Lenda da world music toca nesta sexta-feira em João Pessoa

André Cananéa
Do Jornal da Paraíba

Infelizmente, como a cultura brasileira só conhece seus ídolos de axé, samba e rock (e, mais por aqui, os de forró), além de um ou outro popstar internacional, o nome Ray Lema pode soar indiferente para a maioria dos paraibanos. Mas este talentoso músico nascido no Congo e criado com educação europeia, é um dos artistas que ajudaram a definir o conceito de ‘world music’ como gênero musical.

E é ele quem estará no palco do ‘Estação Nordeste’, no Ponto de Cem Réis, na noite desta sexta-feira (29). A performance da Caiana dos Crioulos e o show do paraibano Adeildo Vieira abrem a noite, a partir das 21h.

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Ray só poderia ter chegado a João Pessoa por intermédio de Chico César (atual presidente da Funjope, a Fundação Cultural de João Pessoa, que promove o ‘Estação Nordeste’), com quem já dividiu o palco algumas vezes.

Maestro, arranjador e pianista, Ray estudou em um seminário católico (pensava até em ser padre, diz sua biografia) para ser um músico clássico, mas largou o seminário para se dedicar à música popular do mundo, venerando artistas como Jimi Hendrix. Chegou a se juntar ao Balé Nacional do Zaire, o que lhe permitiu viajar bastante e conhecer as mais diversas tradições africanas em música e dança.

Mas a junção de música folclórico com rock acabou não sendo bem aceita no Congo e, com uma bolsa da Fundação Rockefeller, foi estudar nos Estados Unidos, onde ficou até 1982, quando lançou seu primeiro álbum, Koteja. O disco lhe deu o passaporte para morar na Europa, primeiro em Bruxelas e, na sequência, em Paris, onde está radicado até hoje.

Mas foi exatamente esse seu envolvimento com a música pop que o colocou na linha de frente de um gênero que, ali, no início dos anos 80, começou a ganhar o mundo: a ‘world music’. Com essas credenciais, chegou a lançar discos pela multinacional Island Records (lar de nomes como U2 e Bob Marley), pela subsidiária Mango.

Lema chega por aqui para mostrar uma música rica em referências africanas, executadas com classe e esmero. O repertório deve contemplar os pontos altos de sua discografia – são 13 álbuns, em quase 30 anos de carreira. “Atan’dele”, que ele canta somente acompanhado pelo piano, é uma das suas mais belas canções. Se não estiver no repertório, peça!

Com Chico César, Ray chegou a mostrar “Yalelo” e “Sakana” em um palco da Itália (os vídeos estão no canal oficial do africano no Youtube). Seria um grande momento se o paraibano repetisse a performance hoje à noite.