CULTURA
O mundo é uma Sbornia
Encenado pela dupla de atores gaúchos Hique Gomez e Nico Nicolaiewsky, espetáculo 'Tangos & Tragédias' inaugura o Teatro Facisa.
Publicado em 28/11/2012 às 6:00
Os músicos Kraunus Sang (violino) e o maestro Plestkaya (acordeon e piano) fogem do seu país de origem – Sbornia – após a chegada do rock’n'roll no local e se refugiam no sul do Brasil.
Esse é o mote de Tangos & Tragédias, misto de musical e show de comédia, que inaugurará hoje o Teatro Facisa, em Campina Grande, às 18h30.
O espetáculo é encenado pela dupla de atores gaúchos Hique Gomez e Nico Nicolaiewsky que comandam uma série de interações com o público. O texto de Tangos & Tragédias é de autoria dos dois e foi interpretado pela primeira vez em 1984.
Desde lá, não pararam. O espetáculo está há mais de 20 anos sendo apresentado no Brasil e exterior.
“(O texto) era mais agressivo, personagens morriam, corações pululavam no chão, bombas explodiam na plateia", comenta Hique Gomez ao JORNAL DA PARAÍBA. "Tínhamos uma vivência forte com a contracultura e dialogávamos com os movimentos como o punk. Com o tempo, nosso público foi se ampliando com mais famílias, idosos e crianças, e o espetáculo foi se tornando mais leve”.
O ator e músico explica que a peça possui um olhar crítico sobre a indústria cultural, embora o objetivo maior seja fazer o público refletir a partir do divertimento. “No ‘boom’ do rock nacional fizemos este espetáculo, que vai na contracorrente da tendência do mercado na época. Ainda existiam as gravadoras e nós não gostávamos do tipo de negócio que elas ofereciam”, analisa.
A história cita um país fictício com folclore, sistema político e moedas próprias, que se descolou do continente após sucessivas explosões nucleares e agora vaga pelos oceanos.
Entre as músicas que fazem parte da tradição cultural da Sbornia estão o 'Copernico' e a 'Aquarela da Sbornia'.
Hique conta que as características dos personagens foram surgindo no decorrer das apresentações. “Passamos a dar entrevistas como Kraunus e Pletskaya. Os jornalistas nos perguntavam de onde vinha o sotaque e começamos a criar o passado deles improvisando. O sotaque se ouve muito no interior do Rio Grande do Sul e outros estados. São brasileiros, italianos, poloneses, alemães, judeus, argentinos, árabes, enfim: uma Sbornia”.
Em 28 anos de estrada, o Tangos & Tragédias já excursionou por vários países, contando com uma versão em língua espanhola – com todos os textos e músicas traduzidos.
“Em Buenos Aires bloqueamos o trânsito da avenida Corrientes na saída do espetáculo. Na Espanha, em Cádiz, tocamos num teatro muito antigo de estilo árabe. Quando saímos pra rua, o público aplaudia em estilo flamenco, assim o fazem quando gostam muito, e gritava ‘Bah!’. Um delírio”, relembra Hique Gomez.
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