CULTURA
O teatro da discordância
Fundadora do grupo vencedor de dois prêmios, que juntos somam mais de R$ 600 mil, foi consultora em etapa de seleção.
Publicado em 08/02/2012 às 6:30
Divulgado na quarta-feira passada, o resultado do Programa Cultural das Empresas Eletrobrás 2012 semeou uma polêmica entre os profissionais da área teatral na Paraíba.
O edital, que aprovou dois projetos do grupo Ser Tão Teatro, tinha Christina Streva como uma das consultoras em sua etapa de seleção. A dramaturga carioca é uma das fundadoras do grupo, que atua desde 2007 nos palcos paraibanos.
O assunto foi pauta de uma reunião realizada anteontem pelo Fórum de Teatro de João Pessoa, em um dos encontros que, segundo seus articuladores, obteve maior quórum.
Os projetos que evolviam o Ser Tão Teatro foram contemplados nos segmentos de 'Festival de Teatro' e 'Produção de Teatro Adulto'.
O primeiro, aprovado com um valor recomendado de maide R$ 100 mil, diz respeito à realização da 4ª edição da Mostra de Teatro de Grupo, evento que o Ser Tão promove desde 2008. O segundo, com um valor de R$ 510 mil, trata-se da montagem Gota d'Água no Sertão.
Christina Streva participou com a crítica de arte Ana Luisa Lima como consultora na área de 'Circulação de Espetáculos Teatrais', segmento inédito do edital que destinou R$ 21,5 milhões à cultura este ano.
A Eletrobrás, por intermédio de sua assessoria de imprensa, declarou ao JORNAL DA PARAÍBA que o Programa Cultural das Empresas Eletrobrás só proíbe a “participação de integrantes da comissão" na "modalidade em que o integrante participou como consultor".
A questão, portanto, não se configuraria como um problema ético, já que Christina Streva participou de uma modalidade diferente daquelas nas quais os projetos do Sertão foram aprovados.
Os membros do Fórum de Teatro discordam: "O edital não é tão específico assim", afirma Daniel Porpino, um dos seus articuladores. "Ele diz que é vedada a inscrição de projetos a 'integrantes das comissões de seleção e profissionais envolvidos nos processos de seleção do programa', sem discriminar a área", conclui, citando um trecho do referente edital, aberto em novembro de 2011.
Por telefone, Streva lembrou que foi convidada para a consultoria já na etapa de seleção dos projetos, depois que os mesmos foram inscritos. A dramaturga sabia da existência dos projetos do Ser Tão, e chegou a questionar a presidência da Eletrobrás quanto às possíveis implicações éticas de seu nome constar na ficha técnica dos projetos.
"Eu estou muito triste com esta situação mas, ao mesmo tempo, tenho minha consciência tranquila, já que a própria Eletrobrás me garantiu que não haveria consequências. Não tive acesso a nenhum outro consultor e a nenhum outro projeto fora de minha área de consultoria", contou Streva.
Representada na reunião do Fórum de Teatro por Isadora Feitosa, atriz do Ser Tão Teatro, Streva enviou uma nota explicando o ocorrido aos colegas.
O fórum volta a se reunir na próxima semana para aprovar um ofício que será encaminhado à imprensa, à Eletrobrás e à Presidência da República, por se tratar de um edital federal.
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