CULTURA
Invasão cearense no palco
Coletivos teatrais de Fortaleza chegam à Paraíba para apresentações em Sousa e João Pessoa ao longo do fim de semana.
Publicado em 23/01/2015 às 6:00 | Atualizado em 28/02/2024 às 16:12
Na selfie devidamente compartilhada nas redes sociais, o diretor Thiago Arrais aparece ao lado de um dos dois motoristas que vão se revezar em uma viagem de quase 12 horas até João Pessoa.
Embarcam com eles mais nove integrantes do Coletivo Soul, todos ostentando o sorriso protocolar que marca a partida de Fortaleza (CE), onde os convidados do Projeto Piollin Teatro mantêm uma sede na Parquelândia, bairro histórico da capital cearense.
O grupo chega à Paraíba para apresentar Hamlet: Solo, segundo espetáculo de uma trilogia dedicada ao "poema ilimitado" de Shakespeare (1564-1616), na precisa descrição do crítico americano Harold Bloom. A peça fica em cartaz no Centro Cultural Piollin amanhã e domingo, às 20h. Os ingressos custam R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia). Trata-se de uma das últimas aventuras motivadas pela tragédia do príncipe que, desde 2009, é o centro da pesquisa de um coletivo que surgiu em uma casa de rock, com uma dramaturgia de motivações punk-anarquistas.
"Nós fazíamos um teatro político e festivo, que chamamos de Teatro-Rave", explica Thiago Arrais, lembrando da primeira montagem, Rãmlet Soul, inspirada no Hamlet-Máquina (1977), de Heiner Muller (1929-1995). "Nós tínhamos uma proposta multidisciplinar e trabalhávamos a ideia de multidão. O Solo, agora, remete-se à solidão, ao isolamento e à subjetividade, embora não seja um monólogo."
HAMLET NA BANHEIRA
Com o mínimo de cenário, o grupo coloca em cena um personagem em uma banheira e outros seis atores que são, segundo o diretor, projeções desse personagem. Um músico acompanha o elenco do início ao fim do espetáculo e executa a trilha sonora ao vivo. A encenação vai procurar explorar o espaço do casarão aos fundos da Piollin, seguindo uma linha de pensamento do próprio Coletivo Soul. "Raramente realizamos este espetáculo em caixa cênica", revela Arrais. "Gostamos de trabalhar o espaço teatral como um elemento vivo, concreto e presencial."
Uma filosofia que o grupo leva para dentro de sua sede, um ponto de convergência para o convívio com outros coletivos que vão conhecendo na estrada, em circulações como esta que chega à Paraíba. "Independente de editais, que são sempre bem-vindos, queremos estabelecer e parcerias com os grupos da Paraíba e do Rio Grande do Norte."
A trilogia sobre Hamlet se encerrou no ano passado com Ros & Guil Estão Mortos, que se apoia em um tripé no qual se sustenta o canônico texto shakespeariano, com os seus vieses político, subjetivo e metalinguístico, refletindo sobre a própria dramaturgia.
"No último espetáculo, abordamos a fragilidade da linguagem teatral", resume Thiago Arrais.
Se Hamlet (1603) é mesmo um poema ilimitado, a obra levou o Coletivo Soul a também extrapolar seus limites. De acordo com o diretor, ainda não dá para saber o que eles vão investigar a partir de agora. "Mas certamente não será mais Hamlet", confessa, como um viajante que já chegou ao destino.
AS TRAVESTIDAS NO SERTÃO
Outro grupo cearense que pegou a estrada e escolheu a Paraíba como ponto de partida para a temporada teatral de 2015 foi o coletivo artístico As Travestidas, que está desde ontem em Sousa (no Sertão) com o espetáculo vencedor do Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga, no ano passado. BR Trans tem mais duas apresentações no Centro Cultural Banco do Nordeste do Brasil (CCBNB): hoje, às 19h30, e amanhã, às 20h30. A entrada é gratuita.
A peça é composta por fragmentos de depoimentos colhidos pelo coletivo em entrevistas com travestis, transformistas e transexuais das ruas de Porto Alegre (RS). Este sim um monólogo do ator Silvero Pereira, que também colaborou com o texto, o espetáculo tem a direção de Jezebel de Carli.
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