CULTURA
Mulheres, negros e LGBTs são destaque em jogo desenvolvido em CG
Diversidade de raça e gênero é abordada em jogo eletrônico que já conquista o mercado nacional.
Publicado em 02/01/2016 às 8:00
A inclusão dos grupos sociais historicamente escanteados (mulheres, negros, LGBTs) ganha destaque a cada dia nos mais diversos setores culturais – cinema, literatura e quadrinhos. No videogame, considerado a 10ª Arte, não é diferente.
Jogos como Life is Strange e o DLC (conteúdo para download extra) Left Behind apresentam personagens LGBT com a naturalidade que deveria ser abordada. Massive Madness, desenvolvido pelo estúdio Ninja Garage, de Campina Grande, também entra na lista de jogos que defendem a diversidade.
Com a jogabilidade que lembra Smash TV (título lançado em 1990 para consoles como Super Nintendo e Sega Master System), personagens trans e crossdressers fazem parte da escolha do jogador.
Desenvolvido por Rafaella Ryon e Dinart Filho, o jogo não é um produto ideologicamente à parte dos outros planejados no estúdio. “Nós sempre tivemos a atenção de trabalhar com temáticas sociais em nossos projetos, somos inseparáveis há 13 anos e já não sabemos quem tem ideia do quê", comentou Rafaella sobre o processo criativo.
Em 2014, o grupo desenvolveu um jogo em que o personagem principal não tinha gênero definido. “Também começamos um projeto sobre a história de Sir Percival e, nesse projeto, o personagem é retratado como uma mulher. Sabemos que é ruim mercadologicamente falando, mas é algo que acreditamos. (A temática social) já está virando uma marca no nosso trabalho”, explicou a desenvolvedora.
Rafaella Ryon acredita que trabalhos como este e encabeçados por mulheres têm o potencial de mudar o mercado por dentro. “Esperamos que nosso trabalho influencie cada vez mais mulheres e pessoas trans e que tenhamos uma cena gamer mais diversificada, que reflita na sociedade como um todo”.
A game developer está entre as mulheres que compõem 52% do mercado de jogos, e como muitas, ela acredita que o cenário ainda pode melhorar. “Há muitas mulheres game developers que se destacam, porém não vemos muitas em cargos de chefia. Somos subutilizadas em praticamente todas as categorias de trabalho em nossa sociedade”.
MERCADO
O jogo entrou na categoria 'Melhor Jogo de Entretenimento' do Big Starter, uma iniciativa do Big Festival 2015 para jogos em desenvolvimento. “Foi surpreendente, pois vimos concorrentes com nível técnico que consideramos bem acima do nosso que não chegaram a entrar na lista”, avaliou Dinart Filho.
Massive Madness, entretanto, não ganhou a competição. O game agora continua em fase de desenvolvimento e com planos de ser lançado até o fim deste ano, adiantou Dinart. “Muita coisa está sendo reformulada e o nosso roadmap é lançar um trailer, a campanha do Greenlight na plataforma Steam e uma linha de brindes para a campanha de crowdfunding”.
Apesar de se destacar nacionalmente, a falta de investimentos no segmento na Paraíba é apontada por profissionais como Ely Marques, cineasta e editor de imagens que colaborou na animação do game Angry Birds Space. “Temos um setor da economia superimportante no contexto mundial, que inclusive já supera a indústria do cinema”, disse.
“No âmbito nacional, os games começam a ter essa atenção, mas aqui na Paraíba continuamos na década de 1930, onde as gestões culturais são estagnadas”, lamentou.
E como o mercado se vira sem incentivos? “Fizemos algo meio perigoso nos últimos três anos: paramos paulatinamente de atender os clientes externos e reduzimos consideravelmente nossa fonte de renda para nos dedicarmos exclusivamente ao projeto”, disse Ryon.
Além de colocar o próprio dinheiro em jogo, gamedevs buscam investidores ou fazem jogos de propagandas para arrecadar fundos para projetos maiores.
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