CULTURA
'Muppet' no fundo do poço
Temas adultos como o abandono e o alcoolismo são explorados no álbum 'A Vida de Jonas', do quadrinista Magno Costa.
Publicado em 20/06/2014 às 8:00 | Atualizado em 31/01/2024 às 17:23
Imagine um sorridente fantoche do tipo Muppets, os famosos personagens criados pelo norte-americano Jim Henson (1936-1990) para a TV e cinema, com uma vida arruinada e consumida pelo álcool, como visto pelos protagonistas dos clássicos cinematográficos Farrapo Humano (1945) e Vício Maldito (1962).
Explorando essa temática, está sendo lançado o novo trabalho do quadrinista Magno Costa, intitulado A Vida de Jonas (Zarabatana Books, 64 páginas, R$ 40,00).
O personagem do título é um ex-alcoólatra desempregado e abandonado pela mulher devido às instabilidades emocionais causadas pela bebida. Lutando para ficar sóbrio, ele frequenta as sessões do Alcoólicos Anônimos para ter sua segunda chance na sua inexistente vida social.
A história sobre corações partidos, amizades testadas, fantasmas pessoais e cicatrizes que não se curam ganha uma nova dimensão com o recurso usado por Magno, que tem o auxílio do seu irmão gêmeo Marcelo Costa nas cores.
Em um mundo que remete à inocência infantil moldada por arames e espuma dos fantoches, o álbum é invadido pelo clima pesado e adulto, carregado de culpa, autopiedade, egoísmo e o vício.
Os amigos de Jonas simplesmente desapareceram do seu círculo, que se torna cada vez mais unitário pela solidão e abandono em virtude dos seus pecados pregressos ligados ao fundo de uma garrafa.
Com os bonecos que vivem como seres humanos de verdade, Magno Costa coloca a carga dramática, como os momentos egoístas ou a falta de amor próprio do protagonista, atrás do seu imutável e constante sorriso sem graça. Assim, a inexpressividade dos “fantoches” se torna uma expressividade palpável e interpretativa, em que os outros não podem ver a pessoa aparentemente tranquila e simpática gritar silenciosamente por dentro.
No álbum, a “tempestade que se avizinha” traça um paralelo para o momento fundamental na história. Assim como no relato bíblico do profeta também chamado Jonas, que acaba sendo lançado ao mar pela agitação de um temporal, vindo parar no estômago de um “grande peixe”, o arrependimento que salvou o israelita poderá preservar a vida do ex-alcoólatra.
A Vida de Jonas tem o prefácio assinado pelo quadrinista André Diniz (de Morro da favela) e esboços de estudos dos personagens com os comentários do autor nas suas páginas finais. O projeto teve o apoio do Programa de Ação Cultural de São Paulo (Proac).
Comentários