CULTURA
Morre o bruxo do violão
Vítima de um ataque cardíaco, músico espanhol Paco de Lucía, morreu nesta quarta-feira (26) aos 66 anos, em Cancún, no México.
Publicado em 27/02/2014 às 6:00 | Atualizado em 07/07/2023 às 12:38
Um dos nomes mais extraordinários do violão em todo o mundo, o espanhol Paco de Lucía, morreu ontem, aos 66 anos de idade, em Cancún, no México, onde passeava com a família.
Segundo um porta-voz da prefeitura de Algericas, cidade natal do músico, ele morreu vítima de um ataque cardíaco, a caminho do hospital.
“Ele foi uma das grandes referências do violão flamenco. Tirou o flamenco da Espanha e levou-o para o mundo conhecer. Foi seu grande divulgador”, atesta o violonista paraibano Cyrano Costa, especialista nesse tipo de sonoridade.
“Ele (Paco) criou técnicas e elaborou movimentos dentro desse universo, que é um universo de harmonias complexas. Ele foi um grande mestre. Alguém que queira se aproximar do universo flamenco tem que conhecer a obra dele”, completa Cyran, maestro da Orquestra de Violões da Paraíba e que, a partir de 7 de março, ministra um curso gratuito de violão flamenco na Estação Cabo Branco, em João Pessoa.
“O flamenco é o blues da Espanha”, compara o guitarrista Esmeraldo Marques, o ChicoCorrea da Electronic Band.
“Quando eu estudava violão clássico, queria ir pra Andaluzia estudar a cultura flamenca por causa da música de Paco de Lucía. Ele era visceral tocando violão”, arremata.
Emeraldo lembra, ainda, que Paco acompanhou “o maior cantor da historia do flamenco”, Camarón de la Isla (1950-1992). Juntos, gravaram mais de dez discos.
Paco de Lucía nasceu Francisco Sánchez Gómez na pequena cidade de Algeciras, ao Sul da Espanha, em 21 de dezembro de 1947. Foi descrito no livro Guitar: Music, History, Players (de Richard Chapman e Eric Clapton) como “uma figura titânica no mundo da guitarra flamenca” e pelo pesquisador Dennis Koster (autor de Guitar Atlas, Flamenco) como “um dos grandes guitarristas da história”.
“Ele deixou um super legado, não só para o violão, ou para a música flamenca, mas para todos os outros gêneros, estilos e fusões possíveis que o violão permite”, pontua o guitarrista Marcos Rosa, do Trio Jazzera, hoje estudando música nos Estados Unidos. “Nunca estudei violão flamengo de fato. Mas o que entendo é como esse violão flamenco se misturou ao jazz e a linguagem que se seguiu da influência dele”.
Como aponta Marcos Rosa, são famosos os três discos que ele gravou mergulhado no jazz, com John McLaughlin e Al di Meola: Friday Night in San Francisco (1980), Grace and Fire (1983) e The Guitar Trio (1996) além de apresentações com os mitológicos Chick Corea e Larry Coryell.
“Ele foi uma grande referência para todos os guitarristas, flamencos ou não. Foi uma fonte de inspiração para mim e muitos outros músicos mundo afora”, declara Washington Espínola, guitarrista paraibano radicado há anos na Suíça e que, por isso mesmo, lamenta não tê-lo visto em sua passagem por Genebra, no ano passado.
A influência das cordas de De Lucía se estendia à música brasileira, segundo Cyrano Costa. “O violão de Raphael Rabelo (1962-1995), por exemplo, bebeu na fonte de Paco de Lucía. Os arranjos que ele usava utilizavam técnicas flamencas, tanto quanto no jazz”, ensina.
Além do mais, Djavan contou com o luxuoso violão do espanhol na gravação de ‘Oceano’ (1990). “Djavan, para mim, é um dos grandes músicos do mundo”, declarou Paco ao jornal O Estado de SP, em novembro de 2013. “Mas me lembro ainda de Raphael Rabello, de Tom Jobim e de uma cantora chamada Maria Creuza, nunca vou me esquecer”, completou.
Em 2013, o músico esteve duas vezes no Brasil, na primeira, em julho, quando tocou no Festival de Jazz de Vitória (ES). Em novembro, voltou para mais três apresentações, em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Também pudera: havia 16 anos que não se apresentava no Brasil.
Comentários