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CULTURA

HQs com alma de Adoniran

Baseado nos clássicos do cantor e compositor paulista, álbum 'Quaisqualigundum' vai além da adaptação de suas letras

Publicado em 24/08/2014 às 8:00 | Atualizado em 11/03/2024 às 10:53

“É sempre uma responsabilidade monstruosa tocar na obra de um gênio, seja Beethoven, seja Einstein, seja Miles Davis, seja Garrincha”, coloca o rapper Emicida na orelha de Quaisqualigundum (Dead Hamster, 96 páginas, R$ 45,00), álbum criado por Roger Cruz e Davi Calil baseado em músicas de Adoniran Barbosa (1910-1982).

São quatro histórias em quadrinhos que percorrem o universo de clássicos do cantor e compositor paulista: ‘Saudosa maloca’, ‘Apaga o fogo, Mané’, ‘Um samba no Bixiga’ e ‘Samba do Arnesto’.

O próprio título faz uma referência direta ao refrão de ‘Trem das onze’, uma das canções mais conhecidas do sambista, que também aparece como coadjuvante na roda de samba de uma das histórias presentes no álbum.

Em Quaisqualigundum, os autores não fazem uma mera adaptação das letras de Adoniran Barbosa. Eles complementam e revelam outras facetas dos personagens protagonistas das músicas, mantendo a ‘alma’ de Adoniran, com ‘causos’ cheios de tragicomédia, boemia, urgência social e linguajar popular paulista.

Responsável pelos roteiros, Roger Cruz – famoso pelos seus trabalhos como desenhista de super-heróis da Marvel Comics como Homem-Aranha e X-Men – teve seu primeiro álbum autoral, Xampu – Lovely Losers, lançado em 2010 pela Devir. Já a arte da HQ ficou por conta de Calil, que mistura as técnicas de aquarela e guache com uma narrativa fluida e matizes que casam com o ritmo das adaptações.

Ano passado, Calil lançou a independente Surubotron! (Dead Hamster), uma narrativa ‘muda’, mistura ficção científica, aventura e pornografia. Ele também faz parte da equipe criativa da Graphic MSP que será estrelada pela Turma da Mata, baseado nos personagens de Mauricio de Sousa.

Confira a seguir uma entrevista com os autores, que contam sobre os detalhes e curiosidades do processo criativo de Quaisqualigundum.

ENTREVISTA

JORNAL DA PARAÍBA - Qual é a relação do Adoniran Barbosa na vida de ambos? Como foi o primeiro contato com sua obra fonográfica?

DAVI CALIL - Foi quando moleque, nas rodas se samba que aconteciam na minha cidade natal, Guararema (SP). Já gostava mas nem sabia que eram de Adoniran. Achava que eram do Demônios da Garoa. Um pouco depois, acho que uma de suas músicas foi parar numa novela (Sassaricando, de 1987), se não me engano era ‘Tauba de tiro ao Álvaro’. Daí, um pouco mais velho, fui juntando os pontos e percebi que todas aquelas músicas que eu gostava e que tinham trejeitos engraçados eram do mesmo compositor, um tal de Adoniran Barbosa. Virei fã na hora.

ROGER CRUZ - Conheço as músicas do Adoniran desde criança. Minha mãe ouvia e cantarolava quando elas tocavam no rádio. Cresci ouvindo Adoniran e sempre me identifiquei com as histórias que ele contava nas músicas. Mas foi em 2009, ouvindo uma playlist na internet, que comecei a fazer as perguntas que me levaram a escrever as HQs do Quaisqualigundum: quem eram “Eu, Matogrosso e Joca”? Como eles se encontraram e como foram parar na maloca querida? Para onde foi Inez? Por que não voltou? Por que rolou uma briga no samba no Bixiga? Por que o Arnesto não estava no Brás no dia combinado para o samba?

