CULTURA
'Missão: Impossível - Efeito Fallout' faz mesmo o impossível e se torna o melhor da série
Filme contraria tendência de Hollywood e entrega uma (sexta) sequência melhor que seus predecessores.
Publicado em 26/07/2018 às 18:24 | Atualizado em 27/07/2018 às 16:19
MISSÃO: IMPOSSÍVEL - EFEITO FALLOUT (EUA, 2018, 148 min.)
Direção: Christopher McQuarrie
Elenco: Tom Cruise, Henry Cavill, Simon Pegg, Rebecca Ferguson, Sean Harris
★★★★★
Um dos (muitos) problemas que assolam o cinema de Hollywood tem a ver com continuações. É comum ótimos filmes receberem sequências preguiçosas e ruins, que refletem mais a vontade dos produtores em fazer dinheiro do que qualquer outra coisa - recentemente tivemos, por exemplo Círculo de fogo - a revolta e Sicário: Dia do Soldado; mas algumas franquias parecem imunes a essa maldição. Missão: Impossível, que retorna aos cinemas da Paraíba nesta quinta-feira (26) com Missão Impossível: Efeito Fallout (Mission: Impossible - Fallout, 2018), é uma delas.
O sexto filme da saga protagonizada por Tom Cruise/Ethan Hunt mantém diretas relações com o episódio anterior, Nação Secreta (2015). A trama continua a girar em torno do Sindicato, uma organização criminosa que pretende pacificar o mundo através de bombardeios, assassinatos, sequestros e torturas (pois é). Desta vez, o Sindicato - personificado na figura de seu líder, Solomon Lane (Sean Harris) - está atrás de plutônio para a ativação de bombas atômicas - e claro que é Hunt quem deve impedir esse desastre, com a ajuda do agente da CIA August Walker (Henry Cavill).
Essa premissa deveras batida de Efeito Fallout logo se mostra como uma mera distração em um filme gigantesco: não apenas na duração (são quase 2 horas e 45 minutos de exibição), mas na conquista cinematográfica em si que o longa consegue estabelecer. A narrativa escrita e dirigida por Christopher McQuarrie (o mesmo de Nação Secreta) consegue balancear com sucesso doses de humor, sentimentalismo e cenas de ação que devem agradar tanto os fãs de longa data quanto os novatos à saga e deixar o espectador na beira do assento.
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Um dos grandes triunfos do filme reside em não subestimar sua audiência. Tramas carregadas de clichês e superprevisíveis estão se tornando comum em filmes do gênero - basta olhar para Operação Red Sparrow -, mas o sexto Missão: Impossível consegue, como foi dito, utilizar as convenções do cinema de espionagem a seu favor: por debaixo da história maior em torno da bomba atômica existem traições, acordos e interesses que mantêm o suspense e impedem que o público adivinhem o que vai acontecer na cena seguinte. Os mais atentos até podem resolver alguns segredos antes dos créditos finais, mas este não é um filme em que o "eu sabia!" sai fácil da boca.
Há, também, um senso de perigo que ronda constantemente a "gangue" de Hunt, que já conquistou a afeição do público desde filmes anteriores. Devido a um trabalho efetivo de construção de personagens, os espiões de Missão: Impossível deixam de ser meras peças descartáveis em um jogo e passam a ser encarados pela audiência como seres humanos que suscitam empatia e compaixão. É impossível não ficar o tempo todo preocupado com o destino de figuras como Luther (Ving Rhames) e Benjamin (Simon Pegg) - todos sabemos, afinal, que um destino infeliz para Hunt é improvável.
Mas estamos falando de uma série de filmes de ação, e são justamente as cenas em que Ethan Hunt é perseguido (ou persegue) por criminosos, corre por cima de prédios ou dirige motos, caminhões e carros de uma maneira que nenhum agente do Detran jamais faria que tornam Efeito Fallout um dos filmes mais divertidos do ano. O espectador mal tem tempo de respirar direito e, ainda assim, as sequências nunca soam repetitivas; e aceitamos de bom grado acompanhar Hunt em suas peripécias (aqui, como em todo filme do gênero, a suspensão da descrença precisa ser ativada) por cidades como Londres, Berlim e Paris. E, se é que é possível, tudo parece ser apenas um aquecimento para a louca sequência final envolvendo helicópteros na Caxemira. A trilha sonora de Lorne Balfe revisita o tema clássico da saga e a renova um senso de urgência constante. Um balde de pipoca apenas não é o suficiente.
Além disso, é importante ressaltar que Hunt, apesar de ser incontestavelmente o herói do filme, não faz tudo sozinho: ele sempre tem sua equipe à disposição, e é louvável a forma como o longa trata suas mulheres - não como mocinhas indefesas que precisam ser socorridas pelos homens (vide Arranha-céu - coragem sem limites, que também está nos cinemas), mas como agentes competentes, assassinas perigosas, espiãs com inteligência providencial. É uma pena que isso ainda precise ser destacado em 2018 - a expressão "mulheres fortes no cinema" deveria ser extremamente redundante e desnecessária -, mas é como as coisas ainda são.
Missão: Impossível chega, enfim, em sua sexta parte fazendo de fato o impossível: além de entregar ótimos filmes de ação e espionagem (isso pode ser questionado quanto ao segunda longa), a saga consegue, na verdade, tornar-se melhor a cada novo episódio, atingindo seu ápice neste último lançamento. Em tempos de uma Hollywood cada vez mais apegada a sequências desinteressantes e remakes desnecessários, Efeito Fallout é o filme que você precisa para renovar sua crença em blockbusters e no cinema de entretenimento.
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