CULTURA
Marcello Quintanilha lança álbum com personagem atormentado pela inveja
Quadrinista está em João Pessoa para sessão de autógrafos na Comic House a partir das 18h30.
Publicado em 11/04/2015 às 6:00 | Atualizado em 15/02/2024 às 12:56
Rosângela, protagonista do novo álbum de Marcello Quintanilha que ganha uma sessão de autógrafos neste sábado, em João Pessoa, é uma dentista bem-sucedida de Niterói, no Rio de Janeiro, logrando os louros de um casamento estável com um médico respeitável, junto com seus dois filhos pré-adolescentes e um carro zero quilômetro na sua garagem.
Sua vida seria perfeita, caso não fosse a inveja que sente de sua prima. Mas que sentimento é esse que a corrói, já que o alvo de seu desgosto mora com os pais depois de um casamento malsucedido, ainda não terminou uma faculdade e tem vergonha dos escândalos que o seu pai causa em virtude das corriqueiras bebedeiras?
Não necessariamente uma “resposta” pode ser encontrada nas páginas de Talco de Vidro (Editora Veneta, 160 páginas, R$ 59,90). A HQ será assinada pelo autor a partir das 18h30, na gibiteria Comic House (Av. Nego, 255, Tambaú).
“Queria trabalhar mais do que a mentalidade de um personagem”, enfatiza Quintanilha em entrevista ao JORNAL DA PARAÍBA. “Eu queria abordar temas delicados como a inveja e a pessoa que busca subsídios para ser superior, embora não verbalize isso”.
Para o quadrinista niteroiense radicado na Espanha, o fato da personagem ser mulher ou de classe média não implica dizer que tais fatos apresentados no álbum não possam ser passados por outras castas sociais ou pelo sexo masculino. “Vem do fato do que eu vivi ou testemunhei em primeira pessoa”, revela. “Rosângela e a prima não são de castas sociais tão distantes. São todas de classe média, é importante essa sutileza. Não se trata de ricos versus pobres”.
Uma dessas experiências próprias foram as idas e vindas ao consultório odontológico. “Visitei muito o dentista. Era aterrorizante a parafernália. Sentia-me intimidado com os instrumentos cirúrgicos.
Isso me agoniava muito. Cheguei nessa profissão (para Rosângela) nesse viés”.
Em Talco de Vidro, além dos diálogos naturais e coloquiais tão presentes em suas outras obras, Marcello Quintanilha promove uma narração em terceira pessoa que não é simplesmente direta: na tentativa de descrever as sensações por vezes espontâneas da protagonista, os recordatórios divagam, enfatizam ou ensaiam explicações ao leitor, junto com imagens que aparecem corriqueiramente.
“Parte do meu interesse da sedução que tenho pelo ponto de vista literário é do 'dizer sem dizer'. Em alguma medida esses sentimentos não se verbalizam ou não se verbalizam à toa. É complexo isso... Em nenhum momento você lê a palavra 'inveja' na história”, explica.
“As repetições são fundamentais, especialmente no começo da história. É uma camada espessa que você tem que ultrapassar para chegar na cerne da personagem. É arriscado, eu reconheço”.
BRASILIDADE EUROPEIA
Autor de álbuns que são verdadeiras crônicas de brasilidade como A Fealdade de Fabiano Gorila (1999), Sábado de Meus Amores (2009), Almas Públicas (2011) e a adaptação de O Ateneu (2012), Marcello Quintanilha esteve em evidência nas listas de melhores trabalhos do ano passado com Tungstênio (Veneta), HQ que se passa em Salvador, Bahia. O álbum também teve um lançamento em João Pessoa e brevemente seus balões vão ganhar 'sotaques' de países como França e Portugal.
Recentemente o quadrinista participou do Salão do Livro de Paris, onde lançou a versão francesa de Sábado dos meus Amores. Na Espanha – o país que lhe adotou – através do lançamento de Tungstênio, a crítica especializada o comparou a autores como James Elroy e Dashiell Hammett.
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