O Futuro noir de Blade Runner

Em 1968, o norte-americano Philip K. Dick (1928-1982) lançava Do Androids Dream of Electric Sheep? ('Androides Sonham com Carneiro Elétrico?', em tradução livre), romance de ficção científica sobre um caçador de recompensas que persegue androides em uma São Francisco pós-nuclear.

Morto em março de 1982 devido a um acidente vascular cerebral, o autor não chegou a ver nas telas do cinema sua obra adaptada pelas mãos de Ridley Scott (que estava vindo do sucesso de Alien - O 8º Passageiro na época). Nos créditos finais, Blade Runner - O Caçador de Androide é dedicado à memória do escritor, que chegou a ter outras histórias adaptadas como O Vingador do Futuro (1990), Minority Report: A Nova Lei (2002), O Homem Duplo (2006), entre outras.

Nesta semana, Blade Runner completa 30 anos. Antes de ser considerado hoje em dia como 'cult' ou 'clássico' da sci-fi, estreou com pouca repercussão: ET - O Extraterrestre, Jornada nas Estrelas 2 - A Ira de Khan e Tron - Uma Odisseia Eletrônica, filmes do gênero que entraram em cartaz no mesmo ano, fizeram maior sucesso comercial que o estrelado por Harrison Ford.

O longa troca a São Francisco praticamente deserta do livro para uma Los Angeles superpopulosa e chuvosa, onde milhares de arranha-céus se amontoam e não param de crescer horizontalmente. O visual retrô-futurista é inspirado nos filmes noir da década de 1950 e nas HQs como The Long Tomorrow, desenhada por Moebius (1938-2012), que trabalhou na produção de Alien e declinou ao convite para Blade Runner. A trilha sonora conta com sintetizadores do grego Vangelis (Carruagens de Fogo).

Neste clima decadente de 2019, o detetive Deckard (Ford) é convocado por seus superiores a realizar um último trabalho: 'aposentar' quatro androides desertores, denominados replicantes (entre eles, Rutger Hauer e Daryl Hannah), que fugiram após uma rebelião em uma colônia fora da Terra.

Chamados de Nexus 6, essa nova geração de androides é a mais próxima que os humanos chegaram da perfeição cibernética, com grande força e agilidade física, além de se equiparar em inteligência, apesar de terem pouco tempo de vida.

É a busca por mais longevidade que impulsionou os replicantes ao motim.

Quando o filme completou 10 anos, Ridley Scott lançou a versão 'Director's Cut', colocando uma nova perspectiva sobre o protagonista, retirando o clima 'final feliz' da fuga do caçador de androide com Rachael (Sean Young) para ensolaradas montanhas. Essa sequência foi criada a partir de sobras de filmagens de O Iluminado (1980), dirigido pelo Stanley Kubrick (1928-1999).