Luiz Gonzaga volta ao topo das paradas em 2023 com versões em funk e pagodão

Daniel Gonzaga, cantor, compositor e neto de Luiz Gonzaga, falou sobre o tema ao Jornal da Paraíba.

Luiz Gonzaga, o rei do baião. | Imagem: Arquivo

O ano de 2023 marca a redescoberta de um dos maiores ícones da música nordestina: Luiz Gonzaga. O pernambucano que ganhou o Brasil com muito forró, xote e baião teve diversas músicas regravadas em ritmos como funk, pagodão baiano e piseiro, e essas músicas voltaram ao topo ficando entre as mais ouvidas nas principais plataformas de áudio.

Músicas como “Sentaê“, de Léo Santana, que faz referência a “Vida de Viajante”, de Luiz Gonzaga, “Vai Novinha An An An“, de MC Dyamante, e “Karolina“, de O Érótico e Jonas Esticado, que referenciam “O Cheiro da Karolina”, hitaram este ano. “Karolina”, inclusive, ficou entre as mais votadas numa enquete do g1 para eleger a música do São João 2023 de Campina Grande.

O fenômeno de “redescoberta” das canções levanta vários debates. O primeiro deles a respeito da permissão para quem deseja usar as melodias para recriar novas canções. E há, ainda, outro ponto ainda mais polêmico: as letras com cunho pejorativo que são gravadas usando as melodias de Gonzagão e de vários outros ídolos da música nordestina.

Para entender este fenômeno, o Jornal da Paraíba conversou com Daniel Gonzaga, que é cantor, compositor e neto de Luiz Gonzaga (veja a entrevista na íntegra abaixo).

“Redescobrimento” de Luiz Gonzaga

Daniel Gonzaga se refere ao novo momento da música de Gonzagão no Brasil como um redescobrimento. O fenômeno serve para apresentar o rei do baião a gerações que não tiveram a oportunidade de o conhecer.

Gonzagão não retorna porque nunca foi. O que acontece é um redescobrimento dessa obra e um aproveitamento dele para lançarem outras obras. É um tema muito extenso.

Autorização para regravações

Segundo o membro da família de Gonzagão, as primeiras regravações da música de Luiz Gonzaga não obtiveram autorização porque não houve contato prévio. Já os demais casos, como na música de Léo Santana e no show de João Gomes que teve a “participação” do rei do baião com inteligência artificial, a família de Luiz Gonzaga foi contatada.

Há dois tipos de regravação de Gonzaga hoje. Começou com uma que não houve pedido. As músicas não são da família do Gonzaga, o Gonzagão tem suas músicas espalhadas por diversas editoras…. E esse pedido é feito às editoras. O que aconteceu em primeiro lugar laçaram uma versão, a gente não estava sabendo disso, e essa versão estourou e a gravadora acabou querendo negociar com a gente para lançar essa versão”, disse.

Eu defenderia um pouco mais Gonzagão mas entendo que a juventude deve conhecer Gonzação e foi conhecido através dessa primeira versão“, explica.

Eu recebi pedidos do Léo Santana, do João Gomes, e eu autorizei. Porque a primeira versão que estourou não havia sido autorizada, e pelo menos eles entraram em contato com a família pedindo, e é claro que é interessante pra família autorizar isso, porque hoje jovens estão escutando Gonzagão novamente”, diz.

Luiz Gonzaga
Luiz Gonzaga é um dos maiores nomes da música brasileira. | Imagem: Arquivo

Letras das músicas

Há, ainda, um debate sobre as letras de cuinho pejorativo que fazem uso das melodias de Luiz Gonzaga. Sobre essa questão, Daniel acredita que o debate é profundo e vai além da música de Luiz Gonzaga.

Tem a questão das letras de cunho pejorativo, mas aí a gente vai ter que discutir essa questão pelo país inteiro. A música é muito dinâmica a gente não pode reclamar de determinados tipos de música, você vai ter um baião pejorativo, vai ter um funk pejorativo. Se isso é uma demanda da atualidade ela tem que ser atendida de alguma forma. Não que eu concorde com isso, como eu disse em um primeiro momento a música foi ampliada utilizada de forma indevida, o que leva a gente a um debate sobre direito autoral e de imagem”, explica.

Preservação da obra de Gonzagão

Daniel também falou sobre a preservação da obra de Gonzagão. Segundo ele, cuidar do legado do avô, um dos maiores nomes da música nordestina, é uma tarefa difícil.

Se roubarem seu carro, você não vai gostar, mas a sua imagem é tão valiosa quanto um carro. A preservação da obra de Gonzaga é muito complicada porque ele entrou no patamar de domínio público, o que é uma inverdade, a imagem dele não pode ser usada a revelia. Essa preservação é muito difícil”, diz.

Daniel Gonzaga

Daniel Gonzaga é cantor, compositor e fruto de uma das famílias mais musicais do Nordeste: os Gonzagas. O artista é integrante da Ala de Compositores da GRES Estácio de Sá, tradicional escola de samba do Rio de Janeiro, e atualmente se prepara para o lançamento do DVD – Gonzaga.

Além do lançamento do novo DVD, Daniel também está em processo de gravação de outros projetos. Serão quatro EPs com estilos diferentes (MPB, Samba, Forró, Pop) e um trabalho chamado Pé de Serra, com composições em parceria com grandes nomes do mundo do forró, como: Anastácia, Xico Bezerra, Flávio Leandro, entre outros.

Luiz Gonzaga
Daniel Gonzaga, músico e neto de Luiz Gonzaga | Foto: Divulgação