CULTURA
Gonçalo Junior resgata pedaço da história com seu novo livro
Gonçalo Junior resgata pedaço importante da história com seu novo livro
Publicado em 18/11/2012 às 8:00
Depois de destrinchar o mundo editorial durante os anos de chumbo em Maria Erótica e o Clamor do Sexo – Imprensa, Pornografia, Comunismo e Censura na Ditadura Militar (2010), o jornalista e pesquisador Gonçalo Junior volta novamente no tempo para resgatar mais um pedaço importante da história com o livro A Morte do Grilo - A história da Editora A&C e do gibi proibido pela ditadura militar em 1973 (Peixe Grande, 256 páginas, R$ 39,00).
Foram 48 números do título, publicado entre os anos de 1971 e 1973, sendo do 1 ao 27 pela Arte & Comunicação, e do 28 em diante pela Espaço-Tempo Veículos de Comunicação Ltda., além de cinco edições especiais.
“Grilo é o gibi mais injustiçado dos quadrinhos brasileiros”, contesta o autor. “Primeiro, pelo ponto de vista político, já que teve sua circulação vetada pela ditadura militar. Depois, por ter sido jogado no limbo da história dos nossos quadrinhos”.
A revista foi proibida pela censura na época, que lhe negou registro para circulação, alegando que o Grilo atentava contra a moral e os bons costumes (lê-se ‘implicações políticas contra seus editores’). Além deste título, a A&C também colocava nas bancas de jornal o tabloide O Bondinho, o porta-voz da contracultura em São Paulo.
“Sua redação foi formada por brilhantes jornalistas que militaram contra a ditadura – alguns chegaram a pegar em armas e participaram da luta armada”, conta Gonçalo Junior. “Esses caras geniais vieram de publicações importantes como Quatro Rodas, Jornal da Tarde e Realidade. Só para lembrar, foi o jornal que substituiu Grilo, o Ex- (que seria inicialmente Ex-Grilo), quem denunciou a fraude da morte do jornalista Wladimir Herzog – segundo a repressão, ele teria se enforcado”, revela.
INTENSO E QUIXOTESCO
A Morte do Grilo vem também trazer à tona que a ‘resistência’ não veio só do Rio de Janeiro com o famoso O Pasquim. A publicação também foi pioneira para abrir uma janela para o ‘lado B’ do que se imprimia lá fora.
“Sua importância é inquestionável por ter trazido para o país os modernos quadrinhos americanos e europeus, além de lançar o underground que vinha da Costa Leste norte-americana, encabeçado por Robert Crumb e Gilbert Shelton”, lembra o pesquisador.
Como muitos de seus livros, A Morte do Grilo nasceu de uma reportagem que o baiano radicado em São Paulo realizou. “No caso, para a Gazeta Mercantil, em maio de 1998. O gancho na época eram os 25 anos da proibição da revista de circular pela censura. Na ocasião, entrevistei 17 pessoas, inclusive todos os editores”.
Entre as curiosidades da pesquisa para o livro, Gonçalo encontrou muitos personagens importantes na história editorial do país que faziam parte dos arquivos dos órgãos de repressão.
“Encontrei até um senhor ilustre fichado por causa das publicações da Editora Art & Comunicação, Victor Civita, dono da Editora Abril. Ele foi fichado como subversivo porque sua distribuidora, a Dinap, fazia circular jornais alternativos em São Paulo”.
Outro aspecto curioso garimpado pelo escritor foi o grau de envolvimento de alguns jornalistas da editora com a luta armada. “A militância da turma era intensa e quixotesca”.
Gonçalo estranha que apenas o fanzine O Balão – um dos 'filhos' bastardos do Grilo na época – costuma ser lembrado como referência desses tempos sombrios desse tipo de publicação no Brasil.
“Talvez por não ter praticamente publicado nada brasileiro, causou alguma antipatia", teoriza. "Ou se trata mesmo de desconhecimento, de ignorância histórica, da falta de capacidade dos nossos historiadores em perceber sua importância”.
Comentários