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CULTURA

Jô e sua gula mortífera

Com enredo bem amarrado e cheio de referências históricas, novo romance policial de Jô Soares é excelente dica de entretenimento.

Publicado em 11/01/2012 às 6:30


Culto e cheio de humor para dar. Assim é Jô Soares, ator, comediante e entrevistador que vem se revelando um bom autor de romances policiais. Seus livros – quatro, até agora – são recheados de piadas-prontas, ação e referências históricas a gosto. No mais novo deles, As Esganadas (Companhia das Letras, 264 págs., R$ 36,00), todos esses quesitos se sobressaem, ou melhor, deitam e rolam em um enredo amarrado e dinâmico.

No Rio de Janeiro do Estado Novo, um serial killer acima de qualquer suspeita está exterminando gordas – termo que Jô utiliza sem arrodeios – e, graças a uma característica genética, o criminoso não deixa a menor pista. Em seu encalço, uma equipe de três detetives e uma jornalista se esforçam em elucidar os crimes batizados de ‘O Caso das Esganadas’.

Com fluência, sua narrativa simples não dá margem a criações elaboradas de Stieg Larsson. Ele constrói sua obra à moda de Arthur Conan Doyle, Agatha Christie e Dashiell Hammett – mas, ao contrário desses, a proposta de Jô Soares passa longe de dar ao leitor a missão de tentar desvendar o crime, ou o criminoso.

Logo de cara, As Esganadas entrega o assassino. É Caronte, o herdeiro de uma mortuária que, sufocado pelos arroubos da matriarca, deu cabo da própria mãe. E passou a exterminar qualquer uma que lembre sua genitora. Os crimes se sucedem cercados de requinte - algo que lembra Seven – Os Sete Crimes Capitais (2002), de David Finsher.

Para tentar solucioná-los, o famoso chefe de polícia Filinto Müller (personagem real, figura de proa da Era Vargas) convoca um delegado carioca. Este conta com seu aparvalhado assistente, um esperto detetive português (misto de Sherlock Holmes com Hercule Poirot) e uma destemida repórter da prestigiada revista O Cruzeiro, criada pelo paraibano Assis Chateaubriand no final dos anos 1920.

É na série de crimes, seguida pela investigação e entrecortada por fatos e personagens reais do Rio de Janeiro dos anos 1930 que Jô Soares encontra o terreno fértil para sua narrativa instigante e divertida. E mais do que pistas para um mistério, o texto de Jô é um prazeroso jogo de gato e rato, algo como um Prenda-me se for Capaz (Steven Spielberg, 2002) tupiniquim e de época.

Claro que para cada bom resgate histórico – como a transmissão da derrota do Brasil na semifinal da Copa de 1938 - há as infames tiradas do Jô, sobretudo nas piadas de português e nos trocadilhos típicos do programa que apresenta (como quando escreve “O tropel transforma O Ouro do Reno de tragédia épica em tragédia hípica”, para relatar um pandemônio no Theatro Municipal causado por pessoas que saem correndo em atropelos).

Como em obras anteriores, os personagens fictícios “contracenam” com personagens reais. Em determinado momento, por exemplo, a jovem repórter Diana de Souza, que integra o time de investigadores, é abordada por uma tiete de nome Maria Clara.

“Desculpe, mas pode me dar seu autógrafo? Adoro suas matérias. Meu pai é escritor e eu também pretendo escrever”, interpela a jovem. “E seu pai? Como ele se chama?”, pergunta a jornalista. “Aníbal Machado”, responde a aspirante.

É a maneira que Jô homenageia figuras importantes da nossa cultura, como o autor de Viagem aos Seios de Duília e sua filha que, de fato, veio a ser escritora, e muito famosa: Maria Clara Machado.

Leve, divertido e mais despretensioso que as obras anteriores, As Esganadas é puro entretenimento. Passatempo light que nutre o leitor de curiosidades históricas e conhecimento geral, e não engorda!

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Jornal da Paraíba

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