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CULTURA

O poeta e o seminarista

Escritor e Jornalista Carlos Heitor Cony encerra nesta sexta-feira (31) na Usina Cultural Energisa, a mostra 'Augusto das Letras' .

Publicado em 31/08/2012 às 6:00


Carlos Heitor Cony ainda era capaz de se enxergar dentro de uma batina rezando missa quando conheceu, em uma aula de Português e Literatura no Seminário Arquidiocesano de São José, em Rio Comprido (RJ), a poesia de Augusto dos Anjos.

Os versos do poeta, que chamaram a atenção do jovem seminarista por falarem de morte e decomposição, eram escritos na lousa junto com os do famoso simbolista Cruz e Souza.

"O professor incluiu equivocadamente Augusto dos Anjos entre os simbolistas. Augusto foi, sem dúvida, pré-moderno. Seu universo poético está incluso em várias manifestações modernistas, apesar de ninguém, até hoje, ter conseguido superar seu estilo", afirma Cony, em entrevista ao JORNAL DA PARAÍBA.

O escritor encerra hoje o Augusto das Letras na Usina Cultural Energisa, às 21h. Dialogam com ele o presidente da Academia Paraibana de Letras (APL), Gonzaga Rodrigues, e a escritora e jornalista Fernanda Melo. Está prevista ainda na programação de encerramento uma apresentação musical da Banda Municipal 5 de Agosto, sob a regência do maestro Rogério Borges.

No diálogo, Cony vai destacar o 'Poema negro', um dos longos poemas do Eu que fecha com a seguinte frase: "Daqui por diante não farei mais versos". "Mas continuou fazendo", diz Cony, entre risos. "Ainda bem, porque minha edição do Eu está em frangalhos".

Segundo o escritor, que é também jornalista, comentarista da Rádio CBN e colunista da Folha de S. Paulo, onde participa do conselho editorial, a leitura é, entre as várias atividades que desempenha, a que mais lhe dá prazer.

"Agora que estou com a idade avançada estou fazendo uma releitura dos livros que li ao longo da vida. Só leio romances antigos. Hoje, se alguém escrever o novo Dom Quixote ou a nova Divina Comédia, infelizmente, eu não vou tomar conhecimento", brinca.

ZÉ LINS: O MELHOR
Nesta retomada de seus livros de cabeceira, Cony declarou que tem visitado a Paraíba constantemente: "Sou leitor fiel de Zé Lins.

Da turma modernista, aquela santíssima trindade formada por ele, Rachel de Queiroz e Graciliano Ramos, é o que considero o melhor. Houve uma época em que tinha o projeto de escrever uma obra sobre ele, que não conheci em vida, mas que é um personagem aqui no Rio de Janeiro: todos os meus amigos foram amigos dele de campo de futebol. Tenho inclusive uma ótima relação com a família".

Cony confessa que veio três vezes ao Estado com a finalidade de colher material para o livro, que seria uma biografia fartamente documentada sobre a trajetória literária do menino do Engenho Corredor.

O ingresso na Academia Brasileira de Letras (ABL), no ano 2000, porém, atrapalhou os planos: "Eu era novo na Academia, veja você, e me colocaram justamente no júri de um concurso para eleger o melhor entre cinco livros escritos sobre José Lins do Rego. Evidentemente, eu não iria concorrer em um concurso que me tivesse como jurado".

Engenho e Memória - O Nordeste do Açúcar na Ficção de José Lins do Rego (TopBooks), de Luciano Trigo, foi o livro agraciado com o Prêmio José Lins do Rego, em 2001, no centenário do paraibano. Hoje, mais de uma década depois, Carlos Heitor Cony rejeita a possibilidade de retomar o projeto da biografia: "Não tenho mais saúde para isso", justifica o carioca de 86 anos que participou da Bienal do Livro de Brasília (DF), em abril, em uma cadeira de rodas.

"Estou com dificuldades de locomoção. Não vou ao Petit Trianon desde a volta do recesso da ABL, em março", lamenta o escritor, uma das figuras mais assíduas no tradicional chazinho das cinco da Academia Brasileira de Letras.

ARIANO NO NOBEL
Apesar de ausente entre os imortais, Cony diz que nutre uma relação bastante "agradável e compensatória" com os acadêmicos e manifesta o apoio à candidatura de Ariano Suassuna ao Nobel de Literatura este ano: "Eu engrosso estas fileiras que querem dar o Nobel a Ariano. Ele é um grande amigo".

Nos telefonemas com a cúpula da instituição, tenta convencer a ABL a emplacar uma programação em homenagem ao centenário do Eu, a exemplo das celebrações que marcaram os 100 anos de Jorge Amado e Nelson Rodrigues, este mês.

"A identidade de Augusto dos Anjos é nacional. Ele não é um fenômeno nem da Paraíba, nem de Minas Gerais, nem do Rio de Janeiro, onde ele também morou um tempo. A minha impressão é que, apesar de não ter a popularidade de um Castro Alves ou de um Olavo Bilac, ele atinge o público inteiro, tendo devotos em todos os cantos do Brasil".

PÉS NO FUTURO
Também lido em todo o país, cuja imprensa republica suas crônicas em série, Carlos Heitor Cony prepara-se para dois lançamentos futuros: JK e a Ditadura (240 páginas, R$ 39,00), publicado pela editora Objetiva, e Chaplin e Outros Ensaios, originalmente publicado pela Civilização Brasileira, em 1965, e reeditado pela TopBooks.

Sobre o mercado editorial, Cony desabafa: "Eu não tenho espírito competitivo. A minha obrigação é com o que eu gosto de escrever. O problema da repercussão é dos outros. Tenho uma fortuna crítica bastante numerosa. Em termos de bom e mau, ando meio a meio. Tem resenhas muito boas feitas pelo (Otto Maria) Carpeaux e pelo (Paulo) Rônai. Tem gente que me detesta, mas faz parte da vida. Até Shakespeare foi considerado medíocre, então imagina o resto. Escrevo aquilo que quero e escrevo para mim. Não penso no público, muito menos na crítica. Não penso no cinema, no teatro, nem no leitor. Só me sinto realmente eu quando estou falando aquilo que quero".

OLHAR NO PASSADO
Quando convidado a olhar para o passado, Cony recorda-se da ocasião em que esteve preso com o poeta Thiago de Mello (que esteve na Paraíba em junho e participou da Bienal do Livro de Brasília junto com Cony): "Fui preso seis vezes depois de 1964.

Nunca fui político ou me considerei político, mas naquele ano eu tinha uma coluna no Correio da Manhã e fui o primeiro e durante um tempo o único a escrever contra o regime. Como era completamente alienado, entrei com um tom panfletário e agressivo que me valeu um processo do Costa e Silva. Fui condenado a seis meses de prisão e cumpri pena por criar uma animosidade entre civis e militares. Minha casa foi depredada, minhas filhas quase sequestradas. Mas nunca sofri tortura", finaliza o relato.

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Jornal da Paraíba

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