CULTURA
Literatura self-service
Autopublicação: entenda como funciona e saiba quem já aderiu à nova onda editorial.
Publicado em 26/05/2013 às 14:00 | Atualizado em 13/04/2023 às 18:07
Para muitos escritores, o desejo de ver seu nome impresso na capa de um livro era um sonho distante, dificultado pela recusa das editoras a publicar autores novos e pelos altos custos que envolviam as edições independentes das obras.
Com as novas tecnologias, a situação mudou de figura: o propalado fenômeno da 'autopublicação' já é uma realidade e mobiliza um mercado que rendeu verdadeiros êxitos editorias como Cinquenta Tons de Cinza, livro que se beneficiou da tendência antes de estourar, em 2011, e é um dos marcos citados por quem não quer mais dar com a cara na porta antes de ingressar nas livrarias.
"No modelo tradicional de publicação, as editoras não querem fazer apostas muito arriscadas e estão contratando cada vez menos escritores novos", afirma o empresário baiano Ricardo Almeida. Há quatro anos, Ricardo era um aspirante a escritor que, depois de ter o seu primeiro romance rejeitado por várias editoras, reuniu-se com dois sócios e fundou o 'Clube de Autores', site que tem o objetivo de facilitar a autopublicação de livros.
Hoje, o 'Clube de Autores' tem um catálogo com mais de 30 mil títulos, todos publicados sem a intermediação de nenhuma editora. "A vantagem da autopublicação é que o autor é quem define quanto quer receber de direitos autorais, e o preço final do livro é definido a partir deste valor", explica o diretor-presidente da plataforma gratuita, onde é possível ter acesso a todas as ferramentas necessárias para produzir um livro.
Autor de Ninguém Matou Baltazar, coletânea de contos recém-lançada pela Editora da Universidade Federal da Universidade de Campina Grande (UFCG), Ramilton Marinho é um dos escritores que foram revelados pelo 'Clube de Autores' e que acabaram despertando o interesse das editoras formais.
Professor de sociologia, Marinho lançou seu livro de contos primeiro através do 'Clube de Autores', em 2011, e só depois a obra ganhou nova edição pela editora universitária, com tiragem e distribuição feitas da forma convencional.
"Resolvi publicar Ninguém Matou Baltazar de maneira autônoma porque não tinha tempo para procurar uma editora nem capital para financiar a edição em uma gráfica", afirma Ramilton Marinho, que tem outros dois livros disponíveis para venda no 'Clube de Autores': os romances Sete (2010) e Pau-de-Arara (2011).
"A coisa mais importante da autopublicação é que ela serve de estímulo, já que você tem a possibilidade de ver materializado o seu trabalho. Além do mais, você pode montar o seu próprio livro, o que é um trabalho bastante prazeroso", acrescenta o autor.
Segundo Ricardo Almeida, apesar da opção de dispor da obra, depois de pronta, em formato e-book, cerca de 95% dos membros do 'Clube de Autores' preferem comprar e vender seus livros em versões impressas. Marinho, por exemplo, optou por comprar seus próprios livros e distribuí-los entre os seus leitores. "É uma forma de divulgar o meu trabalho", justifica.
Há quem aderiu ao sistema da autopublicação de um jeito completamente independente, sem o auxílio das plataformas. O paulista Marcelo Antinori, radicado nos EUA, inspirou-se no modelo adotado pelos autores do país onde mora (que produzem os livros digitalmente e anunciam em sites como a Amazon.com) e vende sua literatura diretamente nas lojas virtuais e em seu site pessoal.
"O mercado americano é um mercado quase que ideal: os leitores sempre encontram o que querem comprar, as editoras publicam o que querem e qualquer autor pode autopublicar seus livros", diz Antinori, que traduz as versões espanholas das próprias obras e tem leitores em toda a América Latina.
"Alguns dias atrás recebi dois emails de pessoas comentando que tinham comprado meu livro, naquele dia, em Córdoba, na Argentina e em Trujillo, uma cidade no Peru onde nunca estive.
Isso não seria possível com o livro tradicional pois apenas os 'best sellers' justificam uma distribuição a este nível", sugere o autor, que arremata, apontando as duas grandes vantagens da autopublicação na web: "Publicar um livro digital é mais simples sem dúvida mais barato".
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