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CULTURA

Memórias de André Midani são perpetuadas em livro e série de televisão

 'Do Vinil ao Download' não é novo, é o mesmo de 2008, recolhido das livrarias por força de uma ação e disponibilizado na internet.    

Publicado em 29/03/2015 às 8:00 | Atualizado em 16/02/2024 às 11:08

Nascido na Síria, criado na França e morando no Brasil desde os 20 e poucos anos de idade (com eventuais temporadas em outros países), André Midani, hoje com bem vividos 82 anos, ajudou a moldar a música brasileira. Não é cantor, compositor, nem mesmo instrumentista - muito embora tenha tentado tocar bateria na adolescência. Mas graças a ele, hoje podemos ouvir Araçá Azul, Tábua de Esmeralda, Phono 73, Nós Vamos Invadir Sua Praia e tantos outros discos antológicos.

Executivo do meio musical, Midani era, como se diz no popular, quem “mandava prender e mandava soltar” na indústria fonográfica. O “era” é porque, como ele mesmo diz, sua carreira nasceu com o vinil e morreu com o MP3. Nesse intervalo, transitou entre o showbusiness mundial, viu o rock crescer, assim como todos os movimentos desde então, e travou contato com figuras internacionais como Brian Epstein (empresário dos Beatles), Chris Blackwell (fundador da Island Records) e Ahmet Ertegün (da Atlantic Records), além de músicos como Eric Clapton.

O aprendiz de padeiro que veio ao Brasil fugindo da guerra e, ao chegar aqui, deu a sorte de ter sido confundido com o representante de uma gravadora estrangeira e logo descolar um emprego numa multinacional do disco no Rio de Janeiro, coleciona muita história para contar.

Aposentado, vê suas memórias se perpetuarem em livro e agora em uma série de televisão comandada por Andrucha Waddington e Mini Kerti. O livro não é novo, é o mesmo de 2008, recolhido das livrarias três meses depois de lançado por força de uma ação movida pelo ex-dono da gravadora RGE, Enrique Lebendiger.

“É o que eu chamo de ‘lei Roberto Carlos’: você tem que tirar um trabalho das prateleiras porque assim uma pessoa quer”, comenta André Midani com seu inconfundível sotaque francês, por telefone, referindo-se à lei nº 10.406/02 que o Rei (um dos poucos artistas com quem o executivo não trabalhou) defende com unhas, dentes e uma banca de advogados.

Depois de censurado, Midani disponibilizou o livro na internet (sem as referências a Lebendiger, claro). “Eu pensei: eu não vou ceder ao principio da censura, porque durante a Ditadura, eu ajudei os artistas sobre os quais eu tinha responsabilidade profissional a resistir à censura, então não seria eu a ceder na primeira vez que isso acontecesse comigo”.

E lá estava o livro de memórias, no mundo virtual, até que Andrucha e Mini o procuraram com a ideia de um documentário biográfico baseado na obra. O resultado é uma série de cinco episódios, de uma hora, cada, que leva o mesmo nome do livro (Do Vinil ao Download), levado ao ar pelo canal pago GNT nas noites de terça-feira (essa semana foi exibido o 3º capítulo).

Em casa, num clima de bastante descontração, Midani recebe alguns dos personagens principais do livro e de sua vida profissional. Caetano, Gil, Jorge Ben Jor, Erasmo Carlos, Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Baby do Brasil, entre outros, dão ideia das várias gerações que passaram pelas mãos do “louro francês” (como Caetano se refere a ele na canção ‘A bossa nova é foda’) e além de endossar, complementar e trazer novas informações às histórias, eles cantam e tocam juntos.
O programa deu fôlego à editora para fazer uma nova edição. André Midani - Do Vinil ao Download (Nova Fronteira, 304 págs., R$ 39,90) troca os trechos censurados por dois capítulos inéditos, histórias que surgiram na lembrança do autor depois que a primeira edição já havia sido impressa.

Num, Midani lembra do reencontro que teve com Epstein, que lhe mostrou, em primeiríssima mão, a gravação de ‘A day in the life’, incluída no antológico Sgt. Peppers, dos Beatles. “Guardei para sempre na minha coleção de pequenas vaidades o fato de ter sido uma das primeiras pessoas a escutar a mixagem final desta gravação histórica”, escreveu.

No outro, narra a divertida saga para encontrar a gravadora Factory, em Londres, e assinar o contrato de distribuição dos discos do New Order no Brasil. “Eu lancei o livro naquela época, mas não parei de escrever. Sempre que eu lembro de alguma coisa, eu sento na máquina e começo a escrever”.

Executivo popstar

A relação que André Midani mostra ter em livro e na tela com a classe artística faz do árabe mais brasileiro deste mundo uma figura única, um autêntico popstar. “Eu não acho nada de muito especial porque o Brasil é Macunaíma. Então, sendo Macunaíma, tudo pode acontecer”, compara.

O executivo atribui essa boa relação à maneira que ele encarou a indústria fonográfica desde o início da carreira. “Desde cedo, eu considerei os artistas que eu ajudava, ou gravava, como os ‘ativos fixos’ da minha companhia. Então o patrão - no caso, eu - tinha que dar prioridade a todas as preocupações que eles poderiam ter ou me dar. E isso não era bem o que acontecia em outras companhias, que para elas ‘ativo fixo’ era a fábrica, o estúdio, as contas e para essas companhias eram nomeados advogados, engenheiros, contadores. Então o ponto de partida dessa diferença foi essa visão que eu tinha sobre os artistas”.

Elogiado pela maneira como conduziu os negócios, Midani é o tipo do executivo que procurava psicólogo para entender o que faz um artista de qualidade inferior ter tanto sucesso e chegou a criar um grupo de estudo dentro da gravadora para alavancar carreiras. “Foi graças ao grupo de trabalho que se teve o Phono 73”, comenta, referindo-se ao famoso festival que reuniu grandes estrelas da MPB no palco do Centro de Convenções do Anhembi, em maio de 1973.

“Foi ali, nas conversas, as quais evidentemente eu assisti, que surgiu esse tipo de coisa, de se ter um festival que não fosse competitivo”, acrescenta, sobre o grupo que tinha em sua formação nomes como Nelson Motta, Zuenir Ventura e Artur da Távola. “Se eu considerava o artista como o ponto nevrálgico da minha companhia, então era natural que eu investisse mais dinheiro, mais tempo e mais talento para poder etendê-los melhor”.

Hoje, André Midani avalia como seria seu papel nos tempos atuais: “A vida me fez o homem certo na hora certa. Nada garante que, hoje, eu ainda seria pessoa certa para o lugar certo. O mundo do business da música está tão perturbado que até agora ninguém sabe aonde a coisa vai se estabilizar”.

E arremata: “O que se sabe é que nunca se gravou tanta música. A música tá indo muito bem, o que não tá indo bem é o business da música. E aí, como caricatura, dá para dizer que a juventude não compra mais música; ela faz sua própria música”.


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Jornal da Paraíba

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