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CULTURA

Protagonista do primeiro beijo gay em Malhação fala sobre desafios de ser trans

Nila esteve no elenco de "Malhação, Vidas Brasileiras", da Globo, e de "De Volta Aos 15", da Netflix.

Publicado em 29/01/2024 às 8:01 | Atualizado em 29/01/2024 às 15:50


                                        
                                            Protagonista do primeiro beijo gay em Malhação fala sobre desafios de ser trans
Nila, atriz paraibana, fala sobre os desafios | Foto: Reprodução/Instagram

A atriz paraibana Nila protagonizou o primeiro beijo gay em Malhação, da Globo, e também fez parte do elenco da série "De Volta Aos 15", da Netflix. Em entrevista ao Jornal da Paraíba para o Dia da Visibilidade Trans, Nila falou sobre os sonhos e os desafios de suas jornadas como atriz e de autoconhecimento.

O dia 29 de janeiro marca a luta pelo respeito às pessoas transexuais. A data foi instituída como Dia da Visibilidade Trans, fechando o mês que celebra a diversidade e pauta com ainda mais força debates importantes sobre a população trans mundial.

Nila é natural da capital paraibana João Pessoa, mas se mudou para o Rio de Janeiro aos 15 anos. A mudança aconteceu para que ela conseguisse estudar teatro, e serviu para abrir várias portas para ela como atriz.

Consegui uma bolsa de estudo em uma escola-residência que era composta por pessoas do Brasil inteiro. Foi lá que pude me aprofundar em Teatro e outras linguagens artísticas como História da Arte, Jazz, Dança Contemporânea e Literatura. Também estudei Produção Cultural e acho que uma coisa foi puxando a outra".

O contato mais de perto com a arte possibilitou a Nila a consolidação de uma certeza sobre a escolha profissional. Segundo ela, a relação com as artes dramáticas sempre esteve associada "a um sentido de liberdade".

Quando se quer ser atriz é porque há uma necessidade interna incontrolável de se viver muitas vidas em uma só. Foi estudando, construindo e interpretando essas personagens e suas histórias de vida, que pude descobrir em mim minha própria humanidade e valorizar tudo o que vem com isso. Acho meu ofício bonito porque ele não só cria novas possibilidades de vida e agrega à imaginação das pessoas, mas também expande os nossos sonhos e coloca o público em contato direto com suas próprias emoções e angústias", explica.

Primeiro beijo gay em Malhação

Em 2018, a diretora artística da Globo, Natália Grimberg, descobriu Nila. Ela dirigia "Malhação, Vidas Brasileiras", novela para a qual Nila foi convidada para compor o elenco interpretando Michael.

O personagem protagonizou o histórico primeiro beijo gay em Malhação, novela exibida por anos ao fim das tardes, na Globo. A cena foi ao ar no dia 3 de outubro de 2018, às vésperas das eleições presidenciais que elegeram Jair Bolsonaro.


				
					Protagonista do primeiro beijo gay em Malhação fala sobre desafios de ser trans
Nila protagonizou o primeiro beijo gay em Malhação. Foto: Globo. Nila protagonizou o primeiro beijo gay em "Malhação, Vidas Brasileiras". Foto: Globo

Na época, a repercussão projetou Nila nacionalmente, a deixando entre os assuntos mais comentados na internet. E, se por um lado a cena foi tida como um marco na luta da população LGBTQIAP+, por outro lado também fez com que a atriz paraibana se tornasse vítima de assédio e ameaças, aos 18 anos.

A repercussão foi absurda, passamos mais de 8 horas nos trendings topics mundial do Twitter e minhas visualizações nas redes sociais passaram de 1 milhão de views. Eu recebi ameaças de morte de grupos de extrema-direita e sofri muito assédio naquela época, quando eu só tinha 18 anos. É a primeira vez que escrevo sobre isso, e estou dando todo esse contexto para explicitar o quanto a descriminação não vê humanidade. Quase 6 anos depois, acho que tivemos avanços, mas ainda está muito distante do que realmente seria considerado ideal para a comunidade LGBTQIAPN+", afirma.

Para além das ameaças, a participação de Nila em Malhação também possibilitou várias reflexões para telespectadores de todo o Brasil.

Em um país que é extremamente preconceituoso contra nossa comunidade, acredito que é por meio da naturalização dos nossos corpos e das nossas relações que poderemos diluir este ódio gratuito que mata tantas pessoas inocentes. E digo isso porque a minha personagem suscitou debates muito importantes sobre gênero e sexualidade, quando diariamente eu recebia mensagens de pais e mães que passaram a entender e acolher seus filhos e muitos professores que usavam as histórias da novela para aproximar a realidade dos alunos com o que estava sendo exibido. Mesmo com todo o preconceito que sofri por conta do Michael, ele terminou a novela fazendo muito sucesso e sendo um dos personagens mais amados da temporada", disse.

