CULTURA
Luciana Hidalgo lança romance sobre Lima Barreto
Obra foi recém lançada pela Rocco. O romance O Passeador (192 págs., R$ 26) constrói um personagem terno, puro e idealista.
Publicado em 03/11/2011 às 6:30
Pesquisadora dos limites entre sanidade e loucura em Lima Barreto, a jornalista Luciana Hidalgo recorreu à ficção para mostrar uma face menos conhecida do escritor. Recém-lançado pela Rocco, o romance O Passeador (192 págs., R$ 26) constrói um personagem terno, puro e idealista.
Ao percorrer a juventude de Lima Barreto (1881-1922), antes de ele publicar os livros que o tornariam respeitado, Hidalgo revela um homem já mordaz, mas bem mais suave que aquele da fase adulta --amargurado, belicoso e atormentado por alucinações decorrentes do álcool.
"Ele buscava a sinceridade, a verdade e a pureza. Mas, com as dificuldades e a rejeição que enfrentou, inclusive da crítica, foi se amargurando. Por isso que escrevo que só é muito cínico quem um dia já foi muito ingênuo", conta a autora.
O primeiro mergulho de Hidalgo no gênio do autor de Triste Fim de Policarpo Quaresma produziu Literatura da Urgência - Lima Barreto no Domínio da Loucura (Annablume), ganhador do prêmio Jabuti de crítica literária em 2009 e derivado da sua tese de doutorado em literatura comparada na Uerj (Universidade do Estado do RJ).
Se naquele trabalho a jornalista investigou a influência da experiência manicomial sobre a escrita de Lima Barreto, agora a aventura ficcional lhe garante maior licença para mesclar gêneros.
Meio novela, meio romance, O Passeador - que recebeu a Bolsa Funarte de Criação Literária, de R$ 30 mil - agrega pitadas de história e ensaio e traz dados biográficos e trechos do diário de Lima Barreto.
O cenário é o Rio da belle époque, entre 1904 e 1905, um caótico canteiro de obras da reforma urbana do prefeito Pereira Passos. O personagem de Lima Barreto, identificado pelo primeiro nome do escritor, Afonso, é o "passeador" do título, que, inconformado com a descaracterização da cidade, faz vigílias noturnas observando as alterações.
Durante o dia, divide-se entre o trabalho burocrático na Secretaria da Guerra e as idas ao sebo do livreiro português Tiago, onde trabalha a jovem Sofia, cuja origem a trama desvenda aos poucos - e com quem Afonso mantém um flerte platônico.
Nascido há 130 anos no Rio, o que justifica tantos títulos em torno dele em 2011, Lima Barreto foi um celibatário. Ia a prostíbulos, mas, recorda Hidalgo, saía enojado.
Seria Sofia um alter ego de Luciana Hidalgo? "Tem um pouquinho, sim. A paixão pela literatura, o idealismo. Mas Sofia também é meio que um duplo feminino dele".
Hidalgo, 46, é autora da biografia de outro artista a ter sua obra impregnada pela internação manicomial: Arthur Bispo do Rosário (1911-1989). (Da Folhapress)
Ex-repórter do Jornal do Brasil e de O Globo, a carioca Hidalgo, 46, mora temporariamente na França, onde faz pós-doutorado (Da Folhapress)
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