CULTURA
Irmãos Grimm na íntegra
Histórias de irmãos têm características surpreendentes e, às vezes, até chocantes.
Publicado em 28/10/2012 às 8:00
Cinderela sem fada madrinha, Branca de Neve sem beijo do príncipe, Rapunzel grávida e princesas sem finais felizes. Apesar dos aspectos alegres que têm os contos de fadas como conhecemos hoje, as histórias fantásticas originais dos irmãos Jacob e Wilhelm Grimm têm características surpreendentes e, às vezes, até chocantes. Mantendo fielmente os registros dos irmãos alemães, a Cosac Naify lança duas edições de uma coletânea com 156 contos traduzidos diretamente do original por Christine Röhrig.
Segundo a editora, ‘Contos Maravilhosos, Infantis e Domésticos’ (a partir de R$ 99,00) é a primeira publicação que reúne as obras de 1812 e 1815 dos Irmãos Grimm integralmente traduzidas para o português. O lançamento foi escolhido, não por coincidência, para o ano em que a primeira coletânea de contos infantis da dupla alemã completa 200 anos.
“Trata-se de um trabalho inédito editorialmente, além de um resgate de textos em versões nunca antes lidas. Assim, aqueles que já conhecem o trabalho dos irmãos Grimm podem descobrir novos textos, textos já conhecidos em novas versões e a edição também serve para pesquisadores”, explica a diretora no núcleo infanto-juvenil da Cosac Naify e editora do livro, Isabel Coelho Lopes.
Além de redescobrir contos que se tornaram clássicos com outras roupagens mais leves, o leitor vai poder conhecer histórias jamais traduzidas para o português, talvez por medo de polêmicas. Com um tom mais conservador, Clarissa Pinkola Estés publicou o livro ‘Contos dos Irmãos Grimm’ (Rocco, 2005) com apenas 53 histórias traduzidas do original.
No prefácio, ela afirma que alguns contos como ‘O judeu entre os espinhos’ - que está na edição da Cosac Naify - não deveria ser propagado. “Excluir um conto desses de coleções modernas não é uma questão de censura - os contos existem em velhas coleções para quem quiser lê-los se assim desejar. É muito mais uma questão de consciência e misericórdia pelos outros”, argumenta devido aos “estigmas raciais e religiosos criminosos” dos quais o conto é carregado.
Isabel Coelho, no entanto, adverte que essa coletânea não é destinada a crianças.
“Algumas das histórias mais pesadas desta coletânea também estão nas subsequentes, mas geralmente se edita coletâneas selecionadas, deixando essas mais fortes de fora, justamente porque existe um senso-comum de que essas histórias são para crianças. As histórias advêm da cultura popular e eram contadas pelos mais velhos às crianças de 200 anos atrás. As crianças daquela época, e seus pais, são bem diferentes das de hoje”, comenta a editora.
Ambas as edições vêm com dois volumes, assim como as coletâneas publicadas pelos Irmãos Grimm, e com luvas. Na edição especial (a partir de R$ 198,00), que tem uma tiragem de apenas 700 exemplares, as capas dos livros são revestidas em tecido com serigrafia impressa e a luva é de acrílico.
ILUSTRAÇÕES
Apesar da fidelidade ao sentido do texto, os livros fogem completamente dos originais no quesito gravuras. J. Borges foi o escolhido para ilustrar a publicação e ele escolheu a xilogravura para dar vida aos personagens dos Grimm.
“A escolha do J. Borges para essa edição era aproximar a cultura popular alemã - de onde surgem os contos - da cultura popular brasileira. Existe algo de seco, bruto, na linguagem dos textos que combina bem com o caráter das xilogravuras”, explica Isabel.
Comentários