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CULTURA

O êxodo de José Chagas

Assis Medeiros e Chico César 'cantam' versos do paraibano José Chagas, que teve poemas musicalizados no disco 'A Palavra Acesa'.

Publicado em 05/03/2014 às 6:00 | Atualizado em 11/07/2023 às 12:26

Não é à toa que todos os poemas musicalizados em A Palavra Acesa de José Chagas (Saravá Disco) parecem caber tão bem em suas melodias: à parte o competente trabalho conduzido por artistas como Zeca Baleiro (que produziu o projeto juntamente com o poeta Celso Borges), o autor de cada um dos textos era também um exímio saxofonista.

"Ele não só é um poeta muito musical, com uma poesia impregnada de literatura de cordel, como também era músico e costumava levar o sax para os recitais", conta Celso, lembrando os saraus em que Chagas (hoje com 89 anos) exibia suas habilidades no instrumento.

Nascido em Piancó (no Sertão, a 395 quilômetros de João Pessoa), filho de camponeses, o poeta migrou para o Piauí e posteriormente para o Maranhão, em 1948, onde se fixou na capital, São Luís, e tornou-se um dos principais trovadores da 'Cidade dos Azulejos'.

"Os versos de José Chagas incorporaram São Luís de tal forma que sua alma passou a ser um livro daqui", define o produtor, que conheceu o mestre na década de 70, quando ingressou na literatura. "São Luís sempre foi uma musa dos poetas daqui, e o fato de ele escrever tanto sobre a cidade nos aproximou.

Ficamos muito amigos e nos frequentamos por um determinado período."

Não é a primeira vez que a obra de Chagas migra das páginas para as pautas musicais. Em 1978, o Quinteto Violado incluiu dois poemas musicalizados por Fernando Filizola e Toinho Alves no disco Até a Amazônia? Ambos estão presentes no álbum de 14 faixas: 'Palavra acesa' (que foi parar na trilha sonora nacional da novela Renascer, da Rede Globo, em 1993) ganhou versão de Zeca Baleiro; 'A palafita', acabou nas mãos da dupla Lula Queiroga e Silvério Pessoa.

Segundo Celso Borges, a escolha dos artistas que participariam do projeto se deu a partir da ligação de cada um com a obra de José Chagas e com o Nordeste. Entre os participantes, destacam-se dois paraibanos: os cantores e compositores Assis Medeiros, que interpreta 'Os canhões do silêncio', e Chico César, que interpreta 'Sobrado' em parceria com o cearense Ednardo. Os 14 textos, entre poemas e trechos de poemas, foram selecionados de cerca de 15 livros publicados por Chagas, entre eles Os Canhões do Silêncio (1979), que gerou cinco canções presentes no disco.

Uma das virtudes dos arranjos é a diversidade rítmica, com uma dicção que explora do pop (na ótima 'A cidade', com Beto Ehongue e Dicy Rocha) à sonoridade ibérica (representada por 'Noturno nº 2', cantada em dueto entre o cearense Fagner e a portuguesa Susana Travassos). A voz do próprio José Chagas pode ser ouvida em 'Poema I' e 'Poema III', extraídas de gravações feitas por Zeca Baleiro e emoldurada por uma trilha composta por ele. Tudo sem parecer um "Frankenstein", como brinca Celso Borges, e sem perder uma unidade inerente à trajetória de José Chagas.

"Foi um trabalho feito com muita alma", diz Celso. "A gente reuniu os amigos como se fizesse uma roda em volta da fogueira para celebrar um cara importante. Não tivemos patrocínio, a não ser o investimento por parte do Zeca na mixagem e na masterização. Os músicos fizeram tudo na camaradagem. É legal ganhar dinheiro em editais, mas a gente não pode se esquecer de fazer projetos com esse caráter."

A relação entre o produtor e Chico César, por exemplo, é estreita: foi ele quem apresentou o paraibano a Zeca Baleiro, antes de os dois dividirem um apartamento bagunçado que ficava em cima de uma padaria, na rua Heitor Penteado, em São Paulo. "Ele (Chico) foi fazer um programa na Rádio Gazeta e eu o conheci. Depois o convidei para fazer uma performance no lançamento de um livro meu e ele cantou 'Beradêro' só ao violão. Eu também estava na plateia do Aos Vivos, em 1994, na Sala Funarte."

O projeto gráfico do encarte ficou a cargo do artista visual Paulo César e da designer gráfica Andrea Pedro. A dupla procurou evidenciar o aspecto telúrico da poética de José Chagas: "As ilustrações do candeeiro, lamparina e da fechadura, que são palavras que estão dentro da poesia dele, foram feitas pelo Paulo César com uma terra achada em Alcântara, no interior do Maranhã", explica Celso Borges.

O capricho parece ter agradado o homenageado, que está prestes a completar 90 anos. "Na semana do lançamento, eu e o Zeca estivemos com ele, que nos deu carta branca e não tinha ouvido nada ainda", lembra Celso. "O velho ficou sem palavras.

Quando nos encontramos depois, no show de lançamento, ele já estava todo feliz e falante e nos agradeceu muito."

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Jornal da Paraíba

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