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CULTURA

No labirinto de espelhos

Vencedor do Jabuti, Sidney Rocha recria seu romance de estreia e lança 'Sofia' em nova edição, com campanha picante na web

Publicado em 09/11/2014 às 8:00

Pierre Menard é um personagem de Borges que se debruça sobre a tarefa de recriar um romance fundador: Dom Quixote, de Cervantes. Com o seu livro de estreia, Sofia, uma Ventania para Dentro (1994), Sidney Rocha se deu a seguinte missão: ser o Pierre Menard de si mesmo.

O romance foi publicado pela primeira vez depois de conquistar o Prêmio Osman Lins em Pernambuco, Estado que acolheu este cearense natural do Juazeiro e radicado no Recife há quase 40 anos. Em 2005, Sidney modificava inteiramente a história para publicá-la pela Ateliê Editorial, em edição traduzida para o espanhol. Hoje, uma nova versão do livro vem à luz, agora lançada pela Iluminuras.

“Sempre me senti um escritor inconcluso, mas nisso não estou sozinho. O que conhecemos de Kafka hoje pode-se dizer que é algo também inconcluso. Claro que a comparação não serve para nada, nesse caso, mas o fato é que nesses anos vim alterando aquele texto, e isso já é bem visível na segunda edição”, diz o autor, ganhador do Jabuti no ano passado.

Sofia é um outro romance, inteiramente novo, mas ainda preocupado em conservar aquela atmosfera que, há vinte anos, quando a distribuição de livros no Brasil ainda era uma coisa capenga, fez seus leitores xerocarem e distribuírem eles mesmos os livros. “O maior exercício ao reescrever é recriar um livro e manter-me, ao mesmo tempo, fiel à ideia original. Sem perseguições com formas, gêneros, estilos, e continuar buscando novas experimentações para a linguagem, que é a única coisa que me interessa no ofício de escrever”, complementa.

Segundo Sidney, as mudanças atendem a uma solicitação da personagem, ela própria uma ‘camaleoa’, e à de um escritor que evoluiu e é hoje, em suas palavras, um “cinquentão com quatro décadas no ramo, com a responsabilidade de alguns prêmios nas costas, com exigências e idiossincrasias talvez demais”. Diferente de quando era jovem e acreditava que o bom mocismo não combinava com a literatura, o escritor de hoje diz querer que os seus leitores se comportem ao lerem o romance.

Difícil será aos novos leitores se comportarem, porém, com a campanha de divulgação que vem sendo feita do livro nas redes sociais. Nela, homens e mulheres aparecem em poses sensuais lendo um exemplar de Sofia. “É bom você falar disso, justo quando o Facebook acaba de censurar fotos da campanha”, ele comenta.

“É engraçado isso das redes sociais. Gente de todo lugar começa a enviar fotos, e trocar experiências, e se anima em ler e escrever sobre Sofia.”

Este ano, um conto de Sidney Rocha foi incluído na Granta 12: Libano e Síria (Alfaguara) junto com o de outro cearense-pernambucano, Ronaldo Correia de Brito. Foi o conterrâneo que fez a ponte com o editor Marcelo Ferroni, que incluiu o conto ‘Os Nehemy’, que tem origem nas narrativas que Sidney vem escrevendo para um novo romance, o primeiro desde as três Sofias e cujo título também é um nome próprio: Gerônimo.

“Eu venho escrevendo sobre guerras há alguns anos, por conta do romance e tinha algumas narrativas ligadas aos conflitos da Síria e Líbano”, explica. “Vivemos um mundo que terá cada vez mais que lidar com migrações, movimentos populacionais, e já é de sempre a questão dos êxodos, das diásporas, do mundo dos refugiados, por varias razões. E isso não é algo tipicamente nordestino, mas tipicamente humano. Meu conto, na Granta, trata dessa junção, no Brasil, de um povo em novas movimentações, a partir das suas novas gerações, num país como o nosso que, cada vez mais, precisa estar preparado para a nova geografia, o novo tempo, e discutir as questões de fronteiras com seus vizinhos de todos os continentes.”

Enquanto Gerônimo não vem, Sofia segue sua carreira, sendo o espelho de um ficcionista em transformação e dos seus leitores, os novos e os antigos, o que é, para Sidney Rocha, a verdadeira função da literatura: “Um livro serve para que as pessoas se vejam nele. Por isso Sofia funciona bem nesses anos, a cada edição. Por isso elas se emocionam com o livro tanto há vinte anos como, e sobretudo, agora."

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Jornal da Paraíba

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