CULTURA
O João que vê no escuro
João Batista de Brito saiu da poltrona de espectador para ser protagonista do documentário O Homem que Vê no Escuro.
Publicado em 25/10/2013 às 6:00 | Atualizado em 18/04/2023 às 17:25
O crítico de cinema mudou de cadeira. João Batista de Brito, que "escorregou do útero para a sala de projeção", como ele mesmo diz, saiu da poltrona de espectador para ser protagonista do documentário O Homem que Vê no Escuro. O longa-metragem, com produção, roteiro e direção de Mirabeau Dias, será lançado hoje no auditório do Zarinha Centro de Cultura, às 19h.
Mirabeau explica que o filme é uma homenagem que mostra vários lados da vida de um dos maiores críticos de cinema da Paraíba. “O documentário conta a vida biograficamente e a parte educativa que ele faz sobre o cinema. É um filme simpático sobre a vida do homem e do crítico”, afirma.
O título - O Homem que Vê no Escuro - refere-se à penumbra do cinema e ao olhar de João Batista, que enxerga nas sombras as nuances das narrativas cinematográficas.
O filme é baseado em entrevistas longas e conta com a participação dos jornalistas Renato Félix e Astier Basílio, do professor da UFPB Luis Antônio Mousinho, além do próprio Mirabeau. Os coadjuvantes ajudam a construir a imagem do protagonista retratando aspectos do ofício, do estilo pessoal, conceitos ideológicos, psicológicos e até afetivos.
Com as entrevistas constrói-se a história de vários Joãos. O ser humano, o escritor e o pensador do cinema. O diretor afirma também que o documentário retrata um lado oculto de João: o desenhista.
São relatados detalhes pessoais, como o primeiro filme que viu, mostrando livros que o crítico leu, pessoas que o influenciaram e sua maneira de interpretar o cinema.
Depois da exibição do documentário, haverá um espaço para debate informal com o diretor Mirabeau Dias e o próprio João Batista, em que o público também poderá participar.
O filme já foi exibido em sessão especial, em dezembro de 2012, no cinema da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope), como parte das celebrações do Dia Internacional do Cinema, evento organizado pela Academia Paraibana de Cinema.
PERSONAGEM X CRÍTICO
A troca de lugar para João Batista foi agonizante. “É perturbador. Incomoda. É muito estranho passar a ver a si mesmo na tela.
Estou acostumado a ver os outros”, comenta. A troca de lugar rendeu algumas pilhérias entre os amigos. “Depois da sessão na Funjope, um amigo perguntou ‘vai escrever sobre o filme?’, e eu disse ‘jamais, jamais!”, lembra Batista, que todas as quintas-feiras fala sobre cinema na rádio CBN.
Porém, João Batista fez justiça a seu lado crítico e soltou um leve comentário cinematográfico. “A opinião que posso dar vai ser suspeitíssima. Mas adorei o filme, é super bem feito e muito criativo. Mirabeau não se limitou ao realismo. Ele inventou, ele me misturou com a história do cinema”.
João compara a intervenção cinematográfica na sua vida como uma agradável ousadia. “Ele deu uma de Bergman: ele se meteu na minha vida. Foi muita ousadia da parte dele”, brinca o crítico.
Mas, a apesar da tensão de ser personagem, o crítico revela que foi uma experiência muito interessante. “É uma oportunidade de você ver seu trabalho registrado. Mirabeau pegou várias facetas da minha vida, meu lado íntimo, o biográfico e o meu lado crítico”.
Para dar ênfase à paixão de João Batista pelo cinema, o documentário brinca com personagens e filmes clássicos.
A brincadeira fica um pouco séria quando James Stewart (Janela Indiscreta) reclama de João para Hitchcock dizendo que ele só fala sobre cinema. “Eu devo ter ficado morrendo de medo. Hitchcock é muito brabo”, disse, entre risos.
Mas João também se vangloriou pela bronca: “Foi curtinha. Só não foi muito boa por que foi um carão. Mas eu tenho vários amigos que adorariam receber uma bronca de James Stewart”, brincou o crítico.
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