Nila

Depois de Malhação, várias outras portas profissionais se abriram para Nila, que na época ainda era conhecida por seu "nome morto". A mudança de nome veio somente em 2023, após um processo de autoconhecimento.

Ao Jornal da Paraíba, ela explica que a mudança aconteceu após perceber que seria "impossível continuar essa jornada atrelada à alguém que não se é mais".

Quando uma pessoa trans decide mudar o nome é porque ela já está num estágio de autoconhecimento tão forte que fica impossível continuar essa jornada atrelada à alguém que não se é mais. Hoje, eu não gosto e não quero que me chamem pelo meu nome de registro porque ele não faz mais parte do meu presente, e para que eu possa seguir sendo quem eu sou, não posso continuar associada a um nome que não me compreende mais. É preciso respeitar estes processos porque são eles que nos agregam valor humano" explicou.


				
					Protagonista do primeiro beijo gay em Malhação fala sobre desafios de ser trans
Nila interpretou Camisa em "De Volta aos 15", série da Netflix | Foto: Reprodução/Instagram. Nila interpretou Camisa em "De Volta aos 15", série da Netflix | Foto: Reprodução/Instagram

Um processo de autoconhecimento que também refletiu nos personagens que Nila tem interpretado desde então.

Na série "De Volta aos 15", da Netflix, ela dá vida a Camila, que também é uma pessoa transexual e vive o processo de transição durante a trama.

A Camila, desde o início, teve uma importância gigantesca para mim. Eu sabia a importância dessa história desde o momento em que li as primeiras versões do roteiro de De Volta aos 15. A construção narrativa dessa personagem é um exemplo para todas as produções cinematográficas que pretendem ter em seu elenco alguma personagem trans. Muito da crítica sobre a representação de personagens trans no audiovisual vem do reducionismo às questões de gênero, à marginalização e, principalmente, à desumanização dessas personagens. Por anos no cinema e na televisão tivemos pessoas cis interpretando personagens trans, uma prática conhecida como trans-fake, que se apropria das nossas narrativas e ao mesmo tempo desassecibiliza pessoas trans do mercado de trabalho", diz.

Nila se viu na história de Camila, e assim construiu um repertório que a fez se fortalecer e fortalecer outras pessoas também. Uma cena em especial, com o pai da personagem, marcou o trabalho.

Fazer essa personagem foi muito especial porque eu também estava iniciando minha transição quando comecei no projeto e pude, por meio da Camila, entender muitos processos pessoais. Muitas das vezes eu estava vivendo situações que me serviriam, mais tarde, como material emocional para construção da Camila e isso me ajudava a me aceitar e a me entender melhor. Sempre me emociono ao comentar a cena do último episódio da segunda temporada, quando o pai da Camila fala sobre não saber lidar com o que ela está vivendo, mas que está disposto a entendê-la e ajudá-la. É um exemplo lindo e positivo que vai na contramão de muitas histórias violentas que vemos sendo representadas há anos. É importante mostrar relações de amor que envolvam pessoas trans porque precisamos mostrar para a sociedade brasileira que nossos corpos não são alvos, que somos pessoas comuns com desejos e emoções e que temos o direito de expressar e assistir nossa humanidade nas salas de cinema e nas casas das pessoas", afirma.

A trajetória de Nila, e de Camila, em "De Volta Aos 15", também inspirou outras pessoas. A atriz conta que recebeu relatos de famílias que foram atravessadas pelas reflexões propostas na série.

Uma mãe me escreveu dizendo que estava assistindo a série com sua filha mais nova e que se comoveu tanto com a história da Camila que reconheceu o erro de ter expulsado sua filha travesti de casa. Ela a convidou de volta para morarem juntas e esta é a história", relata.

Novos projetos

As gravações da série "De Volta Aos 15" chegaram ao fim. Agora, em 2024, a expectativa é para os novos projetos.

Este ano farei meu primeiro longa-metragem e espero ainda poder retornar às novelas e gravar uma nova série. Também pretendo rodar meu primeiro projeto autoral, um curta-metragem que venho escrevendo desde 2021 e que também gostaria de assinar a produção executiva, já que estou estudando esta área do cinema aqui em Lisboa", disse.

Nila também está iniciando um novo momento de sua carreira, e finaliza a entrevista dizendo se sentir preparada para os novos desafios.

Acho que estou iniciando um novo momento da minha carreira como atriz, me sentindo experiente e preparada o suficiente para pegar projetos mais complexos e que exijam mais de mim. Quero desafios maiores daqui pra frente, fazer personagens que sejam mais distantes de mim e que me permitam continuar o diálogo com o público jovem mas também possa abrir novas janelas com o público adulto", finalizou.

Dia da Visibilidade Trans

O Dia da Visibilidade Trans surgiu em 2004, após uma iniciativa de mulheres trans e travestis em Brasília.

Na época, o protesto era por mais respeito. Até hoje a data marca a luta da população trans brasileira, e fecha a programação de janeiro, o Mês da Visibilidade Trans.

Imagem

Bruna Couto

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