JP - Ao invés de meramente quadrinizar as canções, você descortina todo um universo dos personagens. Onde mais você buscou inspiração para esse exercício nem sempre apoiado nas letras?

RC - É o efeito das músicas do Adoniran sobre mim. Elas sempre me fizeram pensar que todos esses personagens existiram ou existem. E, assim como ele se baseou em pessoas que conhecia para criar os personagens das músicas, eu me baseei nas músicas para criar os personagens das HQs. Todos os personagens se parecem com alguém que a gente conhece ou já ouvimos falar. Então, apenas quadrinizar seria muito fácil e não acrescentaria nada. Esperamos que o leitor, quando estiver lendo as HQs ou ouvindo Adoniran, possa imaginar tanto quanto nós enquanto produzíamos o álbum.

JP - Como foi a sua pesquisa para compor os personagens e os lugares como a Mooca, o Brás e o Bixiga?

DC - Fiz toda a parte de criação trocando ideias com o Roger, saindo pelas ruas de São Paulo pra fotografar, olhando fotos antigas na internet e usando a imaginação. Roger sempre me deu total liberdade de escolher o caminho artístico a ser seguido. Soltei a mão e a coisa saiu muito naturalmente, parece que os personagens já estavam lá dentro da minha cabeça, só esperando uma oportunidade de pular pro papel. Quanto aos bairros, você encontra resquícios, mesmo estando bem diferente do que era na época do Adoniran. Se alguém observar com cuidado, vai encontrar algumas fachadas de prédios antigos, sobre vitrines de lojas, fios de postes, pichações e prédios modernos.

JP - Você se baseou em algum “causo” real em uma das quatro HQs? Um exemplo era que o Ernesto existia e até afirmava que não tinha acontecido o tal “sumiço” dele...

RC - Fiquei sabendo do caso do Arnesto real depois de ter escrito a minha versão. Por coincidência, eu estava escrevendo as duas últimas HQs do álbum no centenário do Adoniran (em 2010). Evitei as notícias sobre ele e suas músicas o máximo que pude. De propósito, quis que as histórias do Quaisqualigundum fossem únicas e sem compromisso com os “causos” que inspiraram as composições. Pelo que já ouvi, nem ele era tão compromissado assim com a “verdade” das histórias que ouvia e depois recontava nas letras. Como dizem “Quem conta um conto aumenta um ponto”. Agora estou aqui, aumentando um monte de pontos nos “causos” do Adoniran.

JP - As cores são um ponto importante na narração. Poderia falar um pouco de como foi pensada?

DC - Eu também trabalho com animação e acabei adotando para esta HQ um princípio chamado color script (traduzindo toscamente, “roteiro das cores”), que consiste em planejar a paleta de cores da história inteira, ainda na fase dos layouts. Tentei fundir ao máximo a paleta de cores com os acontecimentos da história. O resultado foi esse.

JP - Como foi a cooperação do Quaisqualigundum? Nos extras, percebe-se que o Roger Cruz também esboçava tumbnails para servir de guia na composição das páginas.

DC - Eu sou muito fã do trabalho do Roger, aprendi muito. Recebi a maioria das páginas de roteiro com alguma indicação de desenho – às vezes bonecos de pauzinho, noutras desenhos lindos. Como disse, tive liberdade de fazer a arte como queria, mudei algumas das indicações que ele enviou e segui muitas outras. Isso foi uma bela mão na roda e, no final das contas, o trabalho ficou com uma cara especial. Acho que a HQ ganhou muito com essa simbiose...

RC - Puxa, foi fácil demais essa parceria. O Davi é um grande amigo e um artista incrível. Fiz os thumbnails porque este é o único jeito que consigo fazer roteiros de HQs e é como faço quando eu mesmo desenho. Mas o Davi teve liberdade total e, em muitos casos, mudou enquadramentos, expressões, etc. Mudanças estas que enriqueceram muito. Foi um trabalho feito em parceria em todas as etapas.

Imagem

Jornal da Paraíba

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