CULTURA
Livro mostra relação entre religiosos e políticos em festa de padroeiro no Sertão
“Religião e Política Festejam o Sagrado Coração de Jesus na Paraíba” vai ser lançado em CG.
Publicado em 02/02/2018 às 9:07
O Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em Campina Grande, sedia nesta sexta-feira (2), às 19h, o lançamento do livro “Religião e Política Festejam o Sagrado Coração de Jesus na Paraíba”, de autoria de Francisco Jomário. O MAPP fica localizado na Avenida Severino Cruz, às margens do Açude Velho, no Centro.
O livro, que possui 148 páginas e saiu pela Editora Bonecker, é resultado da dissertação de Francisco para a obtenção do título de Mestre em Ciências Sociais, pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Assim, a obra trata dos resultados obtidos durante a pesquisa dele, realizada entre os anos de 2012 e 2013, tendo como campo de estudos a cidade de Santa Cruz, localizada no Sertão paraibano, e, como objeto investigado, a festa dedicada ao Sagrado Coração de Jesus e as relações políticas envolvidas na execução dela.
De acordo com o autor, o auge da festa do Sagrado Coração de Jesus é a realização do leilão, que acontece na oitava noite do novenário. “Todos acorrem para comerem, beberem e dançarem em praça pública. É a hora extraordinária da sociedade católica local e produz comentários e lembranças que perduram. O leilão é o momento ritual que congrega e reúne todos os outros momentos da festa. É o dia de celebrar tudo que foi doado e preparado para a grande festividade. Dia de se vestir com a “roupa de festa”, aquela que só se usa nos domingos ou em ocasiões cerimoniais. É a oportunidade de pôr o que se tem de melhor, perfume, sapato, maquiagem e roupa. E os políticos não ficam de fora”, explicou.
Festa da barraca
Ele acrescentou que a “festa de barraca” é o ápice da política, o momento do “bom político” expressar seu amor e devoção ao santo, o lugar para o político distribuir sorrisos largos, abraços apertados e uma rápida conversa com os conhecidos e a população em geral. “Quando ocorrem os leilões, que são sediados no interior do pavilhão ou barraca, há uma verdadeira disputa entre grupos políticos que se enfrentam para ver quem demonstra publicamente possuir maior poder, maior generosidade para com o santo, para com a população, para com os seus prepostos. Durante a gestão do Padre Djacy Brasileiro ficou proibida a venda de bebidas alcoólicas e a realização do leilão. Essas proibições duraram aproximadamente quatro anos, sendo um dos motivos que me levaram a realizar essa pesquisa e o livro. A proibição deixou de existir logo na primeira festa organizada pelo novo pároco, José Roberto. Esse fato ocorreu justamente no ano de 2012”, disse.
Devoção do povo
Para Francisco Jomário, a festa do Sagrado Coração de Jesus comunica a devoção de um povo a um santo padroeiro, mas reproduz, por fim, a seguinte lógica: quem tem dinheiro, come e bebe, quem não tem, apenas observa torcendo para ser contemplado com uma cerveja ou pratinho de frango. Outro fator que surgiu durante as leituras e análise das entrevistas, segundo apontou o autor, e que também está presente no livro, foi a detecção do surgimento do político profissional, aquele que utiliza o Estado como forma de promoção pessoal, fazendo com que seu poder aumente, sendo possível a sua estadia em cargo público.
“Esse balcão de negócios é visível entre Igreja e Prefeitura e entre prefeito/vereadores e eleitores, ora em escala reduzida, ora em escala ampliada. A festa do Sagrado Coração de Jesus ganha mais notoriedade durante o ano eleitoral, sendo esquecida por grande parte dos políticos e futuros candidatos em anos em que não ocorrem eleições. E podemos afirmar que sim, ano após ano a festa é apropriada, mudanças ocorrem no modo de se festejar, os políticos se reinventam no modo de apropriação. Na festa, eles buscam fortalecer seu capital político e social”, finalizou.
Mais sobre o autor
Francisco Jomário Pereira possui graduação em Licenciatura em Ciências Sociais (2010), graduação em Bacharelado em Ciências Sociais (Antropologia 2014) e mestrado em Ciências Sociais pela UFCG (2014). É doutorando em Sociologia por meio da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Tem experiência na área de Antropologia e Sociologia, atuando principalmente nos temas Religião, Festa, Política e Gênero. Também é acadêmico de Direito da UEPB.
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