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CULTURA

Moraes Moreira subindo ladeira

Box que traz o primeiro disco solo de Moraes Moreira junto com os três discos seguintes do cantor baiano acaba de ser lançado.

Publicado em 15/03/2014 às 6:00 | Atualizado em 18/07/2023 às 14:32

O raro disco de estreia de Moraes Moreira, o homônimo Moraes Moreira, de 1975, se tornou cult ao longo dos anos.

Misturando rock (notadamente Frank Zappa), jazz e bossa nova – influências que ele já vinha destilando, em grupo, com os Novos Baianos -, o álbum influenciou artistas do naipe de Marisa Monte, que não só regravou ‘Chuva no Brejo’ (uma das faixas do disco), como batizou seu terceiro álbum com um dos versos da canção, “Barulhinho Bom”.

Editado originalmente pela Som Livre, o primeiro disco solo do cantor, compositor e guitarrista baiano acaba de ser relançado em CD, junto com os três discos seguintes de Moraes: Cara Coração (1977), Alto Falante (1978) e Lá Vem o Brasil Descendo a Ladeira (1979).

Os quatro saem embalados na caixa Moraes Moreira - Anos 70, lançada com o capricho do selo Discobertas, com áudios remasterizados e encartes originais preservados.

“Quando eu peguei a caixa, parecia que eu estava pegando o tempo e manipulando ele com a mão”, declara Moraes, em entrevista por telefone, comentando o sentimento que teve ao pegar o box Anos 70.

“Foi um tempo maravilhoso, de autoafirmação. Por muito tempo me chamaram de ex-Novos Baianos. Mas sempre me perguntam se eu faria (os discos) diferente, hoje. Eu digo que não, faria tudo do mesmo jeito. Foi essa a minha travessia, foi essa maneira que eu ingressei na carreira solo depois que sai dos Novos Baianos. Hoje em dia eu olho para eles e vejo que foi por aí mesmo”.

Ouvindo novamente seus primeiros discos depois de longos anos, Moraes é taxativo ao eleger seu álbum de estreia como o melhor da safra. “Eu gostei do primeiro pra caramba”, exclama o músico. “O primeiro foi uma coisa de transição. E esse primeiro disco não foi um disco que fez sucesso logo de imediato; ele foi fazendo sucesso com o tempo. As pessoas foram descobrindo a importância dele. A Marisa Monte pirou com esse disco. É um disco que merece ser redescoberto".

Gravado no Rio de Janeiro com o conterrâneo Armandinho e os cariocas Dadi e Mu Carvalho e Gustavo Schroeter – que dali a poucos anos formariam A Cor do Som e estariam com Moraes nos LPs seguintes -, o disco reflete a chegada do baiano à capital carioca, onde mora até hoje.

Depois de largar os Novos Baianos e deixar para trás a vida em comunidade no sítio que abrigava ele, Pepeu Gomes, Baby do Brasil (à época, Baby Consuelo), Paulinho Boca de Cantor e Luiz Galvão, o sentimento – admite Moraes – era o de solidão.

À PROCURA DA BATIDA PERFEITA

Para Moraes Moreira, o grande desafio para fazer esses quatro primeiros discos que compõem a caixa Anos 70 foi vencer a solidão. “Eu vivia com um grupo de várias pessoas e quando eu vi, eu estava sozinho no mundo. E para chegar a carreira solo demorou um pouquinho. Mas as músicas foram chegando, foram chegando outros parceiros, poetas, e foram povoando a minha solidão e eu fui criando novos caminhos, novas músicas”.

E foi por isso que ele regravou, no primeiro disco, o hit ‘Se você pensa’, de Roberto e Erasmo Carlos, entre as 12 faixas do repertório, as demais autorais. “Eu já gostava de Roberto, já tocava músicas dele. Mas essa música mostrava como era o desafio: (cantarolando um trecho da letra) ‘Daqui pra frente, tudo vai ser diferente...’ Era isso o que eu queria dizer, era um grito de liberdade, de desafio, de acreditar que eu poderia seguir em frente”.

Entre as pérolas do primeiro álbum estão ‘Desabafo e desafio’, ‘Guitarra baiana’ - a faixa instrumental que acabou emplacando na novela Gabriela, levada ao ar naquele mesmo ano (e em sua regravação, de 2012) - e ‘PS’, que abre com uma citação a ‘ABC do Sertão’, de Luiz Gonzaga e Zé Dantas.

O disco seguinte, Cara e Coração, daria a Moraes seu primeiro grande sucesso solo, ‘Pombo correio’, fruto da parceria dele com os lendários Dodô e Osmar, precursores do trio elétrico no Brasil. “Cheguei até eles através de Armandinho (filho de Osmar)”, revela. “Em 1975 eu botei a letra em cima da melodia que eles haviam feito em 1952”, informa.

A sonoridade de ‘Pombo correio’ já apontava para os planos de Moraes Moreira de levar o trio elétrico para o disco e fazer o seu famoso “frevo trieletrizado”, ficando as bases do carnaval baiano que conhecemos hoje. “Eu queria fazer um trabalho de carnaval, e queria incorporar tanto o trio elétrico, quanto os blocos afros”, admite.

A ideia foi novamente trabalhada em Alto Falante, mas encontraria sua linguagem definitiva em Lá Vem o Brasil Descendo a Ladeira, disco que coroaria, de uma vez por todas, a carreira solo de Moraes Moreira.

“Quando eu fiz ‘Assim pintou Moçambique’ (faixa que fecha o CD de 1979), eu descobri uma batida, que para mim, foi o equivalente a descobrir a batida da bossa nova, uma mistura da música elétrica dos trios com a música do tambor. Foi assim que foi nascendo essa sonoridade baiana, que precedeu a tudo isso”.

Lá Vem o Brasil Descendo a Ladeira traz dois grandes hits: a faixa-título, dele e de Pepeu Gomes, e ‘Chão da praça’, de Moraes e o eterno parceiro Fausto Nilo. Lançada em plena Ditadura Militar, ‘Lá vem o Brasil descendo a ladeira’ foi interpretada como uma crítica aos anos de chumbo. Moraes desconversa.

“É um conteúdo mais poético do que político, porque essa música foi inspirada em João Gilberto, que viu uma mulata descendo uma ladeira e disse ‘olha o Brasil descendo a ladeira’”, justifica o cantor, admitindo que na época se falou muito do tom político da canção. “Muita gente falou na época que era o Brasil descendo a ladeira, a ladeira da Ditadura. O impulso inicial foi mais poético mesmo, mas ela serve para esse conteúdo político mesmo”.

SHOW, DISCO E LIVRO

A reaudição dos discos – sobretudo do primeiro LP – animou Moraes a revisitar suas antigas músicas no palco. No embalo dos seus 40 anos de carreira solo, ele conta que vai fazer shows com esse repertório especial e diz que gostaria muito de voltar à Paraíba com essa turnê.

O músico baiano também entra em estúdio este ano, desta vez com o filho, também músico, Davi Moraes. Quer lançar o CD até o final de 2014.

O profícuo Moraes Moreira ainda promete um novo livro de poesia de cordel, sua nova paixão que, segundo ele, bebe muito da Paraíba, dos versos de poetas como Zé Limeira e Zé da Luz, que puxa da memória sem esforço. “Não é à toa que o Poeta do Absurdo, Zé Limeira, é daí, né? Dia desses li um livro dele que me deixou extasiado”, comenta.

O novo livro de Moraes Moreira se chama Poesia no Varal e, segundo ele, deverá ser lançado no segundo semestre deste ano.

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Jornal da Paraíba

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