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CULTURA

O inferno que leva ao céu

O ano de 1991 foi muito importante tanto para o U2, quanto para o Pearl Jam. Foi um ano para se reinventar: os irlandeses precisavam se reinventar para não acabar; já os americanos precisavam se reinventar para começar.

Publicado em 29/01/2012 às 8:00


O ano de 1991 foi muito importante tanto para o U2, quanto para o Pearl Jam. Foi um ano para se reinventar: os irlandeses precisavam se reinventar para não acabar; já os americanos precisavam se reinventar para começar. Este é o ponto de partida para dois documentários distintos sobre os dois grupos de rock, ambos lançados ano passado e que saem agora em DVD no Brasil.

From the Sky Down (Universal Music, R$ 49,90) é o filme que aborda os percalços do U2 até a criação de seu mais notável disco até hoje: Achtung Baby. Conduzido pelo diretor Davis Guggenheim (Uma Verdade Inconveniente), o filme leva Bono, The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen Jr de volta ao Hansa Studios, na Alemanha, 20 anos depois de terem entrado lá para conceber o disco que daria a guinada na carreira do grupo.

O longa, de concisos 85 minutos, não é o mero making of do disco, que emplacou faixas como 'Even better than the real thing', 'One', 'The fly' e 'Mysterious ways'. Parte do pressuposto de que, para entender a sonoridade de Achtung Baby, é preciso saber o que aconteceu, de fato, com o U2 antes dele. E o que aconteceu foi um inferno.

Endeusados na América, após gravar o celebrado The Joshua Tree (1987), o U2 sentiu-se grande, gigante, megalomaníaco, a ponto de encomendar seu próprio filme, Rattle and Hum (1988), que acabou sendo execrado pela crítica. O grupo passava de banda de clubes para banda de arena e, segundo seus integrantes, isso foi um verdadeiro inferno.

“Todas as noites, quando saímos do palco, fazíamos o balanço, e tínhamos a mesma sensação catastrófica e derrotista de que não éramos bons o suficiente”, descreveu o baixista Adam Clayton, rememorando aqueles dias. A narrativa diz que, a partir daí, o quarteto pensou em desistir. Para piorar, o guitarrista passou por uma separação que, segundo Bono, abalaria todos os integrantes.

Os quatro vieram a se reintegrar na Alemanha, num período em que o próprio país passava por sua reunificação, com a queda do Muro de Berlim. Lá, encontraram o ambiente e as pessoas para conseguir trilhar um caminho novo, diferente do que experimentara até então, com o pé na música eletrônica e conceitos audiovisuais arrojados, para disco e shows.

O filme colhe depoimentos dos quatro integrantes, mais os técnicos envolvidos na produção do Achtung – entre eles os produtores Brian Eno e Daniel Lanois, mais o engenheiro de som Flood. Também tem voz ativa o empresário de longa data do U2, Paul McGuiness, que - fica-se sabendo nos créditos finais - é produtor executivo do filme.

From the Sky Down é muito bem conduzido e o U2 cativa. Há cenas nunca vistas de Rattle and Hum, imagens dos bastidores de Acthung Baby e a gravação feita com o U2 no ano passado, na volta ao Hansa. Nessa costura, há bons momentos. O U2 tenta até se expor, mas não a ponto de queimar o filme (ou não da maneira como o Metallica lava roupa suja em Some Kind of Monster, de 2004).

O tom de elegia ao U2 atrapalha um pouco, mas é nitidamente calculado para arrancar suspiro dos fãs, vide a mitificação exagerada do processo de composição do hit ‘One’, que poderia render um momento mais didático e menos babão.

A edição vendida por aqui, no entanto, é um teste à paciência do consumidor: não traz legendas em português do Brasil, mas português de Portugal. Então ao apertar ‘play’, é bom saber que ‘digressão’ significa ‘turnê’.

Além do filme, o DVD traz três números gravados em 2011, dois com Bono (‘The fly’, ‘So cruel') e um com The Edge (‘Love is blindness’, inspirada na separação do guitarrista).

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Jornal da Paraíba

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