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CULTURA

Marília Pêra fala da carreira e do sucesso

Papel cômico e com falas rápidas é apenas uma pequena amostra do que ela, no auge dos seus 70 anos, ainda pode fazer.

Publicado em 17/03/2013 às 6:00

Decotes, calças justas e blusas coloridas não eram exatamente peças do figurino de uma Marília Pêra que o púbico estava acostumado a ver na TV. Até a estreia de ‘Pé na Cova’, pois é com esse visual suburbano que a atriz está roubando a cena no seriado de autoria de Miguel Falabella. Na trama, Marília dá vida à alcoólatra Darlene, que trabalha como maquiadora de defuntos na funerária do ex-marido Ruço (Miguel Falabella). O papel cômico e com falas rápidas é apenas uma pequena amostra do que ela, no auge dos seus 70 anos, ainda pode fazer.

A carreira de Marília começa lá nos anos 1960, como bailarina dos teatros de revista. De lá, migrou para papéis em musicais - onde chegou a vencer a cantora Elis Regina na disputa por uma vaga - até ser escalada para a novela ‘A Moreninha’, em 1965. Em 1972, foi protagonista de ‘Uma Rosa com Amor’ e, nas décadas seguintes, acumularia quase 40 personagens na teledramaturgia.

Sua trajetória profissional também se confunde, em certos momentos, com a história do país. A atriz chegou a ser presa pela ditadura militar em 1968, por conta da peça ‘Roda Viva’, e foi uma das responsáveis pela repercussão internacional do filme ‘Pixote - a Lei do Mais Fraco’ (1980), no qual interpretou a prostituta Sueli.

Dona de uma carreira que contou mais com papéis dramáticos do que cômicos, Marília Pêra comemora agora o sucesso da sua Darlene. Em uma entrevista exclusiva à Agência Estado, a atriz fala sobre o começo da carreira, a parceria duradoura com Miguel Falabella e a reação do público a uma personagem tão pouco convencional.

Entrevista

É verdade que sua primeira experiência no teatro foi como bailarina?
MARÍLIA - Sim. Fiz teste para ‘My Fair Lady’, em 1962. Passei e fiquei quase dois anos na montagem como bailarina. Os diretores aprovavam quem tinha a coragem de fazer uma estrela, porque naquele tempo não era comum acrobacias. Eu tentei fazer o movimento e caí deitada, mas fui admitida (risos). No mesmo período, fiz teste para os papéis das mocinhas de ‘Alô, Dolly’, mas não passei como atriz, o que foi pior. Só que logo depois consegui o papel de Rosemary em ‘Como Vencer na Vida sem Fazer Força’.

Você disputou com a Elis Regina este papel, certo?
MARÍLIA - Sim, eu ganhei porque cantava melhor que ela (risos). Na verdade, consegui o papel porque cantava um pouco e atuava um pouco. Mas nós duas não éramos conhecidas naquela época e éramos muito novas.

Como foi sua primeira parceria com o Miguel Falabella?
MARÍLIA - Eu o dirigi em uma peça de teatro, em 1978. Foi minha primeira experiência como diretora. Ele e o seu grupo praticamente me obrigaram. Foram até a minha casa, disseram que me ajudariam e eu aceitei.

Na sua opinião, o que o Miguel conservou daquele tempo?
MARÍLIA - O Miguel é o mesmo menino daquela época. Tem a mesma vulnerabilidade. Vejo isso claramente tanto no camarim quanto no palco.

Seus papéis cômicos na televisão costumam ser memoráveis, como a Milu de ‘Cobras & Lagartos’ (2006) e agora a Darlene. Como você avalia esse impacto?
MARÍLIA - Eu adoro quando esses papéis chegam até mim porque, em geral, eu sempre sou a rica e má, que tem que ficar subindo e descendo aquelas escadas imensas do cenário (risos). Quando vem uma mulher engraçada e louca como a Darlene, eu tenho que agradecer. Há muitos anos não tenho um trabalho como esse na televisão. E um Miguel Falabella lá, para me deixar fazer.

Há um certo preconceito por você ser uma estrela consagrada?
MARÍLIA - Sim, existe um preconceito de que a senhora, a dama - como eu sou tratada - não pode fazer humor. Não pode usar um decote, pois não tem o colo de uma moça. A presença do Miguel me garante, permite que eu faça a minha graça. Eu fico felicíssima de um papel como este existir para mim.

E como está sendo a reação do público?
MARÍLIA - Esses dias, no aeroporto, uma família veio me abordar. Disseram: ‘Que maravilha é a Darlene’. E foi Darlene pra cá, Darlene pra lá. Até que eles me chamaram de Marília Gabriela (risos). Ou seja, sabiam o nome da personagem e não sabiam o meu.

O Miguel Falabella escreve e protagoniza ‘Pé na Cova’. Como é contracenar com o autor do seriado?
MARÍLIA - Ele mistura as falas, fala o texto dele e o meu (risos). Ele também vai mudando e dirigindo a cena na hora. Às vezes eu preciso entender essa diferença.

‘Pé na Cova’ mescla atores veteranos e novatos, como as atrizes Luma Costa e a Karin Hils. Como é esta troca?
MARÍLIA - Eu gosto muito quando é um ator jovem, dedicado e interessado. Adoro poder ajudar de alguma forma e aprender também. Às vezes, uma pessoa que não sabe tanto pode te ensinar porque não tem vícios. Admiro muito a Luma Costa e é ótimo trocar com ela. Assim como o Daniel Torres (Alessanderson), a Sabrina Korgut (Adenóide), o Maurício Xavier (Marcão) e todos os outros. É um elenco maravilhoso.

Além de ‘Pé na Cova’, você está no teatro com o musical ‘Alô, Dolly!’, também do Miguel Falabella. Como surgiu este convite?
MARÍLIA - Estava fazendo a Maruska, de ‘Aquele Beijo’ e o Miguel me chamou para o papel. Ele já ia fazer o papel do Horácio. Caso contrário, acharia arriscado fazer esse musical sem ele.

Depois de tantos anos de carreira ainda sente um frio na barriga quando entra em cena?
MARÍLIA - Eu sempre tenho medo de entrar em cena. Fico nervosa, passo mal, tomo floral e amaldiçoo o dia em que decidi ser atriz Essa é uma dica para os jovens atores. Esse nervosismo nunca vai melhorar, só piora (risos).

Como ‘Alo, Dolly!’ é um musical você está tendo algum cuidado especial com a sua voz?
MARÍLIA - A voz é uma escravidão. Ela é frágil e eu não posso ficar conversando entre as cenas, porque a Dolly canta, dança e fala o tempo todo. Respondo só ‘humhum’ (risos).

E pensa em voltar a dirigir?
MARÍLIA - Minha praia é ser atriz. Eu dirijo muito mal, ninguém me obedece (risos).

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Jornal da Paraíba

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