hoje em dia, é muito na fronteira entre o erudito e o popular. Cada vez, elas convergem mais. Nesse disco, eu procurei trabalhar essa ideia”.
Francis Hime fecha seu cinquentenário artístico com cerca de 21 discos, quase metade deles gravados de 2002 para cá, quando a Biscoito Fino, gravadora de Olivia Hime, começou a operar.
Olhando em retrospecto, ele responde qual seu disco favorito: “Bem, depois de Navega Ilumina (risos), talvez seja o Francis Hime (1973)”, elege, referindo-se ao famoso “disco das portas”, integrante do seleto livro 300 Discos Importantes da Música Brasileira, de Charles Gavin.
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