Moldando biografia do ícone

Quando a reportagem entra na casa de Hermano José se depara com uma senhora entregando um calhamaço nas mãos do artista plástico.

É o resultado parcial que a médica e amiga Erismar Fernandes de Andrade prepara já há quatro anos: uma biografia do paraibano, que ostenta o título provisório Ícone da Arte e da Cultura Paraibana.

"O livro nascia de uma ideia de mostrar o valor que Hermano tem para a cultura da Paraíba", comenta a biógrafa.

Ao longo dos últimos anos, Erismar coletou depoimentos dos amigos e os artistas contemporâneos, além do próprio biografado. A paraibana aponta que a poesia não reside apenas no pincel, mas também em um lado pouco conhecido: os versos. "Thiago de Mello (amazonense que esteve recentemente em João Pessoa para a exposição de Frans Krajcberg) o considera um poeta", revela.

Erismar conta que ainda tem depoimentos e registros para acrescentar na obra. "A segunda parte vai apresentar testemunhos de todos os artistas da Paraíba ipsis litteris."
De acordo com a escritora, a previsão de lançamento será para o final do ano.

MISTÉRIO DA VIDA
Sobre a estrada percorrida, Hermano José não se arrepende de nada que fez e o que podia fazer dentro dos seus limites. “Eu não penso em ser lembrado”, diz aos sorrisos. “Eu quero terminar minha vida em paz. Chegar aos 90 anos não é fácil.”

Com a sensibilidade herdada do pai, tocador de violão na igreja de Caiçara, o artista ainda testemunha a sinfônica das ondas do mar a metros de sua residência, o revoar dos bem-te-vis nas árvores de seu jardim e outros pequenos milagres que a vida moderna abafa e nubla. “Quem vai prestar atenção a isso?!”
Da sua herança intelectual e física, o artista plástico julga não ter arrogância e nem vaidade. “Michelangelo, perto de morrer, dizia ‘a arte me enganou!’”, lembra o pintor.

Quando se indaga uma definição do próprio artista ao homem marcado por 90 anos pela natureza, a resposta é pronta e simples: “Eu não saberia dizer a você porque compreendo a vida um mistério muito grande e eu faço parte disso. E quem é que vai definir?”