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CULTURA

Luiz Ruffato bate o ponto

Escritor Mineiro fala sobre literatura e sobre a participação do Brasil na Feira Internacional do Livro de Frankfurt.

Publicado em 11/08/2013 às 6:00 | Atualizado em 14/04/2023 às 15:55

São nove horas da manhã do feriado de Nossa Senhora das Neves e Luiz Ruffato está em João Pessoa para um dia típico de trabalho. Em uma das salas do Departamento de Letras da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), metade da turma matriculada para o laboratório de vivência literária que o escritor veio promover na capital aguarda, ansiosa, pela sua entrada.

Ruffato está na porta, conversando com um outro Luiz, vigilante da universidade. Não é possível ouvir o diálogo dos dois, mas entre uma palavra e outra pode-se distinguir um longo e preguiçoso 'uai', interjeição sempre presente no vocabulário deste mineiro de Cataguases que, antes de tornar-se um dos prosadores mais respeitados da literatura brasileira, trabalhou como operário da indústria têxtil, pipoqueiro, balconista de armarinho e ajudante de botequim.

"Eu sou um trabalhador. Não vejo a literatura como magia nem nada não", diz Ruffato ao JORNAL DA PARAÍBA, por telefone, em entrevista concedida já de seu apartamento no bairro de Perdizes, zona oeste de São Paulo, onde descansa após a curta passagem pelo Nordeste.

O autor esteve no Rio Grande do Norte, Pernambuco e Paraíba participando do projeto 'Armadilhas Brasileiras' a convite da Cia. do Feijão, grupo que adaptou para o teatro seu romance de estreia, Eles Eram Muitos Cavalos (2001).

"Eu não tive nenhuma participação na escrita da peça (Mire Veja, que o grupo apresentou no Centro Cultural Piollin). Quando termino um texto literário, considero que ele já não me pertence mais e não me oponho a que o leitor faça o que quiser com ele. Se a peça é boa ou ruim, a culpa não é minha", brinca, repetindo uma das considerações com que abre os laboratórios e workshops literários que ministra desde 2007.

"São terapias em grupo em que os participantes e eu exercitamos a leitura e, para a leitura, como exercício, importa tanto o texto de um autor clássico quanto o de um autor que está estreando", reflete. "Um texto é sempre um texto e este treino é fundamental para o meu trabalho, já que quando escrevo sou meu próprio leitor. Nestes anos todos, lendo textos alheios, acabei desenvolvendo também um olhar alheio ao meu próprio trabalho".

LANÇAMENTOS

No ano em que a Cia. das Letras adquiriu todo o catálogo do escritor, a editora prevê lançar, no próximo mês, uma versão revista e definitiva de Eles Eram Muitos Cavalos, romance vencedor do Prêmio Machado de Assis no ano de sua publicação. Segundo Ruffato, um dos projetos da editora é transformar os cinco livros de sua série Inferno Provisório (2005-2011), sobre o proletariado brasileiro, em um único volume que sairá em 2015. No próximo ano, estão programadas a reedição do esgotado De Mim Já Nem Se Lembra (2007) e as publicações de duas antologias e um livro inédito, cujo título temporário é Flores Artificiais.

"Meus livros são difíceis de sumarizar porque são meio complexos formalmente", justifica, instado sobre o novo projeto. "Grosso modo, é a história de um engenheiro que é consultor da ONU e se pega em uma crise existencial que o leva ao psicanalista. Lá ele começa a contar as suas histórias, que são na verdade as histórias dos outros e não as de sua vida. É um livro que foge do meu universo mais óbvio".

Além de lançamentos, a agenda de Ruffato está repleta de compromissos em eventos literários a partir do próximo mês. No dia 1º de setembro, ele participa de uma mesa na 16ª Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro com o moçambicano Mia Couto e a brasileira Ana Maria Machado, sua futura colega na Feira do Livro de Frankfurt (Alemanha), em outubro, quando o Brasil será o país convidado e Ruffato um dos oradores oficiais.

"Eu acredito que vamos mostrar uma literatura brasileira bastante diversificada em Frankfurt", declara o autor, que comemora a indicação da tradução germânica de seu primeiro romance como melhor livro de editora independente publicado na Alemanha em 2012. "O interesse do mundo não é na literatura brasileira, mas na economia brasileira. A questão toda é saber se o Brasil vai aproveitar esta visibilidade diante do mundo, e a oportunidade de ser o centro das atenções na feira de Frankfurt não é pouca coisa".

Em meio às críticas feitas por colegas escritores quanto à segmentação regional dos autores que vão representar a nação no evento, Ruffato relativiza: "Se fossem 700 os representantes escolhidos, 7.000 reclamariam. Não há nada de estranho. Estranho seria se não houvesse reclamações". Quanto à literatura praticada fora do eixo Sudeste-Sul, porém, o olhar do antologista reconhece: "São poucas as pessoas que se preocupam em tentar entender que, além do Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba, existe uma literatura muito interessante sendo feita. Não quero dizer com isso que existem gênios que, coitados, ninguém conhece por estarem fora do circuito óbvio. Isso não existe no Brasil. O que existe são várias manifestações literárias diferentes, em várias partes do país".

Do alto de sua experiência como porta-voz literário da classe operária, Ruffato comenta também o atual contexto político brasileiro, sob a perspectiva do ficcionista que elegeu como tema o universo de um segmento social antes excluído das esferas do poder.

Em tempos em que o turbilhão das ruas começa a mover as engrenagens criativas de futuros prosadores, Ruffato demonstra cautela: "A realidade é a matéria-prima do ficcionista, mas não a realidade imediata. Pode ser que, em determinado momento, esta realidade que vivemos redunde em boas obras literárias, mas pode ser também que não. Essas coisas são imponderáveis".

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Jornal da Paraíba

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