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CULTURA

Morro, mas meu desenho fica

Dono de uma obra de forte posicionamento político e social que continua atual, Henfil completaria 70 anos nesta quarta-feira (5).

Publicado em 05/02/2014 às 6:00 | Atualizado em 20/06/2023 às 11:59

“Morro, mas meu desenho fica”, chegou a declarar mais de uma vez Henrique de Sousa Filho, mais conhecido por Henfil, um dos mais importantes cartunistas brasileiros, que completaria 70 anos nesta quarta-feira. O artista mineiro morreu aos 43 anos, em janeiro de 1988.

“Tem obra que envelhece, mas a obra dele não”, comenta Ivan Cosenza de Souza, filho do cartunista e presidente do Instituto Henfil, no Rio de Janeiro. “A sua obra mantém uma linguagem que atinge o público jovem de hoje em dia”.

Com uma obra de forte posicionamento político e social que continua atual, o cartunista influenciou toda uma geração sufocada pela ditadura militar com os traços de várias criações: a Graúna, os fradinhos Cumprido e Baixim, o Bode Orelana, o nordestino Zeferino e Ubaldo, o paranoico.

“Henfil tinha um traço caricatural e espontâneo”, descreve o quadrinista e editor Henrique Magalhães. “Ele trabalhava como se fosse a grafia dele. Ele se preocupava com a expressão espontânea”.

Nos anos 1970, como acontece com muitos que têm o primeiro contato com a obra de Henfil, o cenário universitário foi o primeiro contato de Henrique Magalhães com os trabalhos do mineiro. Tanto que, no final de 1990, fundou a única gibiteca do Estado com o nome do cartunista.

“É a minha homenagem a um dos maiores criadores do meio gráfico do Brasil. A gibiteca é para marcar e perpetuar a memória do seu trabalho”.

Atualmente, de acordo com Magalhães, o acervo da Gibiteca Henfil está aguardando a reforma em uma sala da biblioteca do Mestrado de Comunicação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), no campus de João Pessoa.

Dentre outras homenagens, a editora coordenada e criada por Magalhães, a Marca de Fantasia, publica a revista Top! Top!, baseado na onomatopeia e gesto de um dos fradinhos e que também virou um festival de quadrinhos organizado pela gibiteria Comic House, que teve sua 1ª edição em dezembro de 2012, em João Pessoa.

DIRETAS JÁ

“Henfil está fazendo falta ao país”, lamenta José Alberto Lovreto, o Jal, presidente da Associação dos Cartunistas do Brasil (ACB).

“Além de um dos maiores humoristas, ele instigava aos brasileiros a reagirem aos desmandos do poder. Tive a honra de ser amigo do Henfil quando ele morou em São Paulo”.

Henfil não foi apenas vital nas críticas ao sistema político ou à ditadura instaurada no país. Nos anos 1980, ele também era presença constante na abertura política com suas ideias e criatividades. Foi ele, segundo Ivan Cosenza de Souza, o primeiro a falar publicamente que tinha um irmão exilado, Herbert de Souza, o Betinho (1935-1997).

“A campanha pela volta do voto direto para presidente começava (nos anos 1980) e ele criou o nome ‘Diretas Já’ para o movimento”, relembra Jal. “Estávamos começando a organizar os desenhistas em uma nova associação junto ao Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. Resolvemos então como classe de artistas do traço participar ativamente da campanha”.

Indagado qual é a lembrança imediata que tem do seu pai, Ivan Cosenza de Souza aponta o jeito descontraído e expansivo de ser de Henfil, além do seu constante e alerta senso de observação.

“O seu humor do dia a dia não era diferente da pessoa pública”, aponta Ivan. “Era a mesma coisa no trabalho: ele dava as suas alfinetadas esperando sempre uma reação dos outros. Ele esperava uma reação daqueles que ficavam revoltados internamente”.

'FRADIM É REPUBLICADO EM COLETÂNEA

Baixim e seu parceiro Cumprido são os protagonistas da Revistas do Fradim (R$ 15,00 cada), coleção onde são republicados os 31 títulos lançados nas décadas de 1970 e 1980 pela Editora Codecri.

O relançamento é promovido pelo Instituto Henfil e pela Henfil - Educação e Sustentabilidade, Organização Não Governamental (ONG) que atua há mais de 10 anos nas áreas de vestibular e Enem e atualmente desenvolve vários projetos como o TV Henfil, o Guia Enem, a Revista Glocal, entre outros.

Além da republicação dos títulos, foi lançada também a revista Fradim # 0 - Edição Especial, que marca a volta da coleção e traz um pouco de cada uma das 31 revistas, para que o leitor possa relembrar ou conhecer melhor a obra do homenageado.

De acordo com Ivan Cosenza de Souza, já foram lançados 16 números da coletânea junto com a edição zero. As demais têm previsão para serem lançadas ainda este ano. Elas podem ser adquiridas através do site www.colecaofradim.org.br.

Criado por Ivan Cosenza de Souza, o Instituto Henfil ainda não tem uma sede física (atualmente está sendo na própria residência de Ivan), mas em breve terá novidades.

“O projeto é que todo o trabalho do meu pai fique acessível ao público”, resume o presidente. “Vamos armazenar e catalogar os originais. Com esse processo de catalogação, vamos disponibilizar o acervo na internet”, revela Ivan.

Enquanto um portal sobre a obra do cartunista mineiro não vem, o instituto possui uma fanpage no Facebook (www.facebook.com/instituto.henfil) e um blog (www.institutohenfil.blogspot.com.br) no mundo digital.

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Jornal da Paraíba

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