CULTURA
Nos tempos do apartheid
Abordando o apartheid, livro 'Tempos de Reflexão' do escritor Nadine Gordimer é lançado no Brasil pela editora Globo.
Publicado em 31/07/2012 às 6:00
Nobel em 1991, Nadine Gordimer riscou o chão de pólvora para o boom da literatura sul-africana, estourado com o Nobel de outro compatriota seu: J. M. Coetzee, que levou a honraria mais de uma década depois, em 2003.
Com a escrita forjada em tempos de apartheid (estreou no conto em 1949, um ano após a implantação do regime sangrento adotado pelo Partido Nacional da África do Sul), Gordimer conduziu, paralelamente à sua obra como ficcionista, uma atividade competente e considerável como ensaísta.
Parte desta carreira, pontuada em periódicos internacionais como o New Yorker, New York Times,Times Literary Supplement e London Magazine, está reunida em Tempos de Reflexão (Biblioteca Azul, 512 páginas, R$ 59,90), publicada no Brasil pela editora Globo.
"Os homens não nascem irmãos; têm de se descobrir uns aos outros, e essa descoberta é o que o apartheid procura impedir", escreve a autora no ensaio mais antigo sobre o tema.
O livro está dividido em quatro décadas: dos anos 1950 aos anos 1980, e o mote racial retorna em cada uma delas com 'Censurados, proibidos, amordaçados' (1960), 'Os novos poetas negros' (1970) e 'Carta de Johannesburgo' (1980).
A recorrência mostra o vigor de sua luta contra a segregação, que inspira inclusive a belíssima foto de capa da edição brasileira, extraída da série 'Living apart: South Africa under apartheid', do fotógrafo britânico Ian Berry.
O extenso volume, no entanto, não se limita às chagas na história sul-africana, abarcando a formação literária de Gordimer que, no ensaio de abertura ('Uma infância sul-africana: alusões numa paisagem'), enumera as influências anglófonas em uma educação ministrada por um pai que chegou ao país depois de ter abandonado um vilarejo russo e uma mãe de origem estritamente britânica.
A chama crítica também é acesa com um ensaio sobre Salman Rushdie (em 'Censura - a solução final: o caso de Salman Rushdie) e a sua execução ordenada pelo Aiatolá Khomeini: "Tumultos, queima de livros, a exigência de que uma obra seja proibida em todo o mundo, editoras boicotadas, a ameça de derrubar um primeiro-ministro, cinco mortos - um livro já foi algum dia o pretexto para tal frenesi de barbárie justiceira?", indaga-se.
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