O que acontece por trás do céu

“Nosso filme é como um Amélie Poulain sertanejo”, descreve o ator Emílio Orciollo Neto, que atuará e coproduzirá o 3° longa-metragem do diretor e roteirista Caio Sóh, Por Trás do Céu, que será rodado em abril na Paraíba. “Quando li o roteiro, uma das coisas que mais me chamou atenção era que o filme é uma grande fábula sertaneja. É uma história que acaba se misturando em um universo muito onírico”.

Junto com o produtor Denis Feijão, Orciollo e Sóh estão no Estado para a pré-produção do filme, captando recursos e visitando as locações, que serão em João Pessoa e no Lajedo de Pai Mateus, em Cabaceiras, no Cariri paraibano.

“Instrumentei o roteiro para o teatro, comecei a instrumentar como um romance e agora estou deslocando para o cinema porque acho que é o lugar que ele cabe mais”, justifica o realizador carioca.

Além de Emílio Orciollo Neto, o elenco conta com Nathalia Dill (Paraísos Artificiais) como a protagonista, o cearense Gero Camilo (Carandiru) e a paraibana Mayana Neiva (Infância Clandestina).

“Por Trás do Céu se trata da desconstrução do sonho impossível”, resume Sóh. “Aparecida é uma mulher que mora no nada, que parece vazia, mas é muito sonhadora. Ela começa a se questionar para Deus porque nasceu ali, escondida de tudo. Um dia, ela vê em uma revista um foguete e decide construir um ali, no meio do nada, no meio do Sertão”.

Orciollo interpretará Edvaldo, marido de Aparecida que vai apoiá-la no projeto da construção do foguete para descortinar o céu. “É um cara que vive para o trabalho e para a esposa”, explica o ator. “Ele quer que os sonhos dela virem realidade, mas também quer que ela volte para casa. Apesar de ser uma pessoa ignorante – no sentido de não ter acesso à cultura –, ele a ama tanto que lhe dá o livre arbítrio”.

Uma das conexões dos protagonistas com a ‘cidade grande’ reside em Micuim, papel reservado a Gero Camilo, ator que sempre estava focado na imaginação do diretor quando escrevia o roteiro.

“Micuim é o personagem que a gente encontra no Rio de Janeiro ou em São Paulo que veio do Nordeste”, compara Caio Sóh. “Aquela pessoa solta, meio maluquinha, que sai do Nordeste com outro pensamento e uma outra inocência. É o personagem divertido da história que fica circulando entre os dois universos”.

Já Mayana Neiva fará a prostituta Valquíria no longa. “Mayana faz um símbolo da cidade, com essa doença, essa grande quantidade de informação, de poluição mesmo”, descreve o realizador. “Uma pessoa que já viu de tudo nessa vida, o oposto da Aparecida. Tem esse conflito de uma que está cansada da vida, de tanta dor e tanta experiência e outra que não viu nada, que é a inocência em pessoa, que está pronta para querer voar”.

Quando foi escolhido a Paraíba como cenário, Sóh afirma que o nome de Mayana Neiva veio na sua cabeça na hora para trazer mais informação e mais ‘raiz’ para o filme.

O diretor revela que chamou também Caco Ciocler para fazer uma participação especial e que está negociando com outros atores paraibanos.

UM CÉU EM 3D
Tratando de cenários oníricos fora das filmagens, para Caio Sóh e o produtor Denis Feijão rodar na Paraíba é a realização de um sonho.

“Sempre remeti muitas coisas que escrevi ao Nordeste. Desde moleque eu tenho essa vontade de conhecer esse universo do Sertão de uma forma mais poética, com as referências que sempre tive das pessoas que conviveram comigo nesse meio Rio-São Paulo”, conta o diretor. “Esse filme não é da Terra, ele é do céu. O céu daqui é em 3D, uma coisa impressionante. Minhas escolhas pro filme de planos agora é partindo do céu. Eu estou até melhorando a história”.

Caio Sóh relembra também que seu 2° longa, Minutos Atrás, – lançado no ano passado, mas escrito desde 2001 – não pôde ser rodado no Nordeste e acabou sendo filmado no interior do Rio de Janeiro.

“A Paraíba veio como a realização de um sonho também para Denis Feijão, que sempre trabalhou com o Walter (Carvalho, realizador e diretor de fotografia paraibano)”.

“O céu é um dos protagonistas. Ele é o que rege o nosso filme”, aponta Orciollo Neto. “E também tem um olhar que não é pobre, de miséria ou seco. Vai muito além disso: é um olhar esperançoso. O filme tem um sentimento de mostrar o outro lado do Sertão, fugindo dos seus estereótipos”.

“Desafio” é a palavra-chave para o paulista Denis Feijão, que está produzindo Por Trás do Céu através da sua Elixir Entretenimento.

“Hoje a gente se encontra nessa fase de pré-produção. Temos o apoio da Prefeitura de João Pessoa e Governo do Estado através das suas secretarias, mas a gente está nessa batalha de juntar mais algumas peças para fechar o universo financeiro do filme”, confessa. “Fazer cinema no país não é fácil, mas a gente tenta sempre transcender essas imposições do mercado. O filme do Caio é diferenciado, trafegando entre o ‘cool’, a arte e o comercial”.

De acordo com Denis Feijão, a luta também se destina a quebrar o sistema, não restringindo os filmes nacionais apenas aos festivais ou rendidos na mão da distribuição.

Um dos exemplos positivos apontados por ele é o drive-in da Estação Cabo Branco, em João Pessoa. A primeira exibição aconteceu em setembro do ano passado com o documentário Raul - O Início, O Fim e O Meio, uma produção sua para a direção do mestre e amigo Walter Carvalho. “São aparelhos como o drive-in que faz com que o cinema vá às pessoas, provendo o acesso”.