CULTURA
Melodia da dor
Exibição do longa 'O Que Se Move' do diretor Caetano Gotardo, acontece nesta quinta-feira (12) no Cine Aruanda da UFPB.
Publicado em 12/12/2013 às 6:00 | Atualizado em 04/05/2023 às 16:20
Foi se deparando com três notícias em jornais – cada uma no seu tempo – que o diretor capixaba Caetano Gotardo teceu o enredo de O Que Se Move (Brasil, 2012), sua estreia em longas que será exibido gratuitamente hoje, a partir das 19h, no Cine Aruanda (CCTA da UFPB), em João Pessoa.
“Cada uma me comoveu muito e me deixou inquieto. São três histórias bem duras”, classifica o diretor ao JORNAL DA PARAÍBA, que promoverá um bate-papo após a sessão.
Depois de anos guardado em um arquivo no seu computador, o realizador conta que sempre quando se aproximava de uma, também pensava nas outras. “São histórias complexas que reforçam pra mim a sensação de um mistério guardado de como é impossível conhecer alguém totalmente”.
Para não criar uma relação forçosa entre os personagens, Gotardo frisa que há “espelhamentos” nos recortes das três histórias, onde uma “alimenta” a outra. “É um filme minimamente inspirado, mas não é totalmente dependente desses fatos reais”, analisa.
SOLTANDO A VOZ
As atrizes Fernanda Vianna (que ganhou o Kikito de Melhor Atriz em Gramado pelo filme), Cida Moreira e Andrea Marquee encarnam variações maternas diante da ausência do filho nas três narrações. Cada episódio se encerra com uma das atrizes cantando em cena seu lamento, mas como uma “única curva emocional”, de acordo com o diretor.
“É um fio emocional que sai de uma história pra outra”, descreve Gotardo, que buscou nesses momentos musicais a “sensação de transbordamento dos personagens”.
As canções-narrativas que reverberam por O Que Se Move têm letras do próprio realizador e melodia de Marco Dutra, cineasta de Trabalhar Cansa (junto com Juliana Rojas). Além de atrizes, Cida Moreira e Andrea Marquee possuem carreiras como cantoras. Já a Fernanda Vianna também demonstra seus dotes musicais em cena no Grupo Galpão.
“Cida sempre fala que a cena da canção ela não a faz como cantora”, relembra. “Sou fã delas há muito tempo. Sentia nelas no palco muito cênicas, interpretando as músicas como personagens”.
Sobre a ausência do longa – produção do coletivo paulista Filmes do Caixote, turma que inclui Dutra e Rojas – no circuito comercial em vários cinemas do país, o diretor aponta que este problema não é exclusivo do Brasil. “O mundo está num momento difícil pro cinema independente. O mercado encolheu”, sentencia, exemplificando que O Que Se Move também encontrou o mesmo impasse em lugares como a França.
“No Brasil tem a dominância das comédias e franquias televisivas onde as salas se apegam unicamente a esse modelo. Temos que encontrar outras formas para a formação de um público”.
Em fase de roteirização, o próximo projeto de Gotardo (junto com Marco Dutra) é Todos os Mortos, filme de época também centrado em três mulheres, tentando se adaptar em São Paulo durante o declínio da economia cafeeira.
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