CULTURA
Mimo ganha Ouro Preto
Cidade mineira recebeu concertos, workshops e ciclo de palestras, durante versão da mostra que teve início nas ladeiras de Olinda.
Publicado em 04/09/2012 às 6:00
Cidade de muitas ladeiras, igrejas banhadas a ouro e um frio de rachar o bico, Ouro Preto, em Minas Gerais, é a mais nova cidade a receber a Mostra Instrumental de Música de Olinda, a Mimo, que teve início em 2004 em Olinda (PE) e, a partir de 2009, passou a ter ramificações em Recife (PE) e João Pessoa (PB).
O formato adotado pela Mimo-MG, realizada entre quinta-feira e domingo na cidade de 70 mil habitantes e distante 98 km de Belo Horizonte, é muito parecido com o da matriz pernambucana. A cidade histórica mineira recebeu concertos, workshops e mostra de cinema, com o aditivo de um ciclo de palestras.
A maratona de 12 concertos começou com o dedilhado preciso da pianista paulistana Sonia Rubinsky, radicada em Paris e de destacada carreira internacional no universo erudito. Obras de Villa-Lobos (gravadas pela pianista em um disco vencedor do Grammy), Scarlatti e Mendelssohn ganharam as interpretações didáticas de Rubinsky em uma igreja construída com 400 quilos de ouro, a Matriz de Nossa Senhora do Pilar.
Egberto Gismonti dividiu o palco da bela Casa da Ópera – o mais antigo teatro da América Latina em atividade, cuja acústica é espetacular - com o filho Alexandre, em um concerto de violões e piano virtuosíssimo. Lá também foi palco do concerto erudito do Duo Milewski, cujo programa contemplou, ao violino e piano, obra de Bach, Gershwin e Debski, entre outros.
Pela manhã, a Casa da Ópera serviu ótimos papos com o fotógrafo Zeca Araújo, o impagável Jardes Macalé, o crítico de cinema carioca Mário Abbade e o maestro, compositor e o homenageado da Mimo 2012, Edino Krieger.
O trio liderado por Richard Bona e o concerto de Hamilton de Holanda se destacaram no roteiro das igrejas. O contrabaixista de Camarões, que vem a João Pessoa nesta quinta-feira com seu parceiro, o guitarrista francês Sylvain Luc, trazendo o percussionista carioca Marcos Suzano, ganhou o público da igreja São Francisco de Assis com roteiro repleto de humor e boas surpresas musicais.
Já Hamilton de Holanda, liderando um quarteto, impressionou a audiência que lotou a Igreja do Pilar com a execução perfeita de obras de Pixinguinha. Holanda também mostrou que é um compositor de peso ao executar quatro exercícios que nomeou de ‘Caprichos’, dedicados ao mestre Pixinguinha, a Raphael Rabelo e ao Sul e à Espanha.
Em um imenso palco na Praça Tiradentes, Tom Zé aportou com seu novo CD, o ótimo Tropicália Lixo Lógico. Alternando papo, pilhérias e merchandising com músicas como ‘Capitais e tais’ (dos versos “Coisa boa João Pessoa / As lagoas de Alagoas” e “Em riba da Paraíba, maluco por Pernambuco”), Tom Zé contagiou o público com provocações, performances impagáveis e calcinhas na cabeça (um dos filmes da Mostra de Cinema da Mimo foi justamente o curta Tom Zé em A Lavagem das Calcinhas Voadoras, com a onda Wando do baiano).
O mesmo palco, na noite seguinte, contou com Carlos Malta e o Pife Muderno, com a participação de Marcos Suzano (os dois, aliás, se apresentam em novembro no Carnegie Hall, em Nova York) e levaram o público de Ouro Preto a dançar ciranda e esquentar a fria noite de sábado.
Tanto em Minas, quanto em Pernambuco e na Paraíba, a programação da Mimo é gratuita (para algumas programações são distribuídas senhas, sujeitas à lotação do lugar). Em Ouro Preto, o festival contou com o patrocínio do edital Natura Musical, da Natura. Em Olinda, Recife e João Pessoa, é viabilizado com recursos do BNDS e tem apoio das prefeituras dessas cidades. (*O jornalista viajou a convite do festival)
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